Toda a gente, todos os meios de comunicação falam, opinam e apostam (cagam postas), regozijam-se ou revoltam-se com o que se está a desenhar e a passar em termos de um mundial e juvenil encontro.
Por um lado é algo de fatalmente importante, com a presença do Papa em simultâneo com milhões de jovens de todo o mundo, o que parece fazer vir a incidir as atenções do Universo inteiro neste cantinho da Europa. Que, segundo fontes oficiais políticas e ecuménicas, trará repercussões e retornos monetários, com uma entrada extraordinária de divisas no país.
Por outro lado, as sumptuosidades dispendiosas que aquele evento (nos) parece vir a custar, ainda não completamente transparentes, sequer translúcidas, parecem pôr uma maioria de pessoas – crentes incluídos – num sentimento comum de raiva e repulsa pela exorbitância de custos, nomeadamente a construção de um palanque enorme, para além de toda a complexidade das infraestruturas imprescindíveis a eventos desta natureza. Isto num país de enorme pobreza, em termos de boa parte dos seus habitantes.
Já agora: no Rock-in-Rio, por exemplo, paga quem lá quer ir – é um investimento particular,. sujeito às leis do mercado e do negócio. Quem não tem paciência para lá ir vibrar e viver aqueles momentos, fica em casa e nada de seu lhe é descontado para o efeito.
Ainda ontem li um interessante texto, um artigo de fundo e de opinião sobre este acontecimento, do ponto de vista – embora consciente e respeitador – de alguém que não é religioso.
Até agora ainda não vi ninguém em meios mais alargados, como a televisão, referir-se ao Encontro, de um ponto de vista diferente do das hostes mais ou menos religiosas que por ali aparecem a falar do assunto.
Ora, como ateu praticante que sou e recordando que “Portugal é um Estado laico, não confessional, onde vigora a liberdade de religião e de crença e em que as igrejas e outras comunidades religiosas se encontram separadas do Estado” – e onde afinal até se diz mal, a torto e a direito do islamismo árabe, por exemplo (o que é de certo modo injusto, já que são minoritários, num país de católicos) – como ateu que sou, tenho a minha opinião sobre toda esta anedota que se está a passar e vai continuar folhetim até oficial e finalmente começar.
A não ser que entretanto arranjassem um local discreto, simples e em saldo, para um Papa discreto e simples – ainda que interventivo. Aliás, a direita religiosa nem o pode ver…
O “estado laico” estende-se aos usos e costumes musicais, como se sabe. Ninguém é obrigado a chupar com fados ou roqueiros de segunda, era o que faltava. Vai se quiser e paga se quiser.
Se quiser – o que não é o caso. Eu pago, tu pagas, ele paga… E a Igreja, inspiradora destas melopeias… népia.
Na minha opinião minoritária, tudo isto, toda esta farsa, é de uma baixeza, de uma imbecilidade, irresponsabilidade e contradição. Contradição com os valores que ainda assim a Igreja possa e deva ter. O Papa vai rezar por toda a gente, pela miséria, pela fome e pela guerra, como sempre o faz em qualquer lado e em qualquer posição, num banho e mergulho naquela multidão obscura e ululante, ainda por cima maioritariamente constituída por jovens, que deviam ter mais que fazer, em que pensar e com que se preocupar, do que com estas palhaçadas beatas sem sentido.
Durante uns tempos, em termos de informação, não vai haver guerra, nem falta de médicos, nem de professores. Possivelmente até nem futebol – sabe-se lá, embora tal coisa pareça um sacrilégio.
E a sacanagem fará talvez uma pausa, género “Pedimos desculpa por este interrupção. A corrupção segue dentro de momentos”.
Os empresários hoteleiros esfregam já as mãos de contentes (até vêm à televisão mostrar o seu regozijo). Os portugueses de meia tijela, com casas de meia tijela, em bairros populares de meia tijela, vão arrecadar umas massas a alugar quartos, quartinhos, corredores e despensas. As tascas e restaurantes enchem como nunca e todos ficam felizes. Beatos e anfitriões. Governo, Câmara e Padralhada.
Só faltará saber – e vai levar imenso tempo (até nos vamos esquecer) – quando e de quanto será o tal fabuloso retorno que o Moedas & Cª asseveram, felizes e encantados.
E tudo isto, todo este investimento, todos este negócio, toda esta tontaria, em nome da religião católica, da juventude católica? Com a felicidade do beato Marcelo, com a conversa de chacha do Moedas, mais a hipocrisia do Costa e a felicidade da Direita com os gastos estratosféricos, para poder dizer mal?
E o Papa? O que é que ele pensará? Nunca o irá dizer, bem educado e discreto como é. Dirá Ámen, quando muito…
Nem sequer fica tudo na mesma. Ficamos todos mais tesos e com um mono enorme e feio ali plantado no meio do nada. Quase como os estádios de futebol erigidos há uns anos para um campeonato mundial qualquer e que jazem para ali ao abandono.
Mas isso é uma outra secção da nossa religiosidade.
Carlos