Nota de editor
Inicialmente concebidos num contexto de uma série de maior dimensão e complexidade analítica – Neoliberalismo, Pensões por capitalização e Instabilidade Social e Política –, optou-se por publicar de imediato os textos respeitantes ao troço “O Reino Unido no centro do furacão criado pelo neoliberalismo”, uma vez que, conforme diz o autor da série, Júlio Marques Mota, “… o que neles se escreve não é diferente do que poderá ser escrito sobre qualquer outro país europeu neste momento”, podendo mesmo fornecer “… uma ótima grelha de leitura sobre a realidade atual e atrevo-me mesmo a dizer sobre o futuro próximo que aí vem” (ver aqui “Hoje faço 80 anos… tempos difíceis, o vinho que não bebi e que nunca procurei beber”).
Este é o sétimo dos doze textos que compõem a parte I da série “O Reino Unido no centro do furacão criado pelo neoliberalismo”.
FT
Seleção e tradução de Júlio Marques Mota
3 min de leitura
Texto 7. A análise BIS lança luz sobre riscos persistentes nas transações em divisas e de dívida em dólares escondida – Relatório Trimestral BIS
Comunicado de imprensa de 5 de Dezembro de 2022 (ver aqui e depois aqui)
- Uma nova análise do BIS do Inquérito Trienal dos Bancos Centrais de 2022 revela alterações nos padrões e estrutura nas transações de divisas e dos mercados de derivados sobre taxas de juro negociados fora da bolsa, ditos OTC, identificando riscos que merecem atenção.
- As posições de swaps de câmbios revelam mais de 80 milhões de milhões de dólares de dívida em dólares declarada fora do balanço.
- O volume de transações diárias de divisas com risco de liquidação permanece decididamente elevado, apesar da presença de mecanismos para mitigar esse risco.
O Banco de Compensações Internacionais (BIS) publicou hoje novas perspetivas sobre os mercados globais de divisas (FX) e de derivados sobre taxas de juro fora da bolsa (OTC). No seu Relatório Trimestral de Dezembro de 2022, o BIS fornece uma análise aprofundada do recente Inquérito Trienal, que tem por objetivo ajudar os bancos centrais e os participantes no mercado a monitorizar os mercados financeiros mundiais. Os autores examinam as mudanças nos padrões de comércio e estrutura do mercado, e identificam os riscos que merecem particular atenção.
Os novos dados mostram que todos os dias, 2,2 milhões de milhões de dólares de transações cambiais estão expostos a riscos de liquidação que podem prejudicar a estabilidade financeira. O risco de liquidação em transações cambiais (FX) é caracterizado por uma situação em que uma contraparte de uma transação cambial faz um pagamento à outra parte, mas não recebe a moeda comprada. Isto pode resultar em perdas significativas para os participantes no mercado. Segundo os autores Marc Glowka e Thomas Nilsson, os montantes em risco em Abril de 2022 representavam cerca de um terço do total dos volumes FX entregáveis, e eram superiores aos 1,9 milhões de milhões de dólares de há três anos atrás.
O inquérito também destaca o crescimento de empréstimos em dólares fora do balanço sob a forma de swaps de divisas, contratos a prazo e swaps de juros e de divisas. Claudio Borio, Robert McCauley e Patrick McGuire explicam que atualmente, as futuras obrigações de pagamento associadas a estes instrumentos são equivalentes a mais de 80 milhões de milhões de dólares a nível mundial. No entanto, como estas obrigações não estão incluídas nos balanços, não estão refletidas nas estatísticas habituais da dívida.
A análise do BIS da Pesquisa Trienal continua a revelar partes dos mercados financeiros mundiais que de outra forma passariam despercebidas”, diz Claudio Borio, Chefe do Departamento Monetário e Económico. A riqueza destes dados permite-nos identificar tendências que são importantes para os decisores políticos, investigadores e participantes no mercado. Em particular, existe um enorme volume de dívida em dólares parcialmente escondida fora do balanço, e o risco de liquidação em transações cambiais permanece decididamente elevado.
Claudio Borio, Chefe do Departamento Monetário e Económico
O Relatório Trimestral de Dezembro inclui também a habitual análise dos desenvolvimentos recentes nos mercados financeiros. Nesta edição, o BIS observa que a luta dos bancos centrais contra a inflação continuou a dominar a atenção dos investidores durante o período em análise, no período de análise desde setembro a quase final de novembro, tendo como pano de fundo os riscos de crescimento. Até meados de outubro, os rendimentos soberanos a curto prazo aumentaram devido ao esperado aumento das taxas diretoras, o que pesou sobre os ativos de risco e apoiou o dólar americano. Após a divulgação de números de inflação inferiores ao esperado em novembro, as ações compensaram as suas perdas e o dólar, após ter atingido os seus níveis mais elevados em décadas, voltou a cair em relação à maioria das outras moedas, à medida que o mercado reavaliava em baixa o grau necessário de contração monetária, em última análise, para conter a inflação.
No início deste ano, o dólar forte, juntamente com os preços elevados das mercadorias, foi um duplo golpe para muitos países em dificuldade com a inflação nas suas moedas locais. A recente depreciação do dólar pode aliviar algumas destas pressões.
Hyun Song Shin, Conselheiro Económico e Chefe de Investigação.
Outros estudos analisam os mercados de derivados sobre taxas de juro, o risco de negociação e liquidação de divisas em economias de mercado emergentes:
- Em No mundo pós-Libor: uma visão global das estatísticas de derivados do BIS, Wenqian Huang e Karamfil Todorov mostram como a passagem da LIBOR para taxas “quase sem risco” levou a mudanças estruturais nos mercados de derivados de taxas de juro OTC. A reforma das taxas de referência levou a alterações significativas na combinação de instrumentos, distribuição geográfica e composição monetária dos volumes de derivados de taxas de juro OTC. Reduziu alguns dos riscos associados à LIBOR, mas criou outros riscos.
- Em “No mercado cambial global num ambiente de maior volatilidade”, Mathias Drehmann e Vladyslav Sushko discutem os resultados do último Inquérito Trienal, que foram alcançados num contexto de maior volatilidade do mercado do que em 2019. A negociação de FX continua a afastar-se das plataformas multilaterais, onde a informação sobre preços está disponível para todos os participantes, para sítios “menos visíveis”. Esta menor visibilidade impede os decisores políticos de monitorizar adequadamente os mercados de divisas.
- Em “The internationalisation of EME currency trading“, Julián Caballero, Alexis Maurin, Philip Wooldridge e Dora Xia examinam a crescente participação de não-residentes nas transações sobre divisas das economias de mercados emergentes (EME). Este é um dos esquemas de negócio que indicam que as moedas emergentes estão a aproximar-se das economias avançadas.
- Finalmente, duas caixas analisam o risco de liquidez nos mercados de títulos garantidos por hipoteca, e retiram lições da turbulência no mercado britânico de títulos da dívida publica britânica relativamente aos riscos sistémicos decorrentes dos sectores dos seguros e dos fundos de pensões.