Paulo Magalhães, editor de política da CNN, elege Fernando Medina como um dos bons ministros do Governo pelos resultados anunciados na descida da dívida e do défice. Tenho dificuldade em classificar a pobreza analítica destas declarações.
A inflação está a baixar em todo o mundo, mercê da diminuição das pressões do lado da oferta que estão na sua origem. A dívida desceu abruptamente fruto da conjugação direta da inflação no valor nominal do PIB, o que aumenta o denominador e diminui a dívida em % do PIB, e do aumento de preços ter um efeito automático na receita fiscal, pela via da manutenção do IVA e da não atualização das tabelas de IRS. Neste último caso, faz com que o aumento de salários nominais aumente a receita fiscal, mesmo que os salários reais diminuam.
Medina podia ter seguido uma política de esquerda: não aproveitar este evento para agudizar ainda mais a consolidação orçamental, suavizar parte da carga fiscal sobre o trabalho e usar outra parte substancial para investir nos serviços e nas infraestruturas públicas e no reforço dos subsídios sociais e dos rendimentos. Nomeadamente das pensões, cuja fórmula de cálculo pela inflação violou ativamente, para depois vir anunciar aumentos avulso nas pensões para fins propagandísticos.
Ou podia ter seguido a estratégia da nossa extrema-direita económica: baixar impostos drasticamente, com sacrifício da equidade, da consolidação orçamental e dos serviços públicos (que apenas querem destruir).
Mas Medina não fez nada disto. Ficou só parado, fingindo que nada estava a acontecer. Na prática, isso permitiu-lhe aumentar a consolidação orçamental muito para lá da sua já agressiva estratégia, enquanto os serviços públicos agonizam e os cidadãos sofrem com a inflação.
Prestou-se a ser o “verdadeiro artista”, ocultando que não fazer nada era uma opção política velada por mais consolidação orçamental. Para não fazer nada e enganar a malta, não é preciso ser “um bom ministro”. Até podia ser um espantalho.
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