CARTA DE BRAGA – “de dramas e da inacção” por António Oliveira

Quem se detiver um pouco na leitura se tiver paciência e tempo para o fazer dos títulos dos órgãos de informação credíveis que nos vão chegando via net, dos países onde essa indústria não ocupa a maioria do seu espaço com a alienação do futebol ou do lifestyle das redes sociais, fica completamente estupefacto com os dramas que se vão desenrolando por esse mundo fora, em mais uma época de ‘dobra’ entre as tentativas de regresso a um passado tortuoso de humilhação do ser humano e das diversas culturas que o norteiam e os esforços para se traçarem e conseguir começar a andar os novos caminhos que a evolução do conhecimento humano e tecnológico, parece apontar. 

Aliás, um relatório da ONG Human Rights Watch, dava conta há poucos dias do ‘assassinato em massa’ de centenas de emigrante etíopes na fronteira do Iémen, devidamente documentado por testemunhos, geolocalização de fotos, imagens e vídeos por satélite; mais acrescentava como está a aumentar a quantidade de mortes entre os emigrantes que tentam chegar à Europa tanto pelo Mediterrânio como pelo Atlântico e, ainda, como se tenta acabar com a lixeira maior do continente americano a que chamam Duquesa, sita na República Dominicana, onde se vertem 4000 toneladas de lixo cada dia e como se procura recolocação para o milhar de pessoas que ali vivem tudo devidamente acompanhado, por e com, estórias terríveis. 

Em jogo neste conjunto de dramas, está a crise climática e ambiental já numa dimensão com níveis pavorosos, a que se juntam aqueles outros com origem nas guerras de todo o tipo e em todos os continentes, mais alguns outros ‘talvez mais perigosos’, dominados pela competição desenfreada nos ‘campos climatizados’ das Bolsas, onde se negoceiam desigualdades a beneficiar apenas sempre os mesmos, apesar serem de muitíssimo poucos, mas verdadeiramente os ‘donos disto tudo’.

Porém é aqui que vivo e vivemos e, por isso, permito-me usar as palavras de dois comentadores do DN, que aliás cito a miúde começo pelo professor Viriato Soromenho Marques, ‘O que é verdadeiramente dramático é ver o Governo e as Oposições completamente alheados da realidade que todos os dias nos esbofeteia. Portugal precisa de apostar na adaptação: defender cada hectare de solo arável, de floresta autóctone, os seus rios e águas subterrâneas, a biodiversidade terrestre e marinha; nenhuma multinacional, nenhum Governo nos pode expropriar do direito fundamental de legítima defesa quando tudo o mais colapsa’.

O também professor, poeta e crítico literário António Carlos Cortez, completa este raciocínio, referindo a tentativa de transformar as Universidades em meras instituições serventuárias dos poderes empresariais, ‘Os interesses privados irão ditar o fim de certos cursos considerados dispensáveis, as Humanidades e as Artes, obviamente. Num quadro de formação de jovens que serão meros assalariados ao serviço das empresas privadas, que Ensino Superior será este, fiel a um só fim: o suposto lucro que certos cursos irão garantir? Quando o Deus-dinheiro tudo manda, o que é a Universidade?

A terminar, uma espécie de máxima que ouvi recentemente numa conversa de amigos e que, aqui, até nem ficará mal, ‘Para que o mal triunfe basta que os bons não façam nada’. Talvez seja bom lembrar isso, antes de algum desses ‘calores’ nos incomodar!

António M. Oliveira

Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor

 
 

Leave a Reply