“ Sem Educação, os homens vão matar-se uns aos outros”
António Damásio in “A estranha ordem das coisas”
Educar para a Paz é um dever dos sistemas educativos.
Educar para a Paz implica que, no ambiente escolar, se viva a cidadania porque a cidadania não se ensina, vive-se.
A escola não pode ser só paredes onde apenas se vê a cor da tinta com que as pintaram. As paredes das escolas devem ser o suporte das opiniões, da arte, da vida que se vive no bairro, das críticas à organização da escola, deve ser um ponto de partida para o diálogo, para o crescimento do conhecimento.
Deve ser o levantar de dúvidas sobre os governos, as guerras, os comportamentos humanos, as mudanças da Natureza, a diversidade cultural.
Deve ser reconhecido, pela positiva, todo o comportamento da Humanidade em prol do bem estar.
A escola deve ser o exemplo da solidariedade, da igualdade, sem exploração do homem e da mulher sobre outros homens e sobre outras mulheres.
Deve ser o amor, só se aprende quando se ama, e amar é viver a libertação do eu, a insubmissão, o diálogo construtivo, o inconformismo com as injustiças, é repudiar a cultura do silêncio e da violência, combater a pobreza…
O ensino deve ser libertador, deve levar à reconstrução do eu através do reconhecimento do outro, o eu também se constitui por um não eu e dessa luta nasce a consciência do ser humano.
A escola são pessoas, não são tábuas vazias à espera que alguém as preencha com preconceitos, com ódios, com aceitação do racismo, da exclusão.
Acredito, desde o momento em que decidi ser professora, que o caminho para a Paz começa na escola e que deveria ser partilhado pelas famílias e pelas comunidades.
Através da História verifica-se que a Paz não interessa a todos. Os poderosos não querem abdicar do seu poder social, do seu poder económico, do seu poder de influência para fomentar a desagregação social. Aos não poderosos cabe-lhes lutar pela libertação servindo-se do que têm ao seu alcance, a indignação já não é suficiente.
A escola não pode ser neutra, ou é conformista ou libertadora.
A vida em cidadania faz descobrir como participar na transformação do seu mundo.
A educação é um ato político que não pode estar dissociado da pedagogia. A forma como os alunos são ensinados e o que lhes é ensinado depende da política opressora ou libertadora das sociedades. A consciência e o mundo existem ao mesmo tempo.
As sucessivas gerações devem transmitir que não existimos para sofrer para sermos felizes e construir um novo ser humano em sociedades diferentes, mas de Paz.
A Educação Libertadora deveria ser um dos objetivos dos ministros da Educação e da Cultura. Onde estão esses ministros? Onde estão os governos que os possam apoiar?
Estão na nossa consciência de saber viver em Cidadania.
Não há que ter medo, durante a ditadura de Salazar e Caetano, muitos e muitas serviram-se das armas que tinham para criticar todo o sistema de governação.
Será utópico em democracia? Será utópico quando há liberdade de expressão do pensamento? Será utópico quando se tem acesso ao conhecimento.
Será utópico? Será. Mas tudo o que a Humanidade conquistou para o Bem da Humanidade já foi utópico. È difícil? Mas quem disse que era fácil a libertação dos nossos eu?
Sou feita de muitos
nós
desobediência e meio-dia
Sou aquela que negou
aquilo
que os outros queriam
Disse não à minha sina
de destino preparado
recusei as ordens escusas
preferi a liberdade
e vivo deste meu lado
Maria Teresa Horta
“ Sem Educação, os homens vão matar-se uns aos outros”
António Damásio in “A estranha ordem das coisas”
Minha senhora, infelizmente já o estão a fazer, incluindo entre nós nesta colónia è beira mar plantada
Caro Dr. José Serra, li o seu comentário ao meu texto, Sem Educação, e gostaria de lhe perguntar se a palavra “infelizmente” significa que não está de acordo comigo, o que é totalmente legítimo, sei que esta é uma questão sensível, mas gostaria de perceber melhor a sua opinião. Obrigada