CARTA DE BRAGA – “das desigualdades e da Justiça” por António Oliveira

O crescimento da extrema direita em praticamente todo o mundo e, como se viu também por cá na última chamada às urnas, é só o culminar de uma questão que se arrasta há umas largas dezenas de anos, movimentada pelo apelo a uma mudança de valores sociais e políticos, que nos determinam a vida há demasiado tempo.

Não interessa aqui e agora pôr o nome aos bois, por que as memórias de todos carregarem a noção do peso da crescente desigualdade social que impera na humanidade, com as culpas atiradas para cima da globalização, mas muito raramente para as oligarquias que a impulsionaram, e pelo travão onde põem o pé, sempre que ouvem falar em restruturação dos sistemas de redistribuição, por dizer do aumento dos impostos para quem muito lucra, mas a beneficiar quem muito pena e cada dia que passa.

E, atendendo ao tipo de ‘primavera’ que estamos a gramar, talvez seja bom pensar no ajustamento e sustentabilidade dos combustíveis, em quem beneficia deles –mesmo aqueles a quem foram impostas algumas sanções, que parecem não ter qualquer importância para as tais oligarquias– porque quem lhe sofre as consequências –alterações climáticas, secas, inundações, caravanas a pé de emigrantes forçados por terem perdido tudo– não são eles, mas os que vêem se ligam, quando ligam, o ecrã da sala de jantar.

Mas sabem, como os mais lidos de todos nós, que estamos a assistir a uma gigantesca onda de manipulação das gentes, sustentada por uma desinformação sem igual, apoiada por meios da comunicação sem qualquer ideia do que é serviço público, assim como por redes ditas sociais, dirigidas a um só indivíduo, por saberem também que cada um de nós pensa primeiro em si mesmo e, a enorme maioria, nunca sai disso mesmo.

Esse é também o resultado de um estudo da Organização Americans for Tax Fairness, a destacar uma grande corporação, a American International Group (AIG), por ter ‘embolsado’ um resgate público de 180.000 milhões de dólares, para posteriormente e, de acordo com o New York Times, ter entregado 165 milhões em bonificações aos mesmos executivos que quase levaram a empresa à falência.

Por isso também ‘verdade, verdadinha’, é a afirmação do professor Bernardo Ivo Cruz, no DN do passado dia 30 de Abril, ‘As liberdades e direitos que a Constituição, as leis, as Declarações e Cartas de Direitos Humanos internacionais e outros instrumentos semelhantes que Portugal reconhece, são mais reais para umas pessoas do que para outras’.

A terminar mais um aforismo, roubado este a um dos cronistas que vou lendo diariamente, e que copiei há algum tempo, ‘Se alguém está, na verdade, interessado em acabar com este estado de coisas, primeiro terá de restaurar a imagem da Justiça’.

António M. Oliveira

Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor

 

Leave a Reply