LOU SALOMÉ E RILKE -III – por Clara Castilho

 

Nascido em Praga, Rilke (1875-1926) teve uma infância difícil e traumática, marcada pela separação dos pais e pelo suicídio de um irmão. Estudou Literatura e História da Arte nas Universidades de Praga, Munique e Berlim. Em 1894, aos 19 anos, publicou poemas de amor intitulados “Vida e Canções”.

 

Em 1897 conheceu Lou Andreas-Salomé. Com ele, pela primeira vez na sua vida, Lou encontrara um homem que a atraía intelectualmente e fisicamente. Juntos, em 1899, viajaram pela Rússia, ficando Rilke impressionado com suas paisagens. No ano seguinte escreveu “Histórias do Bom Deus”.

 

 

 

Publicou “O livro das Imagens” (1902) e a série de versos “O livro das Horas” (1905). Em 1901 Rilke casou-se com Clara Westhoff, uma discípula do famoso escultor francês Rodin, com quem teve uma filha. Entre 1905 e 1906 o escritor trabalhou como secretário de Rodin, que exerceu grande influência sobre os seus poemas. Lou ficou surpreendida com a notícia do casamento e escreveu-lhe uma carta: “Agora que tudo é sol e calma ao redor de mim e que o fruto da vida conquistou sua redondeza madura e doce, a lembrança que nos é certamente ainda cara a nós dois daquele dia de Waltershausen, em que vim a ti como uma mãe, me impõe uma última obrigação (…) Se te aventuras livre no desconhecido só será responsável por ti mesmo”.

 

E Rilke respondeu-lhe com este poema, dias depois de se ter casado:

 

 

“Permaneço no escuro como um cego

Porque meus olhos não te encontram mais

A faina turva dos dias para mim não é mais
que uma cortina que te dissimula.

Olho-a, esperando que se erga esta cortina
                                                                atrás da qual há minha vida a substância e a própria lei da minha vida e,
                                                                      apesar disso, minha morte.

                                                                

Tu me abraçavas, não por desrazão mas como a
mão do oleiro contra o barro

A mão que tem poder de criação.

Ela sonhava de algum modo modelar – depois se
cansou, se afrouxou deixou-me cair e me quebrei.

Eras para mim a mais maternal das mulheres,
eras um amigo como são os homens, eras, a te olhar, mulher realmente, mas
também, muitas vezes, criança.

Eras o que conheci de mais terno e mais duro
com que tenho lutado.

Eras a altura que me abençoou – te fizeste
abismo e naufraguei.”

 

 

 

 

 

 Lou escreveu nas suas memórias, invocando Rilke: ” Fui sua mulher durante anos porque você foi a primeira realidade, onde homem e corpo são indiscerníveis um do outro, fato incontestável da própria vida. Eu poderia dizer literalmente aquilo que você me disse quando me confessou o seu amor: ‘Só você é real’. Foi assim que nos tornamos marido e mulher, antes mesmo de nos tornarmos amigos, não por escolha, mas por esse casamento insondável. Não eram duas metades que se buscam: trêmula, nossa unidade, surpresa, reconhecia uma unidade pré-ordenada. Éramos irmão e irmã, mas como nesse passado distante, antes que o casamento entre irmão e irmã se tornasse sacrilégio”. Em 1928, dois anos após a morte de Rilke, Lou Salomé escreveu a biografia do poeta. (Rilke nel castello di Duino com música de Mahler)

 

 

 

 

 

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A seguir: LOU SALOMÉ E FREUD

 

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