A GOVERNAÇÃO DO PAÍS E O CASO EICHMANN – por Magalhães dos Santos

O atual estado do País, com o que ele tem de intimamente ligado ao sofrimento e desespero do Povo deste País (que ainda é (o) nosso), traz-me ao pensamento… até onde é que isto irá?

 

Haverá limites para “o que está a acontecer” (maneira eufemística de designar esta tragédia)?

 

Se o Povo acordar a tempo de reagir e de se salvar, vai deixar impunes todos os responsáveis pela catástrofe de que terá escapado?

 

Será possível, já agora, enquanto está a decorrer a tentativa do nosso extermínio, ir registando todos os crimes que estão a ser cometidos? A ser conscientemente, deliberadamente, friamente, calculadamente cometidos? Será possível, já hoje, apontar os grandes culpados? Começar já a prever os argumentos que a seu favor invocarão quando chamados à barra do tribunal que os julgará?

 

Quando invocarem que foi para bem do Povo que fizeram esse mesmo Povo passar fome, que lhes oporão?

 

Quando disserem que mataram o Povo por falta de adequados cuidados de Saúde, que vão responder-lhes?

 

Quando argumentarem que as despesas com a Educação eram demasiadas e que a Instrução-Educação dos Portugueses era coisa que podia esperar por melhores dias, que discordância se lhes vai manifestar?

 

Quando invocarem que já herdaram uma Justiça caótica e que não lhes era possível pô-la nos eixos, vai-se concordar que o aparelho judiciário estava a saque e que, realmente, era incorrigível? Vai-se concordar que, mesmo quando as leis eram boas, a sua aplicação era difícil ou dificultada?

 

Quando os membros da cambada começarem a alijar responsabilidades e a sacudir a água do capote, dizendo que estavam a cumprir ordens e que o caminho era aquele e só aquele, não havia outra solução, outra saída… que lhes vão responder os acusadores?

 

Durante o seu julgamento – que decorreu de abril de 1961 a 30 de maio do ano seguinte, com o enforcamento do reu em 1 de junho – o grande criminoso, monstruoso genocida que foi o nazi alemão Adolph Eichmann, alegou sempre que se tinha limitado a cumprir ordens, que, se alguém era culpado das chacinas e outros muitos crimes, eram os seus superiores, porque ele, humilde funcionário, apenas dera seguimento às instruções recebidas no sentido de eliminar o Povo Judeu.

 

Cito: “Eichmann conhecia o destino dos prisioneiros. Assistiu às execuções nas câmaras de gás, chegando a considerá-las “desumanas”, não para as vítimas, e sim para os carrascos”.

 

As suas últimas palavras foram: “Eu tinha de obedecer às leis da guerra e à minha bandeira. Estou pronto”. (Tão zeloso funcionário mais depressa mereceria medalha, diploma, nome em esquina de rua ou de avenida, estátua laudatória, do que qualquer condenação, qualquer castigo).

 

Golda Meir, na altura do julgamento ministra dos Negócios Estrangeiros de Israel, disse, a propósito desses argumentos de defesa:

 

“Obedecer a uma ordem não pode diminuir a responsabilidade do crime – todo o ser humano tem o dever de se revoltar contra uma ordem criminosa”.

 

Ninguém, do atual executivo, por muito técnicas que sejam as suas funções, poderá, hoje ou futuramente, invocar, como escusa, que se limitou a cumprir ordens, viessem elas de fora ou de dentro.

 

Por muito que este nosso Povo tenha de mudar de vida – e tem, realmente! – não se lhe peça nem se lhe imponha que se mude da Vida para a Morte.

 

E parece-me que é o que está a acontecer.

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