Consultório LInguístico – IX – por Magalhães dos Santos

 

 

Correspondendo a uma pergunta de um amigo venho hoje falar sobre

 

FRASES LATINAS

O Português, o Francês, o Inglês, o Castelhano/Espanhol são línguas analíticas. Precisam de várias palavras para dizerem o que outras conseguem dizer gastando muito menos fôlego e muito menos tinta. Outras – como o Latim e o Grego, que são línguas sintéticas, as que mais imediatamente me acodem ou me ocorrem. Um exemplozinho, só para se fazer uma ideia do que estou a querer dizer: DURA LEX, SED LEX, traduzimos nós por A LEI É DURA, MAS É A LEI. Oito palavras para traduzir quatro.

 

Mais outro exemplozinho: NE SUTOR ULTRA CREPIDAM: QUE O SAPATEIRO NÃO VÁ ACIMA DA CHINELA. Oito palavras para traduzir quatro. Comecei este artigo com a intenção de trazer duas outras frases . Uma é: SALUS POPULI SUPREMA LEX ESTO. Significa ela: QUE A SALVAÇÃO (O BEM ESTAR) DO POVO SEJA A LEI SUPREMA. Era máxima do direito romano para significar que todas as leis particulares devem ter em vista o direito coletivo.

 

Estou mesmo a ver que as feras, os monstros inumanos que se investiram na função de nos governar são muito capazes (já têm dado amostras de que são capazes de tudo, tudo, menos de governarem a favor do triste Povo a que deitaram as garras) de invocar esta frase para justificarem as medidas de sucção, de punição, tendentes a levar-nos à morte lenta. Eu faço outra leitura: o bem estar do Povo não está a ser salvaguardado. O Povo está a ser “conscienciosamente” levado à miséria, reduzido a condições de vida que nos entristeceriam e revoltariam se fossem impostas a cães ou gatos. O Povo está a ser castigado, está a pagar por crimes de natureza económica que não cometeu, por que não é responsável. E os responsáveis pelo despesismo,pelo esbanjamento, pela delapidação de dinheiros públicos… esses não são responsabilizados, não são culpabilizados, nem condenados, nem obrigados a devolver as fortunas que roubaram, nem encarcerados ou postos a prestar serviços à comunidade. E a verificação diária dessa impunidade a que leva?

 

A que todos os muitos que infelizmente não foram criados no respeito por certos valores e princípios passem a considerar ridículos e desprezíveis esses mesmos princípios e valores. E a infringi-los, a calcá-los, a atacá-los, considerando-se a salvo de qualquer punição, porque punidos não são os que fizeram ainda pior e andam a espanejar as fortunas indecentemente ganhas. E criam-se, simultaneamente, exércitos de desempregados, de gente jovem ou ainda não velha, ainda muito capaz e senhora de muitos e úteis conhecimentos. Legisla-se cegamente, impõem-se medidas drásticas sem se fazer o mínimo cálculo das consequências do encerramento de milhares de empresas; da criação de dezenas ou centenas de milhares de desempregados; do fechamento de possibilidades de trabalho a milhares e milhares de jovens que se prepararam para trabalhar e não têm onde trabalhar, onde ganhar a sua vida, onde deixem de depender dos pais.

 

E ocorre-me mais uma frase latina: VENTER VACUUS CARET AURIBUS, BARRIGA VAZIA NÃO TEM OUVIDOS. A fome, a necessidade não vai em cantigas! A fome, não só a própria mas também, se não principalmente, a dos filhos e de outros familiares, é surda a cantos de sereia, por muito sedutores que sejam. Aos ouvidos de quem só ouve a Sra. D. Lógica, as reivindicações não têm razão de ser, chocam com o que é razoável; não respeitam o que está estabelecido; vão ao arrepio das normas, das leis, do que sempre se fez; destroem os alicerces da Sociedade. Dessa mesma Sociedade que criou este mesmo estado de coisas. Que é mãe desta desgraça que a tantos desgraça. Que se rodeou das leis que a protegem das legítimas reações dos que são esmagados, assassinados pelas práticas dessa odiosa sociedade.

 

Limito-me a prever uma convulsão de consequências imprevisíveis. Que pode levar a uma rotação de 360º. Ou a um caos. Ou ao ansiado surgimento de uma nova Sociedade, finalmente justa, que saiba proteger-se de parasitas aproveitadores da boa-fé dos mentores da vindoura organização. Uma Sociedade para e de pessoas, seres humanos, não para monstros sedentos de sangue. Como elemento da baixa classe média, sei, tenho a certeza de que serei dos primeiros atropelados, arrasados, esmagados pela vaga de fúria que se está a levantar. Como tal… limito-me a prevê-la, quase a anunciá-la. Não a desejá-la, sabedor que sou dos injustos exageros que a acompanharão. Mas sabedor de que valerão a pena os sacrifícios de alguns (muitos???) inocentes.

 

O edifício a erigir talvez exija alicerces sangrentos. Oxalá que não!

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