Neste tempo do absurdo e do nosso descontentamento total
neste tempo de brutal inverno interior, incapazes de prever o mal
neste tempo sem saber o que nos espera em cada curva da vida,
neste tempo de um sistema de precariedade absoluta garantida,
neste tempo de legislações que silenciosamente fomos consentindo
neste tempo de falta de coragem que todos fomos sempre admitindo
neste tempo sem decisores e sem decisões por comodidade adiadas
neste tempo sobre as vidas de dedicados sete jovens fortemente estragadas
neste tempo decisores outros garantidos pela lei consentida apareceram
neste tempo a história profissional de anos destes sete então desprezaram
neste tempo é a alma deste país por muitos milhares que assim é destruída
neste tempo de uma saída , um texto de uma franca e digna despedida
deste tempo e desse texto eu o sinto como a amizade a todos estendida.
Júlio Mota sinto como a amizade a todos estendida.
Júlio Mota
Em nome de Miguel Nunes Enviada: terça-feira, 14 de Fevereiro de 2012 10:06 Para:
Assunto: [Docentes-FEUC] Mensagem de despedida Estimados/as Docentes
É do conhecimento geral os processos que há muito se iniciaram na faculdade com vista à “regularização” de situações contratuais de funcionários não-docentes, e nos quais eu mesmo estive incluido. No meu caso – bem como nos de outros/as colegas – agora que o procedimento concursal se aproxima da sua etapa final, informo que infelizmente não reuni condições necessárias para atingir a etapa final e, por isso, para mim chegou o triste momento de me despedir de todos vós.
Não pode ser se não com imensa pena que assim comunico o fim do meu vínculo formal a esta casa. É – volto a dizê-lo – com imensa pena que o comunico mas ainda assim com uma enorme tranquilidade e estranhamente (ou talvez não) com imensa “paz de espírito” e sensação de realização pessoal.
Faz um pouco mais de 20 anos que cheguei a esta casa, naturalmente como estudante, e quase 8 anos como funcionário e foi com muito orgulho que tive oportunidade de aqui trabalhar da forma que o fiz, dentro das minhas modestas capacidades mas sempre (ou quase sempre) com entusiasmada vontade. Infelizmente nem sempre as coisas são como gostaríamos, e os malfadados tempos que vivemos pregam-nos surpresas. Como muitas vezes se apresenta Boaventura de Sousa Santos – um dos muitos mestres que aqui tive – também eu parto de um certo “optimismo trágico” como forma de assumir algumas esperanças num futuro que aparenta conviver mal com boas expectativas.
Na hora de me despedir, gostaria de o fazer de forma mais pessoal. Na dificuldade de o fazer permitam-me deixar por esta via o meu sincero agradecimento: pelas amizades pessoais de muitos, pela colaboração, companheirismo, empatia e cumplicidade de praticamente todos. Olhando para trás, felizmente saio bem maior do que quando entrei, e isso, só por si, não é pouco.
Nem sempre temos a oportunidade de realizar (todos) os nossos sonhos. Felizmente já realizei muitos, e isso é seguramente mais importante que tudo o resto. Por isso agradeço de forma sincera as oportunidades e tudo o que levo destes anos na faculdade. Agradeço ainda as muitas palavras amigas e de incentivo que tenho ouvido ao longo destes últimos tempos que mais não são do que a prova (se tal fosse preciso) do carinho e da simpatia.
Fica este meu contacto de email pessoal através do qual estarei disponível para qualquer coisa em que possa ser-vos útil.
Um abraço
José Miguel