Globalização e Desindustrialização-4ª Série – Capitulo I. Retratos da Desindustrialização – por Júlio Marques Mota

1.5 Fralib : assalariados criativos em luta contra uma multinacional gananciosa – por Sophie Chapelle

 

 São mais de uma centena de trabalhadores a ocuparem a sua fábrica de chás de plantas e de chás de ervas, em Gémenos, na região de Bouches-du-Rhône.Objectivo: evitarem o encerramento da actividade ainda viável e construir um projecto industrial alternativo, local e ecológico. Problema: o gigante agro-alimentar Unilever, proprietário da fábrica e das marcas Lipton e Elefante, que os assalariados acusam de fuga aos impostos a favor dos accionistas, opõe-se. Reportagem.

 

Os retratos de Che enchemas paredes, as janelas de vidro, cobrem os contentores,e até mesmoas linhas de produção. Sinais de resistência a um encerramento prometido. Na recepção do site deFralib – a empresa francesa de alimentos e de bebidas- que acondiciona os chás Lipton e Elefante-um cartaz no placard indica as programações das rotações de turnos.São cerca de cem assalariados que garantem e vigiam dia e noite a sua fábrica temendo que a direcção venhacomlentas acções levaras máquinas para as transportar para a Polónia.

 

Em pleno período eleitoral, a perda de 182 empregos provoca reacções. Desde Julho, os candidatos presidenciais vêem todos até aqui, a esta zona industrial de Gémenos, a 20 km a leste de Marselha. Cansados das perguntas dos jornalistas, Omar, responsável pelas torres de guarda, esclarece as coisas desde a entrada no site: “aqui, não estamos cá parafalar de Strauss-Kahn ou de Guérini.”. Se recebemosos políticos, é para que eles nos ajudem realmentea salvar Fralib e aqui só se fala de Fralib.»

 

Trabalhadores privados da sua empresa

 

Contara história dos”Fralibiens”, é inevitavelmente mencionar também a história de Unilever. Multinacional anglo-holandesa, Unilever compra o chá Elefante ao grupoRicarddesde 1972. Cinco anos mais tarde, ela cria Fralib através da fusão da empresa com a dos chás Lipton. No final da década de 90, Unilever especializa Génemos em chásaromatizados, infusões e chá verde e confia a produção do chá preto a uma fábricalocalizada em Bruxelas.. Nessa época,Fralibé ela que compra as suas matérias-primas, 

 

 

 

“A lógica de expropriação”, mencionada pelos representantes do pessoal começou em 2001, com o encerramento da oficina de aromatização húmida. Nessa data, também começou a reorganização do grupo, com a transferência das actividades de marketing detodas as suas filiais francesas – incluindo os chás e infusões –à Unilever francesa. Em seguida, em 2007, uma empresa criada na Suíça, Unilever SupplyChainCompany (USCC), centraliza ascompras de matérias-primas a nível europeu. Até que a notícia do encerramento da fábrica em Gémenosé dada emSetembro de 2010.

 

Mil milhões de euros para os accionistas

 

Para justificar a sua decisão, Unilever, que tem três outras fábricas em chás e infusões na Europa , argumenta que a unidade de Gémenosé a menos competitiva, assegurando apenas5% do volume de produção contra27% dos custos globais. Valores querepetidamente são atirados aos trabalhadores pela direcçãomas que são contestados pelos trabalhadores e por um relatório de acompanhamento financiadopelo Conselho Regional de Provence-Alpes-Côte-d’Azur.. Tornado público a 26 de Julho de 2011, ele concluiu pela viabilidade da fábrica. “O perito considera que’ hoje estamos a produzir2.900 toneladas enquantoo limiar de rendibilidade da fábrica está em 1 000 toneladas”, resume Henri, um homem da CGT. “Numa caixa de chá vendida entre 1.60 e 2,60 euros, a parte dos salários representa apenas 15 cêntimos de um euro, denuncia Henri. Não há necessidade de ser um gestorpara saber que todas essas margens são feitas sobre as nossas costas. “De acordo com a CGT, em 7 anos (de 2001 a 2007), 13,7 mil milhões de euros em dividendos foram pagos aos accionistas. “UnileverFrance conseguiu enviar cerca de750 milhões de euros em dividendos em 2008, depois de 300 milhões em 2007, para a sua casa mãe”, disseramos sindicalistas. Em 2010, a empresa que emprega 167.000 pessoas em todo o mundo, anunciou um lucro líquido de 4,6 mil milhões de dólares.

 

A empresa Suíça USCC iria recuperar 30% dos lucros de UnileverFrance, mais uma margem sobre o preço de venda dos produtos franceses. Esta reorganização, legal, de acordo com o gigante de agro-alimentar contribui para uma transferência de rendimento da França para a Suíça, estimada pelo relatório em 200 milhões de euros só em2007. “Por esta manobra, 67 milhões de euros estão anualmente isentos de impostos desde 2007”, disse GérardAffagard, delegadoCFE – CGC. Um folheto acusando o grupo “de roubar o fisco e os clientes” levou a que Gérard, bem como dois delegados CGT, fossem acusados de difamação.

 

 Enquanto se aguarda uma audiência, marcado para 11 de Outubro, os trabalhadores estão a lutarpara manter os seus instrumentos de produçãoem Marselha. “Não é só estarmos na defensiva, disse Henri, é uma solução alternativa e inovadora no sector do chá.

 

 

(Continua)

Leave a Reply