GIRO DO HORIZONTE – O Irão Nuclear – por Pedro de Pezarat Correia

 

Hans Blix, diplomata sueco, antigo presidente da Agência Internacional para a Energia Atómica (IAEA) e antigo inspector-chefe da ONU para as armas nucleares, escreveu o artigo “How do we stop Iran getting the bomb?” publicado no New Statesman, do qual algumas passagens foram transcritas por Samira Shackle no blogue http://www.newstatesman.com/blogs/the-staggers/2012/027nuclear-weapons-iran-former em 15 Fev e que constitui um inestimável contributo para os pontos de vista que defendi no GDH “Israel potência nuclear”, colocado na “Viagem dos Argonautas” em 6 Fev.

 

Escreveu Blix: «Se o Irão for bombardeado, será outra acção contrária à Carta da ONU. Não haverá autorização do Conselho de Segurança. O Irão não atacou ninguém (…) não há uma iminente ameaça iraniana que possa ser invocada para justificar uma acção preemptiva». Sobre o relatório de Nov 2011 dos inspectores nucleares da ONU no Irão, diz: «(…) não concluiu que o Irão esteja fabricando uma arma ou tenha tomado a decisão de a fabricar». Apesar disso expressa reservas sobre os informadores da IAEA no Irão, cujas provas não são evidentes e adverte: «A agência não pode arriscar a sua própria credibilidade fiando-se em dados que não pode verificar inteiramente». E acrescenta: «(…) bombardear as instalações nucleares iranianas poderá ser mais uma via para o desastre do que para uma solução».

 

Porque, alerta, os líderes iranianos não vão ficar quietos a rodar os polegares e as consequências previsíveis serão a guerra no Golfo, a subida em flecha dos preços do petróleo e do gás, a incapacidade para destruir todas as instalações do Irão, a união dos iranianos em torno do seu governo que actualmente detestam e a inevitável decisão de obterem a arma nuclear que para já pode não estar tomada.

 

Hans Blix conclui com a sua proposta de solução para quebrar o impasse sobre o Irão, o estabelecimento de uma ZLAN (Zona Livre de Armas Nucleares) no Médio Oriente: «Para muitos a ideia de um acordo entre as partes no Médio Oriente – incluindo Israel e Irão – para renunciarem não apenas à posse, aquisição ou desenvolvimento de armas de destruição massiva, mas também aos meios de produção, pode parecer muito remota. A mim não me parece tão longínqua (…) será preciso que Israel se desfaça das suas armas nucleares (…) e será preciso que o Irão abandone as suas instalações de enriquecimento (de urânio e plutónio) (…)»

 

Sábias e prudentes palavras que merecem ser ouvidas. Mas atenção: perante a obsessão de Bush e Blair em invadirem o Iraque em 2003, Blix, inspector responsável pelas inspecções no Iraque, avisou repetidamente de que não havia provas da existência de AN neste país; acabou demitido e a invasão consumou-se com as trágicas consequências que se conhecem. Posteriormente provou-se que Blix tinha razão mas os responsáveis ficaram impunes. Será que se vai repetir o crime no Irão?

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