Selecção, tradução e introdução por Júlio Marques Mota
(conclusão)
As intenções de voto…
Os riscos de instabilidade política e social continuam a ser elevados.
A Grécia enfrenta eleições em Abril de 2011. As sondagens indicam um resultado fragmentado, com os principais partidos a terem fracas probabilidades de alcançarem maiorias e com significativa representação de partidos menores. Um governo instável combinado com uma ampla coligação contra a política de austeridade pode resultar em tentativas de renegociar o pacote de resgate. A falência do esquema até agora montado pode resultar numa situação de incumprimento desordenado e a Grécia pode deixar o euro.
As eleições presidenciais francesas, marcadas para Maio de 2012, também irão criar incerteza. Os principais opositores ao incumbente Nicolas Sarkozy, ou se apresentam como oposição ao euro e ao resgate (Frente Nacional liderada por Marine Le Pen) ou se apresentam a querer renegociar o plano com a introdução dos eurozonas ligados estes pelo conjunto de garantias dos países da zona-euro (os socialistas liderados por François Hollande).
A crise da dívida europeia também está a criar problemas políticos na Alemanha, Holanda e Finlândia, especialmente entre as coligações governamentais. O risco de instabilidade política inesperada não é insignificante.
Nos países mais fracos, a austeridade significa elevado desemprego, reduções nos serviços sociais, impostos mais elevados e redução dos níveis de vida. Os benefícios sociais estão cada vez mais abaixo dos níveis de subsistência estão a alargar as desigualdades de rendimentos e a criar grandes camadas de “novos pobres”. Os movimentos de protesto estão a ganhar terreno, com uma crescente inquietação social.
Nas nações mais fortes, está a aumentar o ressentimento com a carga de estar a suportar os países mais fracos da zona euro, e isto é bem evidente. Apesar dos títulos dos tablóides, os alemães têm sido relativamente optimistas sobre o seu compromisso de disponibilizar de fundos de resgate financeiro ajudados pela fraca divulgação limitada quanto à extensão dos valores financeiros em causa e por ser uma economia relativamente forte.
Um abaixamento do rating muito acarinhado da Alemanha, o seu AAA ou quaisquer passos que possam minar a saúde de uma moeda forte (pela emissão de mais notas ou por outras técnicas monetárias) levará a aumentar a atenção sobre os custos para os alemães que representam os resgates. As obrigações da Alemanha até à data é de 211 mil milhões em garantias, 45 mil milhões em contribuições para o FMI e Euro 500 mil milhões devidos ao Bundesbank por outros bancos centrais nacionais – ou seja cerca de 25% do PIB.
O aumento do risco de perdas pode até desviar a atenção do campeonato Europeu de Futebol em 2012 onde a Alemanha está colocada no “Grupo da Morte” conjuntamente com a Holanda, Portugal e Dinamarca.
O caminho para lado nenhum …
No curto prazo, a Europa precisa de reestruturar a dívida de vários países, de recapitalizar os seus bancos e de refinanciar a dívida nas suas datas de vencimento mas com custos de financiamento aceitáveis. No longo prazo, a Europa precisa de colocar as finanças públicas e a dívida sob o seu controle. E também precisa de reinventar uma via capaz de poder vir a melhorar o seu crescimento, provavelmente, reestruturando o euro para aumentar a competitividade das nações mais fracas e por outros meios que não sejam a deflação interna.
Um tal programa é difícil e não há garantia de ter sucesso, mas poderia fornecer alguma confiança. No momento, a Europa não tem nenhuma política credível nem uma qualquer solução viável em seu lugar.
Uma ideia persistente é que a Europa tem dinheiro suficiente para resolver os seus problemas. Isto é baseado na dívida agregada dos membros da zona-euro em relação ao PIB e que é de cerca de e 75%. Há vários problemas com esta análise.
A dívida está concentrada em países onde a taxa de crescimento, a produtividade e a competitividade pelos custos é baixa, e isto é talvez a principal causa que está na origem do problema. A riqueza relevante está nas mãos de alguns países como a Alemanha que parecem pouco dispostos a socorrer os países tomados como gastadores e os seus vizinhos irresponsáveis. Uma parte substancial da poupança também está investida em dívida pública europeia directamente ou em bancos vulneráveis, que têm investido nos mesmos títulos.
A dívida total dos PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) e mais a da Bélgica representa mais de 4 milhões de milhões. Será necessário que haja então uma depreciação da dívida em cerca de um quarto deste valor, ou seja 1 milhão de milhões, para que os níveis de dívida passem para níveis sustentáveis (digamos 90% do PIB). Na ausência de reformas estruturais e de um regresso ao crescimento, a redução do valor da dívida necessária para que esta seja sustentável terá então que ser necessariamente bem maior. Compare-se estas ordens de grandeza com o PIB da Alemanha e da França, respectivamente, de 3 milhões de milhões e 2 milhões e duzentos mil de milhões.
Além disso, as nações mais fortes podem ter de suportar o custo dos financiamentos em curso dos défices orçamentais e comerciais dos países em mais dificuldade. Isto não aparece viável nem económica nem politicamente.
A Europa agora assemelha-se a um doente mental crónico, a receber o tratamento apenas suficiente para se manter viva. A recuperação total e completa é altamente improvável no presente plano médico de saúde. A Europa assemelha-se a uma economia de zombies, que funciona de forma deficiente, com graves crises periódicas de saúde económica. O risco de uma falha súbita de órgãos vitais é desconfortavelmente elevado.
Na sua canção “Road to Nowhere”, David Byrne e os Talking Heads falam de um passeio para lado nenhum . Byrne canta sobre “onde o tempo está do nosso lado”. O tempo da Europa está quase que esgotado. A incapacidade de diagnosticar correctamente os problemas e de agir de forma decisiva colocou seguramente a Europa numa estrada que não leva a lado nenhum. E é uma caminhada que a economia mundial poderá ser forçada a partilhar, pelo menos em parte.
Satyajit Das, The Road to Nowhere” – Europe’s Debt Crisis. 9 Janeiro de 2012.
Das é o autor de Extreme Money: The Masters of the Universe and the Cult of Risk (2011)