OS DIAS DA RÁDIO – por Carlos Loures – 5

O papel das rádios clandestinas na luta contra a ditadura do Estado Novo

 

5. A Rádio Voz da Liberdade

 

Amigos, companheiros e camaradas, daqui fala a Rádio Voz da Liberdade, em nome da Frente Patriótica de Libertação Nacional! Com estas palavras, Estela Piteira Santos inaugurava as emissões feitas a partir de Argel -. Mas o que era a FPLN – Frente Patriótica de Libertação Nacional?


Entre os dias 19 e 21 de Dezembro de 1962, realizou-se em Praga uma Conferência das Forças Antifascistas Portuguesas. Representantes do MNI – Movimento Nacional Independente (Manuel Sertório), da Resistência Republicana e Socialista, do PCP e do MAR. A base deste movimento de intenção unitária eram as Juntas Patrióticas, nascidas em 1959, a partir do rescaldo do «terramoto Delgado» que, em 1958, abalou o País, tornando evidente um repúdio generalizado pelo regime. 


Desde 1960, as Juntas funcionavam em Argel. A expressão «intenção unitária», não é inocente. O PCP, como já foi dito, era o único movimento com capacidade organizativa, com uma estrutura apoiada em funcionários e não em amadores. Sobretudo, com militantes dispostos a sacrificar tudo, a vida inclusive, e não a encarar a luta antifascista como hobby. Mesmo quem não concorda com os pressupostos ideológicos do PCP, deve reconhecer o papel que o partido desempenhou na luta contra a ditadura. Nem sempre positivo, mas continuado, persistente, organicamente sólido.


Quando se pretendia um simples duplicador para difundir um documento o PCP tinha. E, convencido da sua razão, com um certo integrismo, queria controlar, vigiar, em suma, mandar. Tudo corria bem se os outros movimentos aceitassem o que o PCP determinava. E não aceitavam.


 Nada que não tenha acontecido com grupelhos insignificantes, mas igualmente detentores «da verdade». O integrismo é inimigo da razão. As «frentes» não funcionam porque é impossível conciliar as diversas «verdades» que as integram. E há um outro pormenor – muitos dos movimentos que se formaram nesse período (que foi de meados dos anos 60 a 1974), tinham na sua origem elementos dissidentes do PCP. As matrizes desses grupúsculos enfermavam dos problemas que afectavam o «partidão» e, por outro lado, não conseguiam ter a sua solidez. Mas voltemos às rádios clandestinas.


Em 9 de Novembro de 1970, a FPLN, os elementos da FPLN instalados em Argel, afastaram o representante do PCP, (Pedro Soares). Deste grupo sairiam Carlos Antunes, Isabel do Carmo e outros elementos que criaram as Brigadas Revolucionárias, em 1971, e que, em Setembro de 1973, fundariam o Partido Revolucionário do Proletariado…


Manuel Alegre foi director da Rádio Voz da Liberdade. E principal locutor da RVL. Segundo Mário Mesquita “a Voz da Liberdade”, foi Alegre que fez a primeira entrevista de Amílcar Cabral dirigida aos portugueses.

 

Agostinho Neto, Samora Machel, Eduardo Mondlane também foram entrevistados por Manuel Alegre. Os antifascistas que não estavam ligados ao PCP, logo preferiram a RVL, com uma informação menos sectária, mais aberta às diferentes forças oposicionistas. E também aqui a cantiga foi uma arma. Adriano Correia de Oliveira, José Afonso, José Mário Branco, Francisco Fanhais, Luís Cília e tantos outros cantores de intervenção eram presenças habituais. E, na voz de Manuel  Alegre, a poesia foi também elemento importante.

 

A seguir: 6 .Conclusão

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