EM COMBATE – 19 – por José Brandão

DE VOLTA AO GRAFANIL.

 

No famoso campo militar, ponto de chegada e abalada da maioria dos elementos que, iam fazer frente à guerrilha. A CCav 297 eventual 350, ficou abruptamente sem qualquer cadeia de comando, como se entrasse na orfandade, ninguém mais se preocupou. Então, cada qual procurou os colegas do Esquadrão 297 de origem, a eles se juntando, para orientações.

 

Posto isto, depois das respectivas e necessárias providências pessoais, cada um tratou de respirar fundo e passar uma noite de tranquilidade, dormida no chão, sob abarracamentos provisionais militares. No dia vinte de Março, com a integração de todos os elementos nos esquadrões de eram originários, o eventual naturalmente deixou de existir, com o normal reagrupamento.

 

No mesmo dia procedeu-se à devolução de todo o equipamento militar, corolário eminente do regresso à tão desejada vida civil, para o que havia um Oceano de separação, além de outras formalidades, a constituírem outras tantas provações.

 

Chegou, finalmente o embarque de regresso, era outro dia memorável, o vinte e três de Março de 1964. De manhã cedo foram ordenadas todas as bagagens, que se fizeram de imediato chegar ao transatlântico “Vera Cruz”, que as havia de levar de regresso a Lisboa, com mais cerca de dois mil militares, em fim de comissão.

 

Vieram então as ditas provações, que aquela tropa bem podia dispensar, embora tidas como “honras militares”. Consistiram numa aparatosa parada de despedida, ainda em pleno campo do Grafanil.

 

Duas longas horas sob um calor intenso, em formatura, para ouvir a historiografia das actividades exercidas durante vinte e sete meses, para o caso do Batalhão 350.

 

Foi, realmente, uma grande apoteose de despedida, contando com a presença do General comandante da Região Militar de Angola, a comandar depois um desfile militar de grandiosidade, pelo número de unidade envolvidas.

 

Por fim, todos os intervenientes, que deixavam as obrigatórias funções, que as tivessem desempenhado melhor ou pior, receberam um diploma individual, com a assinatura do citado oficial, comandante Superior, em carimbo aposto, depois de dactilografado o nome pessoal e da Unidade a que pertencia, cada qual e por fim a frase: “Atestado o seu apreço pelo brio profissional e valentia com que se bateu pela Pátria em terras de Angola”.

 

Seguiu-se de imediato o embarque num comboio, em gare criada para o efeito no próprio Grafanil, que fez o transporte de todo o pessoal, para o porto da baía de Luanda, a fim de que o paquete “Vera Cruz” zarpasse até Lisboa, repleto de homens fardados. Pelas três da tarde já com tudo a bordo, podendo ver-se muita gente no cais, fez-se ouvir o toque de despedida pela fanfarra do Regimento de Infantaria de Luanda, à partida do navio. Os dias que pareciam infindáveis, na viagem de regresso, passados em alto mar. Quando se chegava à amurada só se avistava água, por vezes havia o recurso à leitura, também se efectuavam longas conversas, em que eram abordados reluzentes projectos de vida futura. Celebrava-se a Páscoa a vinte e nove de Março, a bordo a monotonia e o veemente desejo do cabal regresso. Começou a sentir-se frio, para quem deixara para trás vinte e sete meses de clima tropical, notava-o mais acutilante, já em atmosfera europeia e porque o fim daquele mês de Março estava agreste, o mar tornara-se muito agitado e o navio balançava bastante. A trinta soube-se estar-se de passagem junto da costa das Canárias, a demonstração de que se aproximava o porto de Lisboa. E o mar continuava no seu frenesim de bravura. Finalmente, no dia um de Abril de 1964, o “Vera Cruz”, manhã cedo acostou à Gare Marítima de Alcântara, na capital de Portugal.

 

Daniel Costa – in JORNAL DA AMADORA

 

http://daniel-daniel-milagre-daniel.blogspot.com/2008/04/esquadro-297-em-angola-11.html

 

 A seguir; Batalhão de Caçadores 443

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