Novas Viagens na Minha Terra, Série II, Capítulo 71. Por Manuela Degerine.

Um Café na Internet

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Num Jardim da China (continuação)


O eremita era uma figura canónica da cultura chinesa. Cansado de viver na Corte, isolara-se na província, enriquecia-se com sensações: a música do vento, o canto do rouxinol, os perfumes da brisa, a queda de uma pétala, o som da chuva nas folhas da bananeira, os reflexos da lua na água de um lago… Jacques Pimpaneau cita vários poemas de Xie Lingyun que falam do retorno à liberdade. Tomemos como exemplo este, que traduzo da versão francesa de Claude Roy esperando que algum parentesco guarde com o original chinês do século V:


Jovem, eu não prezava a agitação

crescera amando as montanhas

entrei por engano na vida mundana

perdi treze anos da minha vida.

Na gaiola o pássaro sonha com os bosques

no tanque o peixe sonha com a ribeira

por isso voltei para o Sul.

Cavo a minha horta, cultivo os meus campos

pouco terreno possuo, dez escassos mus.

A casa é pequena

um olmo e um salgueiro fazem-me sombra

há em frente pessegueiros e damasqueiros.

Avisto ao longe casas de camponeses

fumegam as chaminés no céu calmo.

Um cão ladra

um galo canta na amoreira.

O silêncio habita comigo.

Tenho espaço, tenho tempo.

Vivi demasiado numa gaiola

eis-me agora a mim devolvido.

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