2.7 Como a economia se perdeu, condenada pelos mitos da livre-troca. Por Paul Craig Roberts.
Selecção e tradução por Júlio Marques Mota.
A economia americana foi-se embora. Não voltará a ser a mesma coisa até que os mitos da livre-troca sejam mesmo bem enterrados.
O sucesso económico da América do século 20 foi baseado em duas coisas. A livre‑troca não foi seguramente um deles. O sucesso económico da América foi baseado no proteccionismo, que foi assegurada pela vitória da União na Guerra Civil e pelo endividamento britânico, que destruiu a libra esterlina como divisa de reserva mundial. Depois da Segunda Guerra Mundial, o dólar dos EUA assumiu a função de moeda de reserva, um privilégio que permitiu aos EUA poder pagar os seus encargos internacionais na sua própria moeda.
A segunda Guerra Mundial e o socialismo juntos asseguraram que a economia dos EUA dominasse o mundo em meados do século 20. As economias do resto do mundo tinham sido destruídas pela guerra ou foram sufocadas pelo [socialismo em termos das prioridades do modelo de crescimento capitalista. Editores.]
A posição ascendente da economia americana levou a que o governo dos EUA se despreocupasse em termos de política industrial com as indústrias americanas como os têxteis, assim como subornava os outros países para cooperar com a guerra fria dos EUA e a sua política externa. Por exemplo, as cotas dos Estados Unidos sobre os têxteis vindos da Turquia foram aumentadas em troca da passagem de mais voos directos na Guerra do Golfo, tornando os empregos perdidos na indústria têxtil dos EUA uma despesa de guerra que estava fora do orçamento.
Em contraste, países como o Japão e a Alemanha utilizaram a política industrial para recuperarem as suas posições de antes da guerra. No final dos anos 1970, os fabricantes de automóveis japoneses levaram a indústria automóvel americana, outrora dominante, a uma situação de grande dificuldade. O primeiro acto económico de “livre‑troca” da administração Reagan em 1981 foi o de aplicar quotas sobre a importação de carros japoneses, a fim de proteger Detroit e os United Auto Workers.
Eamonn Fingleton, Pat Choate, e outros têm descrito como é que a negligência em Washington DC ajudou e instigou a erosão da posição económica dos Estados Unidos. O que não quiseram dar, os Estados Unidos deixaram que fosse levado enquanto pregavam uma doutrina de “livre‑troca” de que o resto do mundo zombava.
Felizmente, os adversários dos EUA na época, a União Soviética e a China, tinham sistemas económicos impraticáveis e que não representavam nenhuma ameaça à proeza da diminuição da importância económica da América.
Este afastamento da realidade terminou quando os socialistas soviéticos, chineses e indianos se renderam, por volta de 1990, e isto foi seguido pouco depois pela ascensão da Internet de alta velocidade. De repente, as grandes empresas americanas assim como outras grandes empresas ocidentais descobriram que uma oferta maciça de mão‑de‑obra estrangeira estava disponível a salários praticamente livres, praticamente nulos, diremos…
Para obter o apoio dos analistas de Wall Street e afastar a pressão dos grupos de defesa dos accionistas e também para lhes poder aumentar a rentabilidade das suas aplicações bolsistas e os bónus de gestão e dos traders , as empresas americanas começaram a deslocalizar a sua produção para as zonas off shore. Produtos que eram feitos em Peoria, por exemplo, passaram a ser feitos na China.
À medida que a externalização aumentava, as nossas cidades e os nossos estados americanos foram perdendo cada vez mais a sua base tributária e as famílias e as comunidades perderam os seus empregos. Os empregos de substituição, tais como a venda de produtos deslocalizados por Wal-Mart, estava assente em salários locais muito baixos.
“Os economistas defensores do mercado livre” procuraram ignorar ou mesmos esconder os danos causados à economia dos EUA, defendendo uma Nova Economia baseada nos serviços e na inovação. Mas não demorou muito para que as empresas descobrissem que a Internet de alta velocidade ia permitir-lhes também a externalização de uma boa parte dos serviços profissionais e consequentemente a deslocalização de postos de trabalho. Na América, os mais atingidos foram os trabalhadores e os engenheiros de software e das tecnologia da informação (TI).
As grandes empresas norte-americanas rapidamente perceberam que, declarando a existência de “escassez ” dos trabalhadores norte-americanos qualificados, estas poderiam começar a solicitar ao Congresso a permissão de vistos H-1B de trabalho para estrangeiros pagos a salários bem menores e que viriam substituir a força de trabalho americana altamente qualificada. Muitas das grandes empresas dos Estados Unidos são conhecidas por forçarem os seus empregados norte-americanos a treinarem os seus substitutos estrangeiros em troca de indemnização.
Correndo atrás dos resultados (dividendos) para os accionistas e dos prémios de exercício (de actuação) para os gestores, as megaempresas (corporations) dos EUA abandonaram a sua mão-de-obra americana. As consequências podem ser vistas por toda parte. A perda de base tributária colocou em perigo as obrigações emitidas pelos municípios e pelos Estados e reduziu a riqueza das pessoas que compraram esses mesmos títulos. Da existência de muitos empregos perdidos com boa remuneração resultou uma expansão do endividamento do consumidor, a fim de se conseguir manter o consumo. Como a produção de bens e serviços deslocalizados é depois importada pelos Estados Unidos e aqui vendidos, o défice comercial dos EUA explodiu para valores inimagináveis, pondo em causa o dólar dos EUA como moeda de reserva assim como a sua capacidade em financiar o seu défice comercial.
À medida que a economia americana se ia corroendo pouco a pouco, os ideólogos da teoria da “livre-troca” explicavam com garantias intermináveis de que a América ia bem à frente na concorrência com a China ao enviar para a China os empregos de trabalho desqualificado e as produções industriais poluentes . Livre destes empregos “da velha economia”, os americanos foram embalados com promessas de futuras riquezas. Em vez de sujar as mãos neste tipo de empregos, os esforços americanos fluiriam em inovação e em empreendedorismo. Entretanto, a “economia de serviços” de software e comunicações daria uma muito boa ajuda para a criação de postos de trabalho.
A educação era a resposta para todos estes desafios. Isto apaziguava os académicos, e eles não produziram trabalhos académicos que entrassem em contradição com a propaganda e, assim, não levavam à redução dos fluxos de receitas concedidas pelo governo federal e pelas doações de entidades privadas.
Os economistas defensores da “livre-troca” que produziram a propaganda e a desinformação para se poder esconder o facto de se estar a destruir a economia dos EUA, estes, eram bem pagos. E, como Business Week observou, ” o núcleo duro defensor da externalização tem raízes profundas na GE (General Electric) e na McKinsey,” uma empresa de consultoria. De facto, um dos principais defensores da externalização dos empregos e da produção dos Estados Unidos na Kinsey, Diana Farrell, é agora com Obama um membro do Conselho Económico Nacional da Casa Branca.
A pressão para a externalização de empregos para o exterior, em conjunto com o enorme volume de importações, destruiu as perspectivas económicas para todos os americanos, com excepção dos altos quadros das grandes empresas que recebem os elevados bónus pelos resultados de terem externalizado empregos americanos para o exterior ou por terem conseguido vistos H-1b para titulares de posto de trabalho. Os empregos deslocalizados pagos a muitos baixos salários conjuntamente com vistos H-1B, têm restringido o emprego dos trabalhadores americanos mais velhos e mais experientes. Os trabalhadores mais velhos tradicionalmente recebem salários mais elevados. No entanto, quando o factor determinante é a minimização dos custos de trabalho por causa da taxa de rentabilidade para os accionistas e também devido aos elevados bónus de gestão, os trabalhadores mais velhos não são já empregáveis. Fazer um bom trabalho, oferecer um bom serviço, já deixou de ser o objectivo da grande empresa… Em vez disso, o objectivo é minimizar os custos do trabalho a todo o custo.
(Continua)
PARABENS AO AUTOR DO TEXTO.Boa noite.Numa altura em que os economistas têm sido desconsiderados, injustamente a meu ver, aparece este texto muito bem elaborado,.que, apesar de não trazer soluções, dá uma explicação muito acertada de como as coisas funcionam, referindo,inclusivamente, o pseo da influência que as guerras a sério no desenvolvimento das economias. É o que me parece apesar de, propriamnte da áreaCumprimentos doJOÃO BRITO SOUSA