DIÁRIO DE BORDO, 5 de Abril de 2012

 

 

O nosso primeiro-ministro, há dias, achava que não seriam precisas mais medidas de austeridade. Hoje veio dizer que os nossos subsídios de férias e de Natal talvez só comecem a ser repostos lá para 2015. Em Bruxelas um dos senhores da troika deu a entender que lhes podemos dizer adeus de vez.  E na segunda-feira Mota Soares, ministro da Solidariedade (?) foi à Concertação Social apresentar mais cortes nas baixas por doença, no RSI, etc. Pois, é a austeridade…


Há aqui um ponto básico a sublinhar. A austeridade não apareceu por acaso, ou para ajudar a vencer uma crise, finda a qual vai de férias. Está cá para ficar. Basicamente querem obrigar-nos a viver com ela, para alcançar um objectivo, que é fazer-nos sentir inseguros. É esse o objectivo principal do empobrecimento, que o Passos Coelho um dia preconizou. Pensando bem, a teoria de que tudo isto não tem acontecido por acaso tem razão de ser. É a tal política de choque. Querem fazer com que nos sintamos inseguros, porque assim ficamos mais maleáveis.  


Entretanto há certos aspectos que são fulcrais. É o caso do ataque ao Rendimento Social de Inserção (RSI).  Começou por se chamar Rendimento Mínimo Garantido (RMG). A passagem do RMG a RSI, levada a cabo por Bagão Félix, antes de se suspeitar que íamos ter uma crise tão grande e tão definitiva, foi um deitar abaixo de uma garantia importante. A garantia de que toda a gente tinha direito a um patamar mínimo de nível de vida, assegurada pelo sistema de segurança social. Em vez disso passámos a ter direito apenas a um apoio para reinserção, muito condicionado, se tivermos caído abaixo do tal patamar. Foi uma despromoção importante.  Agora estão a atacar também o subsídio de desemprego. Vão reduzi-lo até desaparecer, mesmo tendo em conta que, de passagem, vão dando  umas abébias a algumas situações muito complicadas, como é o caso de casais de desempregados com filhos. Qual será o peso estatístico desta situação? Os casais terão de ser casados mesmo, ou incluirão também os que estão em união de facto? Até que idade os filhos contarão para este efeito? Vamos a ver, neste caso concreto, o que sai da concertação.


É esse o objectivo principal destes senhores, tornar-nos mais maleáveis. Assim poderão eternizar as diferenças políticas e sociais, e até aumentá-las. Falam em concorrência, em competição, mas o jogo está viciado á partida, e os vencedores são conhecidos à partida. Só há uma coisa a fazer:  mudar o jogo.

 

 

Leave a Reply