A primeira vez que fui a Paris, foi pelos dias da Queda do Muro de Berlim. Sem que déssemos por isso… Atravessámos a cidade de carro em poucos minutos, parámos num “fast-food”, ( o meu primeiro, de toda a vida!), nos Campos Elísios e seguimos viagem para a Alemanha. No regresso, passados poucos dias, tentámos ver mais qualquer coisa, mas comemorações davam azo a estradas fechadas, polícias na rua, voltámos a descer os Campos Elísios e regressámos a Portugal.
A outra vez que fui a Paris, foi numa escapadela de fim de semana, frio, ventoso, chuvoso, mas nada que nos tivesse impedido de visitar o possível em duas noites e dois dias.
Paris III
Foto de Margarida Ruivaco
Paris foi assim:
Sair do hotel, perto da Gare du Nord, bem cedinho, e entrar no primeiro café aberto para um pequeno almoço demasiado dispendioso.
Seguir a pé, à chuva, à procura de uma sapataria, pois a chuva intensa dera cabo dos sapatos. Dar de caras com as Galerias Lafayette, e ficar encantada a ver as montras com bonequinhos articulados. Entrar, sair com uns sapatos e pensar como seria bom ser rico e poder percorrer todas aquelas lojas com dinheiro no bolso.
Comprar mais um chapéu de chuva aos vendedores ambulantes e um chapéu de feltro a condizer com o casaco.
Seguir de metro até perto do Trocadéro, fechado devido a greve. Descer direito à Torre Eiffel, e desistir de esperar à chuva.
Ver que está um barco para partir, e correr para apanhar um lugar numa viagem pelo Sena, aproveitando uma súbita paragem da chuva. Aproveitar todos os segundos, e todos os olhos. Relembrar as aulas de francês do 7º ano, com mais de 20 anos e sentir a magia. Beijar o marido debaixo da ponte certa e esperar que o desejo se concretize ( continuo à espera, mais de dois anos passados…).
Sair do barco, de novo com chuva, desistir de novo da torre e apanhar o metro para o Arco do Triunfo.
Almoçar no mesmo “fast-food”, tantos anos depois, e descer os Campos Elísios, a pé, absorvendo luz e montras, aspirando Paris, o cheiro a maçãs, caramelo e crepes, de todas as barraquinhas de vendas, em pleno mês do Natal.
Apanhar o metro e atravessar Paris, direitinhos ao Sagrado Coração. Ver que Paris já não é igual ao de lá atrás. Ser surpreendida por vendedores que em menos de um suspiro já nos fizeram uma pulseira de macramé no pulso, e procurar o ascensor.
Admirar Paris, do alto do monte, entrar, sair, fotografar, e já escuro, descer para Montmartre, parar em Place du Tertre e sentir-me Amélie.
Continuar a descer, e descer, e descer, e tanto que se desce na Rua Foyatier…até Pigalle. Perder a vergonha. Entrar em lojas, sem corar. Ver o preço dos espectáculos do Moulin Rouge , sorrir, e, pelo tardio da hora, voltar a pé para o Hotel, para um duche, e roupa seca…
Regressar a Pigalle, de autocarro, jantar, e regressar a pé, aproveitado a aberta, e uma noite calma e pouco fria, para descobrir outras ruas de Paris.
Voltar a sair, bem cedo, para sermos os primeiros a chegar ao Louvre, aberto excepcionalmente, em dia de greve. Assistir ao acordar dos sem abrigo. Descobrir que toda agente quis chegar primeiro ao Louvre, e que será uma guerra perdida.
Dirigir-se apressadamente para Orsay, e nem passar o rio para o outro lado, só de ver a fila.
Caminhar junto ao rio até Notre Dame, que visitámos, bem como ao museu da Cidade.
Tentar de novo a torre. E, de novo, desistir.
Apanhar o primeiro comboio e sair em Versailles.
Almoçar, reforçadamente, e palmilhar, encantada, o palácio. Sair de coração cheio, de alma cheia, e com dores nos pés.
Regressar, de comboio, e, pela última vez, tentar “A” torre. A torre guardada por guardas armados, com centenas de metros de filas de gente a olhar para cima.
Mas Paris é mais que isso, pelo que seguimos de novo, a pé, ao longo do rio, aproveitando as última horas do dia.
Ficar com saudades, ainda antes de sair do comboio que leva ao aeroporto.