EM COMBATE – 31 – por José Brandão

A coluna um a um, em fila indiana, ou «bicha de pirilau», foi a formação de combate mais utilizada pelos militares portugueses nas suas deslocações apeadas pelas matas de África. Seguir por trilho já aberto na floresta ou avançar a corta-mato era a difícil opção a tomar em cada momento da progressão. De modo geral, a unidade organizava-se do seguinte modo: um grupo de «picadores» seguia à frente da coluna, a pé, procurando detectar as minas, com uma fina vara de aço, a «pica», ou, mais raramente, com detectores de minas, grupo que era, por vezes, protegido por outro que seguia nos flancos, de modo a evitar que esses homens sofressem ataque directo.

 

Atrás dos «picadores» e das guardas avançadas ou de flanco, ia uma viatura rebenta-minas, normalmente pesada, primeiro as GMC e mais tarde as Berliet, carregada com sacos de terra sobre as rodas e no compartimento do condutor e no de carga, e dispondo por vezes de uma torreta blindada ou outros dispositivos que os militares portugueses improvisaram, como o enchimento dos pneus com água, o que tinha a vantagem de absorver boa parte da energia das explosões.

 

A coluna seguia então à velocidade dos homens que picavam as minas, procurando cada viatura não se afastar do rasto deixado pela que a precedia, de modo a diminuir os riscos de explosão de minas.

 

Abrir caminho na floresta densa ou na savana de arbustos de ramos entrançados e espinhosos era mais seguro, mas constituía esforço tremendo que os esgotava em poucos quilómetros, enquanto aproveitar os trilhos já batidos pelas populações ou abertos por outros militares permitia avançar com maior facilidade, mas representava risco acrescido de enfrentar uma emboscada ou mina.

 

Optar por uma ou outra das soluções resultava da análise da situação, mas era sempre jogo perigoso. Quando havia que chegar rapidamente aos objectivos e as tropas julgavam que a sua presença não fora ainda detectada, escolhia-se marchar pelos trilhos e confiava-se na sorte. O soldado número um da formação procurava «ler» o terreno onde punha os pés e ver para além das árvores que se encontravam diante de si, de modo a evitar as minas e a estar preparado para reagir a alguma emboscada.

 

Sabia-se que os guerrilheiros colocavam minas e armadilhas nos trilhos por onde previam a aproximação das tropas inimigas às suas bases ou zonas controladas, tendo o cuidado de assinalar esses locais de forma camuflada, só conhecida das populações da área. Um corte aparentemente fortuito no tronco de certa árvore, um ramo partido ou feixe de capim caído serviam de sinais, mas os militares portugueses dificilmente os conseguiam interpretar.

 

Embora se tenham realizado ao longo dos anos da guerra várias operações clássicas de abertura de itinerários com base nos esquadrões de reconhecimento existentes, apoiados por elementos de engenharia, a forma mais vulgar de as efectuar era recorrer a uma unidade tipo caçadores e aos seus meios orgânicos.

 

Estas operações organizavam-se, basicamente, como coluna de viaturas que se deslocava entre dois pontos, percorrendo itinerários perigosos. O responsável pela força distribuía os seus meios e os seus homens de modo a fazer face ao perigo mais provável, as emboscadas ou as minas.

 

No caso de serem as primeiras as acções mais frequentes, reforçava a frente da coluna, se possível com metralhadoras pesadas, distribuía os seus efectivos ao longo da coluna, aumentando o número de lançadores de granadas, quer fossem dilagramas, quer granadas de mão e guarnecia a retaguarda com morteiros para apoio aos elementos que caíssem na zona de morte.

 

As acções militares da contra-guerrilha efectuadas pelas forças portuguesas, embora se considerasse que podiam resumir-se a adoptar táctica semelhante à da guerrilha, foram sobretudo condicionadas pela maior ou menor capacidade de resistência dos militares ao terreno e ao clima. Por isso, as operações mais vulgares foram quase sempre de curta duração, raramente excedendo os quatro dias e levadas a efeito por unidades de tipo pelotão/grupo de combate de trinta homens ou, mais raramente, por uma companhia reduzida (três grupos de combate), que actuava dentro de uma área à sua responsabilidade, a zona de acção (ZA).

 

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