Carta de Veneza – 6 – por Sílvio Castro

“O meu ‘Poema dos 80 anos’ na versão italiana de Simonetta Masin“ O meu “Poema dos 80 anos”, eu o completei em janeiro deste 2012, tendo tido a grande satisfação de vê-lo publicado já aos 6 de março do mesmo ano nas páginas deste nosso caro blog, em publicação de João Machado e edição de Carlos Loures. Logo em seguida o poema teve boa divulgação no Brasil, saindo publicado nas páginas do Jornal de Letras e Artes – JL, do Rio de Janeiro; no Suplemento Literário de Minas Gerais, de Belo Horizonte, e nas páginas da Revista da ANE (Associação Nacional de Escritores), de Brasília.

 

Hoje “A Viagem dos Argonautas” hospeda a primeira tradução que o mesmo poema acaba de receber, aquela em língua italiana, por obra de Simonetta Masin. Simonetta Masin é uma jovem estudiosa italiana das literaturas de língua portuguesa. Paduana de nascimento, realizou a sua formação superior na Universidade patavina, frequentando os nossos cursos e licenciando-se em “Língua e Letteratura Portoghese”, com a tese de láurea, “O Histrião ou o Simulacro da Vida“, no ano-acadêmico de 1998-99.

 

Pela mesma, ela recebeu uma bolsa para o Curso de Doutorado, por ela realizado sob a minha direção, tendo defendido com o maior êxito a tese, “Il declino dei chierici e l’ascesa degli intelletuali – La poesia portoghese a ridosso delle date cruciali del 1865 e del 1871”, Dottorato di Ricerca in Romanistica – ciclo XVII (2002-2004), Univ. de Padova, 2005. Convidada a integrar-se no corpo docente do Setor de Língua Portuguesa, da Faculdade de Letras, aonde se doutorara, logo em seguida ela recebe do Instituto Camões uma bolsa de 2 anos para a divulgação didática da cultura portuguesa. Como acontece com a grande maioria dos jovens pesquisadores da Itália, Simoneta desde então encontra-se na contigência de esperar por um concurso que a crise italiana e de suas universidades faz com que se perpetue contra os jovens doutores prontos para continuar a própria atividade professional.

 

Simonetta Masin, além de tradutora de poesia – dela a tradução italiana do volume de poemas de Sílvio Castro, Gira Mu(o)ndo, com a edição veneziana, Gira Mo(u)ndo, trad. e introd. de Simonetta Masin, Centro Internazionale della Grafica, Veneza, 2003 – é autora igualmente de artigos e ensaios sobre a sua especialidade, bem como poetisa, com poemas saídos em várias publicações italianas.

 

Dela é igualmente o livro inédito de poemas, pronto para uma edição, do título, Storia di copertina. Sílvio Castro -“Poema dos 80 anos” Este tempo que agora passa qual água fluente de origens várias tudo me informa num código pessoal forjado afora. Leio o código desde longes plagas e cada estação percorrida se recompõe em binários largos em que fatigantes locomotivas correm. Corro e estou parado na velocidade do trem desabusado de todos os sinais e para a frente sempre avança. Paisagens matizadas abraçam o trem de incansável foga; eu estou na corrida e a um só tempo na matização alada. Muitos são os verdes desses campos, muitas as flores e os frutos amáveis; quanto mais frutos e flores me recobrem, mais avanço para paradas novas. Forte me faço da corrida franca procurando sempre o tempo inédito que me está chegando e que eu almejo prontamente em ato. Tempo, binários, locomotivas afora, enquanto eu me fixo na contemplação veloz de tudo quanto os meus olhos sabem. Sou sempre eu a cada estação passada, mas também sou aquele novo que surge nas curvas mais agudas da viagem em indo. Quanto mais viajo, mais me curvo. Viajo sempre e então sou também pranto versado, mas composto sempre pelo amor que encontro nas mulheres. Com este amor retomo forças e recomeço o viajar que se faz vivo e sem fim.

 

A tradução italiana de Simonetta Masin:

 

 “Degli 80 anni”

 

Questo tempo che ora passa come acqua da origini varie tutto mi informa in un codice personale forgiato nel fuori. Leggo il codice fin dalle plaghe lontane e ogni stazione percorsa si ricompone in larghi binari su cui corrono affaticate locomotive. Corro e sono fermo sulla velocità del treno disingannato di tutti i segnali sempre innanzi va. Paesaggi sfumati abbracciano il treno dall’instancabile foga: io sono nella corsa e allo stesso tempo nello sfumare alato. Molti sono i verdi di questi campi, molti i fiori e i frutti amabili; più sono i frutti e i fiori che mi ricoprono, più io avanzo verso nuove fermate. Forte mi faccio della corsa franca sempre in cerca del tempo inedito che mi arriva e che io subitamente bramo in atto. Tempo, binari, locomotive nel fuori, mentre io mi fisso nella contemplazione veloce di tutto quanto i miei occhi conoscono. Sono sempre io in ogni stazione passata, ma sono anche colui che nuovo viene nelle curve più acute del viaggio che va. Più viaggio, più mi curvo. viaggio sempre e allora sono anche pianto versato, ma sempre composto dall’amore che nelle donne incontro. Da questo amore riprendo forza e ricomincio il viaggiare che si fa vivo e senza fine.

 

Sílvio Castro

 

(traduzione dal portoghese di Simonetta Masin)

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