08h00 – Verifica-se o corte de energia ao centro emissor do R.C.P., em Porto Alto, que passa a funcionar com o gerador de emergência. – A Companhia do CIOE, comandada pelo capitão Delgado da Fonseca, chega à cidade do Porto, dirigindo-se ao CICA 1.
08h15 – Uma força da GNR saída do Quartel do Cabeço de Bola, constituída por 12 “Land Rover”, toma posição no Campo das Cebolas. Após um breve diálogo com Salgueiro Maia e face à disparidade de meios, o comandante é convencido a abandonar o local.
08h22 – O CEMGFA, general Luz Cunha, informa o chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), general Paiva Brandão, que “pretende utilizar meios da Escola Prática do Serviço de Material (EPSM) para tomar posições e libertar o AB 1. Irem pela auto-estrada e tomarem estrada secundária. Terem cuidado com o Cmdt. dessa força porque a entrega do Ferrand o deixou muito em baixo”.
08h30 – É lido, pela primeira vez na Emissora Nacional, um comunicado do MFA.
08h50 – Uma coluna de nove viaturas militares da EPE de Tancos estaciona no centro emissor do R.C.P., a fim de reforçar a sua defesa. Mais tarde segue para Lisboa onde ocupa a Casa da Moeda, seu objectivo inicial.
Havia quem não soubesse o que se estava a passar – mas havia também quem estivesse informado, como foi o caso do Luís Rocha que nos conta como viveu esse dia- «Liguei o rádio e comecei a ouvir as notícias dos acontecimentos, com os conselhos para as pessoas não saírem de casa». Mas é melhor lermos tudo:
Preparava-me para mais um dia de trabalho. Era responsável da área administrativa numa Editora de publicações. Liguei o rádio e comecei a ouvir as notícias dos acontecimentos, com os conselhos para as pessoas não saírem de casa.
Contactei telefonicamente para a sede o Carlos Loures, responsável pela área editorial, que era pessoa que tinha sentido no corpo e na mente a repressão da ditadura e entendia melhor do que eu o que se estava a passar. Como responsáveis pelo funcionamento da empresa, decidimos não abrir.
Já era casado, tinha um filho com 3 anos e a minha mulher estava grávida de uma menina que acabou por nascer em Maio. No 1º de Maio de 1974 estava na barriga da mãe, nos festejos de liberdade, na Alameda D. Afonso Henriques.
Por volta das 11 horas do dia 25 de Abril fui com o meu filho para o Rossio, onde encontrei um mar de gente que se abraçava e gritava “LIBERDADE”. Animados por este sentimento, que era novo, parecia que toda a gente se conhecia. Naquele momento todos eram iguais e pareciam sentir-se como irmãos. Como estava com o meu filho andei por ali e mais tarde vim para casa, onde fui seguindo pela rádio o desenvolvimento da situação.
Enquanto ouvia as notícias ia reflectindo sobre o acontecimento e a sensação imediata e mais forte que tive, foi a de que agora já não iria ser chamado de novo para o serviço militar de onde tinha saído com o posto de Alferes Miliciano em Março de 1972. Isto porque os oficiais milicianos que não tivessem ido para a guerra colonial, eram mais tarde mobilizados como capitães milicianos e aí para irem para as colónias. Era um pesadelo com que acordava todos os dias e aí senti-me finalmente “LIVRE”.
Tinha cumprido 39 meses de serviço, 30 dos quais num quartel de Lisboa por onde passavam, entre outros, os militares que iam para as colónias no chamado regime de mobilização individual, dos que vinham passar dias de folga ou períodos de férias à Metrópole (Continente e Ilhas), dos feridos e doentes mentais que vinham para o Hospital Militar de Lisboa, dos caixotes de madeira transportando caixões com mortos, para serem entregues às famílias.
Naquele dia acabava o pesadelo e tomei consciência de que ia começar uma nova vida, com a esperança no lema: Liberté, égalité, fraternité.
Passados 38 anos o acesso àqueles princípios está bloqueado como está tão bem expresso na canção que se segue de “Sérgio Godinho”