EM COMBATE – 42 – por José Brandão

A GRANADA

 

O trilho armadilhado… esperteza de militar:

Estávamos na época das queimadas e como anteriormente disse, fizemos permanência em cima de um morro três meses seguidos.

 

Fazíamos patrulhamentos na redondeza e vestígios do inimigo, pouco.

Ora o oficial de comando Alferes se bem pensou melhor o fez…

Uma granada dentro de uma lata das que nos serviam o pequeno-almoço tipo embalagem Coca-Cola, tirada a cavilha, granada dentro presa por um fio atravessando o trilho, granada de um lado fio preso no lado contrário do trilho, fio camuflado a uma altura relativamente baixa. Durante a noite estávamos no acampamento quando se ouviu o rebentamento. Visitámos depois o local já de dia, demos com vestígios de sangue, e os indivíduos continuaram caminhada fora do trilho, notou-se porque se viram as pegadas na cinza.

Ao passar a perna o fio é puxado, a granada sai fora da lata e assim se provoca o rebentamento.

 

O ISOLAMENTO

 

Foi durante vinte e sete meses, que o pessoal da companhia 1494 composta por cento e tal homens, viveu numa determinada área com cerca de arame farpado, com postos de vigia em volta, a cinco metros de altura com sentinelas de dia e noite.

 

Composta pelo capitão Adelino F. Almeida, pelo tenente Médico Dr. Alonso, clínica geral e estomatologia, Alferes miliciano Ferrajota, Alferes miliciano Eleutério entretanto falecido, Alferes miliciano Tomé Macedo, Alferes miliciano Rui Borges Digníssimo juiz em Lisboa (o capitão segundo informações também já faleceu), quatro sargentos do quadro furriéis milicianos, e soldados.

O isolamento era total além do ambiente de boa camaradagem, cada um tentava passar o tempo da melhor forma uns ouvindo música, outros jogando futebol, escrevendo às famílias, às namoradas, e madrinhas de guerra, bebendo cerveja, etc.

 

Era muito difícil, e para alegrar as tropas tínhamos correio uma vez por semana.

 

Tivemos momentos de termos no quartel um único pelotão. Para os que nunca fizeram tropa, “pelotão” é um grupo de homens, poucos ao ponto de eu estar de serviço ao posto de socorros e cabo da guarda ao mesmo tempo, ao que também se pode chamar de crise.

 

SENTINELA

 

Em muitas das saídas que fizemos, o nosso capitão saiu muitas vezes para as operações com os seus homens e leal que era, não havia qualquer distinção. Na mata de noite, fazia sentinela tal e qual como o soldado. Ele próprio se oferecia para entrar na escala de vigia e dizia contem comigo.

Como já descrevi, o enfermeiro também não era bafejado pela sorte nas saídas para o mato, era um operacional a cem por cento. Tínhamos que participar em todas, e como carregados que íamos, o nosso capitão num patrulhamento bastante difícil e doloroso, vira-se para o pessoal e disse “o Enfermeiro não faz sentinela.”

 

A PICADA

 

Para quem nunca esteve em Angola, “picada” significa uma estrada ou caminho de terra batida por donde naturalmente circulamos, todos os dias com um sol abrasador, outros com chuva e por vezes até cacimba (na gíria africana quer também dizer humidade, umas vezes cheia de lama outras cheia de pó).

 

O inesperado aconteceu, a companhia que estava no Inga e outras em redor, vinham-se reabastecer ao Toto.
E foi na estação das chuvas, que sucede que a um km do Toto, o motorista perde o controlo da viatura e então o inesperado acontece… Primeiras duas baixas do Batalhão…

 

Da mesma companhia, noutra operação no mato nas margens de um rio num laranjal, também foram surpreendidos pelo inimigo. Mais duas baixas consideradas em combate, portanto a qualquer momento poderíamos ser surpreendidos ou premiados com a pouca sorte.

 

 

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