A crise na Europa, a crise em Madrid, a crise de um sistema: olhares sobre Espanha

Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

 

4. Grupos de jovens contra a reforma do mercado de trabalho

 

 

Os espanhóis mobilizaram-se na quinta-feira para protestar contra a austeridade e a reforma no mercado de trabalho. Antes mesmo do grande desfile do fim do dia, eclodiram incidentes em Barcelona.

 

 

 

Grupos de jovens protestam contra a reforma do trabalho  em Espanha, durante a greve geral de  29 de Março de 2012.


REUTERS/Andrea Comas

 

 

Os espanhóis contra a austeridade.

 

A Espanha viveu muito lentamente esta quinta-feira, 29 de Março, durante uma greve geral contra a reforma do mercado de trabalho e contra as políticas de austeridade de governo de direita, quinta-feira a ser preenchida por manifestações em cidades  como Madrid, onde milhares de grevistas invadiram as ruas, sob elevada presença da polícia. Em Barcelona, ​​a segunda cidade do país, eclodiram confrontos entre os policias e grupos de jovens que os enfrentaram, queimando os caixotes do lixo, mesmo antes da grande manifestação convocada para a noite como em muitas mais cidades do país.

 

 

 

Agitando bandeiras vermelhas e cartazes com as palavras “Reforma do trabalho, não”, os piquetes tinham-se instalado no início da manhã junto dos portões das fábricas, dos mercados grossistas em Madrid e de Barcelona, ​​dos bancos e das estações de transporte colectivos, colocando cartazes onde se dizia: “Fechado devido à greve.”

 

 

Os sindicatos Comisiones Obreras (CCOO) e UGT querem denunciar a reforma do mercado de trabalho aprovada em 11 de Fevereiro pelo Governo, afim de combater o desemprego recorde, que atinge  22,85% dos activos. Segundo eles, a reforma só vai agravar o flagelo, enquanto o governo espanhol por si só já admitia a destruição de mais 630.000 postos de trabalho em 2012 e com a taxa de desemprego em 24,3% no final do ano.

 

 

Para o primeiro-ministro Mariano Rajoy, no poder desde há cem dias, a greve vem no pior momento: sob os olhos dos seus parceiros europeus, preocupados com o estado das finanças públicas do país, o Conselho de Ministros deve apresentar na sexta-feira o orçamento para 2012, marcado por cortes severos. O objectivo deste orçamento, classificado como “austero”, pelo próprio Mariano Rajoy é o de querer reduzir para 5,3% do PIB o défice até ao fim de ano, depois de uma derrapagem de 8,51% em 2011, e com o custo de pesados sacrifícios sociais “Eu compreendo que eles façam greve. A reforma só vai servir para despedir pessoas ainda mais facilmente”, comentou Pedro Moreno, empregado numa grande  superfície à volta de Madrid. “Mas agora não é a altura de perder dias de trabalho. Tenho a sorte de ter um emprego”, acrescentou o homem de 32 anos que apanhou o metro até à Plaza de Castilla, uma das principais estações de transportes públicos em Madrid. “Eu não vou fazer greve porque isso significa também cooperar com a crise e perder milhões de euros  de que precisamos para sair da crise “, confidenciou Carmen Sanchez, uma funcionária de 45 anos, à espera do comboio numa plataforma na estação de Atocha.


Incidentes em Barcelona

 

 

Mesmo antes da grande manifestação convocada para o final da tarde, houve grupos que se reuniram ontem de manhã no centro de Madrid, local rigorosamente vigiado pela polícia que bloqueava as avenidas. “Não recuamos um milímetro contra a reforma. Greve Geral”, gritavam os manifestantes. Enquanto os sindicatos anunciavam imediatamente um “enorme sucesso”, o Ministério do Interior informava que se tratava de uma greve de baixa adesão. 58 pessoas foram presas nessa  manhã em todo o país, seis policias e três grevistas foram levemente feridos em incidentes de menor  importância, de acordo com o Ministério do Interior. Em Barcelona, ​​as autoridades regionais anunciaram 30 detenções ao longo da tarde.

  

O impacto da greve parece ter sido limitado pelo acordo  de serviço mínimo concluído entre sindicatos e o governo, para já não mencionar a preocupação de muitos espanhóis em não perderem um dia de salário num contexto de apertar o cinto. Em Madrid, em média 30% de metro e autocarros estariam a circular. No resto do país, estavam previstos 30% de comboios regionais, bem como 20% dos comboios nacionais. As companhias aéreas Iberia, Air Nostrum e Vueling cancelaram uma média de 60% dos seus voos. Além dos  serviços públicos, as indústrias metalúrgicas e do automóvel pareciam as mais afectadas pelas paralisações de trabalho. Os pontos turísticos, como a Alhambra de Granada ou o Museu Picasso em Barcelona, ​​permaneceram fechados.

 

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