Gernika, por fim! – 3 – por António Gomes Marques

Um Café na Internet

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

«A tribuna actual, diz-se na brochura, reserva-se para ocasiões especiais, como o juramento do cargo de Lehendakari e de Deputado Geral de Biscaia.

 

 

 

 

Uma placa recorda as palavras utilizadas em 1936 por José Antonio Agirre, primeiro Lehendakari, que se converteram em fórmula protocolária para realizar o referido juramento.» São estas as palavras:

 

«Inclinado perante Deus, em pé sobre a terra basca em memória dos antepassados sob a Árvore de Gernika juro desempenhar fielmente o meu cargo (Jaungoikuaren aurrean apalik euzko-lur zutunik asabearen gomutaz Gernika’ko zuaizpian nere aginduba ondo betetzia zin dagit)»

 

Este juramento passou a repetir-se sempre que havia uma tomada de posse por todos os Lehendakaris (Presidentes do Governo Basco), sobre um crucifixo e uma Bíblia em euskera. Entretanto, acrescentou-se, antes da palavra «juro», a frase «perante vós, representantes do povo». Em 7 de
Maio de 2009, tomou posse o primeiro Lehendakari não nacionalista, o socialista Patxi López, marcando a distância, sempre salutar, entre o Governo do País Basco e a Igreja, modificando o juramento tradicional para:

«De pé, em terra basca, sob a Árvore de Gernika, perante vós representantes da cidadania basca, em memória dos antepassados, prometo, no respeito pela Lei, desempenhar fielmente o meu cargo de lehendakari»

 

Mas não se limitou à alteração do juramento, dado que o fez substituindo o crucifixo e a Bíblia pela Constituição espanhola e pelo Estatuto de Gernika.

 

Actualmente, embora o juramento represente o pacto entre o «lehendakari» eleito e a lei, comprometendo-se a respeitá-la e a cumpri-la, a verdade é que o juramento e o cargo foram referendados pela soberania popular. Sobre o Juramento em Gernika, escreve Imanol Villa: «…,muito possivelmente, aqueles que escreveram o juramento pronunciado por José Antonio Aguirre em 1936 desenharam uma fórmula de respeito e evocação ao passado –‘em memória dos antepassados’- que era mais um acto de cortesia e reconhecimento pela História, que uma maneira de recuperar antigas lealdades e pactos.»

 

 

 

Sobre a Casa de Juntas de Gernika, há ainda a referir a «Sala do Vitral», que resultou da transformação em 1964 do pátio descoberto do projecto inicial num pequeno museu dedicado à História de Biscaia, onde a nossa atenção logo se dirige à cobertura do espaço, o referido vitral (v., acima, as fotografias da sala), instalado em 1985, que mostra graficamente o simbolismo da árvore como ponto de encontro dos diferentes municípios de Biscaia.

 

Falar demoradamente sobre o que será o maior símbolo do País Basco e não falar do desejo de muitos em que se constitua como país independente, poderá parecer estranho, sobretudo para alguns dos nossos amigos do blogue. Lembro, no entanto, que sou defensor de uma Europa federal, agora mais convicto com a crise em que vivemos.

Lembro também um meu comentário em que remetia a questão para a vontade do povo basco, a quem caberá a decisão, desde que utilizados processos democráticos, ou seja, não sou apoiante de processos terroristas, normalmente originando uma maioria de vítimas inocentes.

 

Nesta passagem pelo País Basco, lembro um episódio curioso. Saíamos de um dos muitos e bons restaurantes existentes na parte velha de San

 

 

 

Sebastián quando, de repente, ouvimos gritos de alegria e pessoas a saltar na rua. Curiosos, logo verificámos que se jogava o Real Madrid – Barcelona e o clube catalão acabava de marcar o primeiro golo, enchendo de satisfação os bascos presentes, deixando eu a interpretação do facto aos leitores. Mas, dentro do respeito pelos valores democráticos numa sociedade livre, para a qual ainda muito devemos trabalhar para conseguir, registo com muita alegria a admissão da candidatura da Bildu pelo Tribunal Constitucional Espanhol, tendo sido o segundo partido mais votado no País Basco nas eleições municipais ontem realizadas em Espanha, ultrapassando os nacionalistas do PNV, obtendo mesmo a maioria em San Sebastián, elegendo no total mais de 1100 vereadores. Em Bilbao ganhou o PNV.

Terá sido bom para o País Basco? E para a ETA? Foi, com certeza, um bom princípio para a defesa democrática dos interesses dos bascos.

 

Convém também reflectirmos um pouco sobre o Bildu, nomeadamente sobre as forças que o constituíram. O novo partido congrega as forças do Batasuna (ou os seus herdeiros), o Euska Alkartasuna (EA) e a Alternativa (os dissidentes dos comunistas bascos), ou seja, a força predominante é claramente a esquerda basca próxima da ETA, dado que tanto o EA e a Alternativa são formações que hoje deterão pouca força. Presumo também que muitos dos votantes no Bildu eram ou votantes no PNV ou mesmo nos socialistas do lehendakari Patxi López, cujo executivo tem tido o apoio dos nacionalistas do PNV, partido este que também se comprometeu a apoiar o Governo de Zapatero. Como vai ser agora?

 

Vamos ter de seguir com muita atenção a evolução no terreno do novo quadro político no País Basco. Eu vou procurar fazê-lo!

  

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