O GARDEN- PARTY, de KATHERINE MANSFIELD – II. Tradução de João Machado

Um Café na Internet

(Continuação)

― É verdade, menina ― disse o homem mais alto, um fulano magro e sardento, e poisou a caixa de ferramentas que trazia, deu um piparote para trás no chapéu de palha e sorriu para ela ― É por isso mesmo.

 

Tinha um sorriso tão natural, tão simpático que Laura recuperou a calma. Que lindos olhos que ele tinha, pequenos, mas tão azuis! E quando olhou para outros, viu que também sorriam. ―Anima-te, que a gente não te morde ― pareciam dizer. Que trabalhadores tão simpáticos! E que manhã tão bonita! Não devia falar na manhã tão bonita, tinha de mostrar um ar grave. Claro, o toldo.

 

― Então, acham que pode ser no relvado dos lírios? Fica bem ali?

 

E apontou para o relvado dos lírios com a mão que não segurava o pão com manteiga. Os homens viraram-se para olharem para lá. Um baixinho forte mordeu o lábio inferior, e o alto franziu as sobrancelhas.

 

― Não me parece ― disse ele. ― Não dá suficientemente nas vistas. Está a ver, quando se tem um toldo ― virou-se para Laura com o seu jeito descontraído, ― procura-se metê-lo num sítio em que nos apareça tal como um estalo na cara, se me faço compreender.

 

A educação de Laura fez com que lhe viessem à cabeça dúvidas sobre se não seria uma falta de respeito um simples trabalhador falar com ela com termos como um estalo na cara. Mas procurou seguir a ideia dele.

 

― Um canto do campo de ténis ― sugeriu ela ― Mas a orquestra também tem de ficar num canto.

 

― Hum, vão ter orquestra? ― disse outro homem. Estava pálido. Tinha um ar ansioso enquanto os seus olhos negros percorriam o campo de ténis. No que estaria a pensar?

 

― Vai ser só uma orquestra muito pequena, ― disse Laura delicadamente. Talvez ele não se importasse tanto se a orquestra fosse realmente pequena. Mas o fulano interrompeu.

 

― Olhe, menina, ali há lugar. Ao pé daquelas árvores. Ali fica muito bem.

 

Ao pé das karakas. Assim, as árvores das karakas ficavam escondidas. Eram encantadoras, com as folhas largas e reluzentes, e os cachos de frutos amarelos. Eram como as árvores que imaginamos numa ilha deserta, altivas, solitárias, erguendo as folhas e os frutos ao sol num esplendor silencioso. Porque haveriam de ser escondidas por um toldo?

 

(Continua)

Leave a Reply