Esta é cabana na mata.
A cabana que construímos num daqueles piqueniques de Agosto onde as famílias e os amigos se reúnem à volta de mesas fartas, e onde se dorme a sesta em mantas de algodão, tecidas em velhos teares de madeira.
Este é o Pinhal do Rei, a Mata Nacional de Leiria um daqueles sítios maravilhosos, desconhecido por muitos, adorado pelos que conhecem os seus recantos.
Não importa que rei mandou plantar, se D. Dinis, se D.Afonso III, o que importa é que se tem mantido ao longo dos séculos, com bom planeamento de recursos e manutenção, ainda que atraiçoado por diversos incêndios.
A sua área é vasta, e atravessa diversos concelhos. No entanto, a parte que mais me fascina, é a zona entre a Marinha Grande e o mar, e atravessada pela ribeira de Moel.
Aqui, não há só pinheiros, a flora é variada, e surgem árvore de porte gigantesco por entre os fetos, urzes e camarinhas, ao lado de mimosas, eucaliptos e medronheiros.
Cada recanto é maravilhoso, convida ao lazer e à descontração. Cada recanto convida ao namoro. Cada recanto é uma perdição de natureza.
A mata “pertence “ ao povo, que a ama, que faz dela o local de passeio de fim de semana, que a percorre a pé ou de bicicleta, que conhece a encruzilhada de estradas e aceiros e os locais mais escondidos.
Que venera as Árvores, a Ponte Nova, a Fonte da Felícia , o Vale dos Pirilampos.
Que conhece o Pombal do Rei, a ponte do P, as árvores “notáveis”, as árvores “serpente” , os “pontos”, e todas as curvas, todos os buracos e todos os solavancos da estrada calcetada.
Que deixa as crianças brincar no rio, onde também se arrefecem as garrafas, entre rãs e sermantigas .
Que se deita sobre a caruma, sem medo de aranhões ou sardaniscas.
Que a escolhe como cenário das mais quentes trocas de amores e promessas.
Que a escolhe como local de acolhimento de eventos sociais, culturais, desportivos, manifestações e brincadeiras.
Pelo respeito e amor que tenho ao local, seria a primeira a subscrever um documento contra a sua conversão em parque natural ou santuário: deixaria de ser o local de todos os que o amam e respeitam – e sim, respeitam, porque nesta zona não se veem os amontoados de lixo que tanto desfiguram outros pontos da mata e das outras matas de Portugal-, para ser mais um local vazio, cheio de árvores, arbustos e toda a fauna local, mas sem a alma e a alegria das gentes.
Foto de Margarida Ruivaco