Globalização e Desindustrialização – 4ª Série

Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

 

Capitulo IV. 1. Bens e serviços negociáveis e não negociáveis no quadro da economia global: o caso da economia americana. Por Michael Spence e Sandile Hlatshwayo  – XIV

 

(conclusão)

 

 

A Dimensão Internacional

   

Embora a maior parte do trabalho mais duro sobre  estas questões das  mudanças estruturais, sobre a diversificação do sector  de bens e serviços transaccionáveis  internacionalmente e sobre  a distribuição do rendimento  tenha de ser efectuada a nível nacional, há certas e determinadas dimensões que são de âmbito internacional e a esse nível devem  também ser tratadas. Se um sistema global relativamente aberto vai sobreviver num mundo em que os Estados nação são os responsáveis  pelas decisões tomadas no que diz respeito à política então o sistema global  deve ser gerido  e orientado por um conjunto de princípios concebidos  não apenas para alcançar a eficiência e a estabilidade (por muito importante que estas sejam), mas também para tentar assegurar que, à medida que o sistema evolui, os benefícios são distribuídos equitativamente por países e subgrupos dentro dos países. O que é necessário é a compreensão das questões da distribuição do rendimento  e o conhecimento das suas estruturas institucionais assim como a necessidade de se ter a capacidade  de distinguir de   entre o que são as  respostas reactivas da  política nacional, as que são  políticas  que ameaçam a abertura do sistema e as respostas  que são relativamente benignas  no sentido de imporem  custos limitados sobre os  outros países. Embora a OMC seja a arena  onde as regras são negociadas, o G-20  é o local onde as prioridades e os princípios orientadores  são estabelecidos.  

 

Olhando para o futuro

 

Nos Estados Unidos, é difícil prever como estas questões serão abordadas com a evolução actual da economia. Dadas as condições actuais dos orçamentos municipais, estaduais e federais, os investimentos públicos de longo prazo importantes para o  crescimento e para a criação de emprego serão muito provavelmente deferidos para datas posteriores. Mas a incógnita central é como é que irá evoluir a situação do emprego na  economia americana. Se o emprego se refizer rapidamente com o crescimento e se as tendências no sector dos bens e serviços negociáveis internacionalmente se inverterem ou se o sector dos bens e serviços não transaccionáveis continua a ter alta capacidade de absorção, então, do  ponto de vista político, a questão será menos importante e o apoio político para uma economia aberta à economia mundial será mais fácil de defender . Este cenário não parece ser, contudo, o mais provável.


É em certa medida mais provável que o crescimento aumente  com alguma extensão  , mas também que o desemprego permaneça  teimosamente elevado. Isto é consistente com o facto de que o valor acrescentado possa aumentar   bruscamente no sector  dos bens e serviços transaccionáveis  enquanto que o emprego neste mesmo  sector  venha mesmo a estagnar.  O crescimento e o emprego têm estado em divergência. Eventualmente as fricções e os retardamentos, as diferenças nos tempos de reacção, nos mercados de trabalho  poderão ser ultrapassadas e então o problema do desemprego será muito mais um problema de oportunidades de  emprego e um problema também de  distribuição do rendimento.

 

Neste tipo de ambiente, a política tornar-se-á  provavelmente um factor de divisão  e de polarização e irá aumentar a tendência para utilizar a protecção  e aceder ao mercado  para ampliar as opções de emprego. E uma vez que,  sem dúvida, isto irá provocar respostas de retaliação pelos  outros países, é a própria abertura da economia global que passará a estar em risco.


As respostas fáceis parecem estar a faltar. Investir quer em infra-estruturas fundamentais quer em infra-estruturas complementares ou nas imateriais com uma particular atenção sobre o emprego é quase que seguramente o caminho certo para recomeçar. Mas não é possível saber com antecedência qual a eficácia desta expansão sobre a própria expansão ao nível do emprego. Fazer, reflectir, analisar, é somente a única via disponível para determinar a solução.

 

Estas questões estruturais merecem atenção e um profundo debate tão rapidamente quanto possível. Uma ampla discussão envolvendo os decisores políticos, os empresários, os trabalhadores e os seus representantes, as  universidades e institutos de investigação e as organizações sociais em causa é pois uma necessidade, em parte também porque o conhecimento necessário para criar e avaliar as possíveis respostas está altamente descentralizado. O presidente nomeou um distinto empresário, Jeffrey Immelt, CEO da GE, para dirigir uma Comissão para   analisar estas questões  com uma atenção bem especial  sobre o emprego. É um importante passo em frente e está bem orientado.

 

Supor  que os mercados irão corrigir esses problemas por si sós  não é certamente uma boa ideia;  isto  pode ser aproximadamente verdade para a economia global como um todo, mas não é necessariamente verdade para cada uma das  suas partes. Na verdade, todos os países, incluindo as economias emergentes com  sucesso , enfrentaram  e trataram questões de   inclusão, de  distribuição do rendimento  e de equidade como problemas  centrais  nas suas estratégias de desenvolvimento e crescimento . Agora os países avançados necessitarão de fazer o mesmo, de seguirem o mesmo caminho. Confrontando a tensão entre a eficiência e a distribuição do rendimento e tentando atingir uma posição de adequado equilíbrio entre as duas é hoje uma questão fundamental.


O falecido Paul Samuelson, certa vez, disse que toda a boa causa gera sempre alguma ineficácia. Moral, pragmática e politicamente isso parece certo. E cumprir as promessas feitas quanto ao papel desempenhado pela oportunidade do contrato social é uma dessas boas causas.

 

Referência bibliográfica


Michael Spence e Sandile Hlatshwayo, The Evolving Structure of the American Economy and the Employment Challenge, WORKING PAPER, publicado por Council on Foreign Relations, Maurice R. Greenberg, Center for Geoeconomic Studies,

 

Nota biográfica : MICHAEL SPENCE é autor de  The Next Convergence: The Future of Economic Growth in a Multispeed World [1].

Recebeu o prémio Nobel em Economia no ano de 2001. O seu  site tem o seguinte endereço : http://www.thenextconvergence.com [2].


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