Capitulo IV. 2. Globalização e Desemprego: as desvantagens da integração dos mercados
Michael Spence
MICHAEL SPENCE is Distinguished Visiting Fellow at the Council on Foreign Relations and the author of The Next Convergence: The Future of Economic Growth in a Multispeed World [1]. He received the Nobel Prize in Economics in 2001. His Web site is www.thenextconvergence.com [2].
(continuação)
O grande compromisso
É uma ideia de senso comum que o mercado vai resolver as disparidades de emprego e dos rendimentos, uma vez que a crise económica regrida e seja retomado o crescimento. Warren Buffet e outros líderes de opinião muito inteligentes, experientes e influentes, dizem-no abertamente. Mas como esta análise sugere, eles podem estar errados. E, enquanto os seus pontos de vista dominarem na política económica e na opinião pública americana vai ser difícil enfrentar, e de uma forma sistemática, os grandes problemas relacionados com as alterações estruturais e com a situação do emprego nos Estados Unidos.
O que é necessário em vez desta benigna negligência é, em primeiro lugar, um acordo que recupere as oportunidades de emprego onde há boas remunerações para um largo espectro de americanos e isto deve ser um objectivo fundamental da política económica a desenvolver. Tendo este objectivo como ponto de partida, será então necessário desenvolver formas de aumentar a competitividade e a inclusão da economia americana. Este é um território amplamente desconhecido: as questões de distribuição do rendimento são difíceis de resolver porque estas exigem a correcção de resultados no mercado global sem ter que fazer muito dano quanto à sua eficiência e quanto à abertura ao mercado mundial. Mas, admitir que nem todas as respostas são conhecidas é uma boa ideia para começar.
Com uma grande incerteza acerca da eficácia das várias opções políticas, é bem melhor utilizar uma abordagem multilateral, multifacetada para abordar esses problemas distribuição do rendimento. Os conhecimentos relevantes sobre as promissoras novas tecnologias e sobre as novas oportunidades de mercado estão dispersos por entre as empresas, o governo, o trabalho e as universidades, e tudo isto precisa de ser agrupado e transformar-se em iniciativas. O Presidente Barack Obama já nomeou uma Comissão, dirigida por Jeffrey Immelt, o Presidente executivo da General Electric, para se concentrar nas questões de emprego da economia americana e nas questões ligadas com a competitividade. Este é um importante passo em frente. Mas será extremamente difícil investir no “capital humano”, nas tecnologias e nas infra-estruturas tanto quanto for necessário pois estamos num momento de dificuldades orçamentais e de redução do volume de emprego na Administração Pública. E ainda a ideia de que a retoma de oportunidades para as gerações futuras exige que se façam sacrifícios no presente.
Tendo em conta as mudanças estruturais em curso na economia americana – especialmente as remunerações crescentes oferecidas aos trabalhadores altamente qualificados na parte alta da cadeia de valor acrescentado – a educação deve ser estimulada. Muitas pessoas e tantas quanto possível devem ser capazes de competir nessa parte da economia. Mas se este objectivo é claro, as vias para o alcançar são bem menos evidentes. Melhorar os resultados do nosso sistema de ensino e formação tem sido uma prioridade desde há já alguns anos, mas os resultados são ainda duvidosos. Por exemplo, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico utiliza um conjunto de testes padronizados, o programa de avaliação de alunos internacionais, através de mais de 60 países, dos países avançadas até aos países em desenvolvimento, para medir as capacidades cognitivas dos estudantes adolescentes. Os Estados Unidos ocupam a média em leitura e em Ciências e estão bem atrás da maioria dos países em matemática.
Os problemas na qualidade e na eficácia de partes do sistema educacional americano têm sido reconhecidos desde há algum tempo. Numerosas tentativas para melhorar as coisas, incluindo a criação de testes à escala nacional e as remunerações baseadas no mérito têm até agora produzido resultados inconclusivos. E o problema alarga-se para além do sistema escolar. A falta de empenhamento das famílias com a educação dos seus filhos e das comunidades também leva a que todo o campo da educação pareça pouco atraente, desmoralizando os professores mais empenhados e desviando os alunos mais talentosos de irem para o ensino. Isto, por sua vez, reduz os incentivos das comunidades para a primazia do valor da educação. Para romper esse círculo vicioso acerca dos valores sobre a educação, será necessário uma mudança nas Comunidades e no país– através de liderança moral, quer ao nível das comunidades quer ao nível nacional. A criação de oportunidades de emprego atraentes fortemente condicionadas ao sucesso educativo será outro importante incentivo. Uma vez este círculo fechado ou, por outras palavras: uma maior eficácia educacional é necessária para os Estados Unidos poderem ser competitivos e a promessa de empregos com remunerações adequadas é um incentivo necessário para um empenhamento a nível global na sociedade americana na melhoria da educação.
(continua)