Pentacórdio, domingo 10 de Junho de 2012. Por Rui de Oliveira.

 

      No Domingo 10 de Junho a escolha de um destaque original é difícil.

  

   Fugindo aos espectáculos públicos predominantemente musicais de que o encerramento doAlkantara Festival é exemplo (ver Cordas sobresselentes), há no campo das artes plásticas (e afins) algumas mostras que convirá ver antes que encerrem.  


 

 

   Uma que encerra a 17 de Junho é a exposição de Rosário Rebello de Andrade que está patente no Museu da Electricidade (sala Cinzeiro 8) a que a Fundação EDP chamou “Cartas Celestes: Cruzamentos, largos, bifurcações”.

 

 

     A artista, que lida nos seus trabalhos com o tema da memória, apresenta nesta exposição um conjunto de pinturas e desenhos nos quais essa memória surge sob a forma de cidades projectadas em cartas celestes. Em cada continente, Rosário Rebello de Andrade escolheu uma cidade à qual tem ligações: Lisboa, Cidade do Cabo, Camberra, Nova Iorque, Quioto (ver imagem desta). Nos respectivos mapas, e respeitando escalas, assinalou cruzamentos, largos e bifurcações, dando corpo a uma teia de pontos urbanos que, em tela, surgem espelhados em campos de estrelas, como se de verdadeiras cartas celestes se tratassem.  Estas são cidades vivas, que pulsam, reflectidas em céus estrelados. E a cada uma delas, a artista faz corresponder uma ilha com a forma e o nome de um cemitério local, um território escurecido que Rosário Rebello de Andrade coloca no oceano mais próximo.

 

   Abertas até 30 de Junho, têm tido boa avaliação crítica as exposições da Galeria Zé dos Bois. A de Gonçalo Pena, intitulada “Atol: Deuses Inúteis”, não é apenas uma exposição de pintura pois o autor (segundo um crítico, CM) “submete-a a um confronto muito mais alargado, num plano cultural e simbólico, … num percurso que inclui muitos outros objectos vindos dos quatro cantos do mundo”; daí que “um dos aspectos mais interessantes (seja) o modo como uma pintura tendencialmente eurocêntrica abandona o seu lugar aurático e abdica do seu estatuto de autonomia para se misturar com uma infindável fronda de violências simbólicas, morais e estéticas”. 

                          

 

 

 

 

 

 

 

 

       Outra é a mostra da obra de João Maria Gusmão e Pedro Paiva a que chamaram “10.000 COISAS”. Se a fotografia e a instalação são parte integrante deste trabalho desde o início, o certo é que o método preferencial e o seu grande agregador foi sempre o trabalho realizado em película. Estão aqui criados cerca de uma dúzia de curtos filmes onde “a imagem baça de formato 16 mm induz uma estranheza visual capaz de confundir as circunstâncias temporais de cada ‘incidente’ proposto à descoberta sem chave de decifração anexa”. Começando com “Benguelino a Lançar Um Feitiço na Câmara” (2010), uma unção do próprio cinema pela magia tropical, e acabando em “Solar, o Cego a Comer Uma Papaia” , pode dizer-se (como o crítico C.M.) “ que a verdadeira matéria destes filmes (é) a manipulação do tempo, da condição da imagem e, sobretudo, o facto de cada situação trabalhada parecer viver numa espécie de parêntesis etnográfico onde tudo se torna culturalmente desancorado e instável e por isso, por paradoxal que pareça, universal”.  

 

 

   

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Leave a Reply