EUROPA: CARTA ÀS NOVAS GERAÇÕES – 1 – por Camille de Toledo

ECONOMIA – coordenação de Júlio Marques Mota

 

Nota de leitura

 

Faço meu este texto que não escrevi, este texto que traduzi, faço meu este texto que poeticamente penso que reproduzi, este texto que muito senti e dedico-o  aos filhos do meu pais  neste século já nascidas, crianças estas  que barbaramente estão  a ser destruídas no que de mais profundo têm, destruídos na sua alma, na sua capacidade de perspectivar  e criar os eu próprio futuro,  que  se arrastam pela escolas abarrotadas deste país onde os professores  heroicamente vão resistindo mas caindo de cansaço também. A escola como espaço de ignorância, como espaço de incapacidades, de todas as incapacidades excepto a de se ser ignorante é uma realidade contra a qual os professores se começam a sentir impotentes. Por isso, a eles estas letras pessoalmente as destino, também.

Faço meu este texto que não escrevi, este texto que traduzi, faço meu este texto em que seriamente reflecti e dedico-o  às crianças deste meu país e neste século nascidas que culturalmente estão a ser assassinadas pelos gangs modernos que pelo medo ao poder chegaram e que têm nome: chama-se Nuno Crato, chamam-se Passos Coelho, chama-se Governo Português. Que a História lhes exija rapidamente responsabilidades é imperioso, é urgente, e se assim não for, os ventos fortes do obscurantismo abater-se-ão sobre esta Europa, a caminho então de, sob a mão de Durão Barroso chefe de orquestra de uma música que para isso lhe escreveram os mercados globais, e transformarão  a Europa dos cidadãos numa Europa à imagem de AndersBehringBreivik e do seu massacre contra o que a Europa até agora tem tido de muito belo: o multiculturalismo.
É tempo de urgência, é tempo de responsabilidades, portanto.

Júlio Marques Mota

Europa: carta às novas gerações – por  Camille de Toledo

 

Esta Europa à maneira de Breivik é vista e sentida como uma “civilização” atacada e ameaçada de dissolução. Ela está a conquistar a sua juventude para a sua causa, para o sacrifício. Ele ganha lugares nos parlamentos. Desde a ascensão de Jörg Haider, na Áustria, até ao massacre de Utoya, na Noruega, esta Europa à Breivik não deixa de estar a alargar as suas tribunas, os seus poderes. A seu respeito, a União Europeia parece impotente ou pior ainda, parece cada vez mais ser de tudo isto bem cúmplice. Uma aliança nauseabunda se consolida entre uma Europa da razão – rigor, dívida, défice – e uma Europa da paixão identitária e xenófoba.

 

Filhos do século XXI! Pequenos seres ainda há pouconascidos, seres élficos,pequenos seres mágicos das mitologias ocidentais,  que já andam pelasescolas da Europa, é para todas estas crianças que escrevo estas linhas. Aos meninos deste século, a quem a história do século passado – guerra, depois guerra, depois guerra, depois exterminação, depois descolonização – será uma série de fábulas e de contos de horror. Aos meninos deste século, a todos que terão que inventar este século, o séculoXXI, a todos os que terão de lhe dar a sua força poética, estética, política. E eu diria especialmente: sobretudo o seu sentido ético. Crianças deste século, crianças que tereis crescidocomo eu, neste tempo de ficções, mas bem mais do que eu. Vós que avançais trazendoumreportório infinito de imagens: arquivos, filmes, cruzamentode mundos de que dizemos serem reais ou virtuais, mas que são para todos vocês, meninos nascidos no século XXI, indissociavelmenteumsó e único mundo. Agora, enquanto crianças, brincam, correm, jogam.E cabe-vos inventar o tempo, depois. À minha maneira, gostaria de vos poder ajudar. E dizer, para começar, o seguinte:

 

Tempo das metamorfoses

 Senhoras e senhores das instituições europeias! A vossa Europa entristece-nos. Elaentristece-nos de tal forma que é mesmo de morrer. Porque lhe falta a alma. Porque lhe falta uma visão. Porque lhe falta um imaginário. Porque lhe falta  uma poética! Vejam! Olhem! Carvão eaço. CEE: Depois,UE. Critérios de convergência. A Europa como uma “união” de que é só matériae certificado, mercadoe acrónimo. 
 

Eu aprendi quando era criança, tudo o que é dito da construção europeia desde o tempo dos fundadores:Monnet, Schuman. Nos bancos dos Institutos de Estudos Políticos da Escola de Economia de Londres, eu vi ecom que força e empenhoesta construção a serensinada. Pensava-se assim poder formar uma geração de pequenos “Comissários”. Acreditava-se poder levar os cidadãos da Europa à compreensão darazão desta união. Mas olhem!

 

Os povos europeus já não querem mais nada desta desilusão, deste imenso desgosto. Eles não podem suportar este edifício da sua  razão – estabilidade monetária, a redução do défice, a concorrência pura e perfeita – e menos ainda, os povos não podem suportar a fome à qual este edifício os condena. No seuúltimo livro publicado emFrança, A Constituição da Europa [Gallimard]Jürgen Habermas sonha-se no papel de umjovem pai de um povo europeu ausente. Ele procura responderà crítica:saber, que não há aqui”demos”, que não há aqui povo europeu e, portanto, que não pode haver estado ou constituição transnacional. Mas nenhuma necessidade de um povo, diz Habermas, nós devemos estabelecer primeiramente uma Constituição e a partir daísurgirão as “solidariedades abstractas”

Sublinho a frase : ” solidariedades abstractas ” entre as pessoas que não falama mesma língua, masque se ligam pela”razão”a um destino comum.

Aqui, mais uma vez, a questão da linguagem, dapoética, é evitada ou ignorada.

 

(Conclui amanhã)

Leave a Reply