DIÁRIO DE BORDO de 4 de Setembro de 2012

Temos com frequência afirmado que a facção mais conservadora do Partido Socialista (a que ocupa actualmente a direcção) constitui com o PSD um único partido. Aliás, não é ideia nossa, sendo tal conclusão consensual para quem, seja de direita ou de esquerda, analise fria e objectivamente o espectro político actual. Temos chamado a atenção para o esforço que António José Seguro faz para não pôr em causa as medidas do actual executivo e o ar compenetrado com que afirma que o PS é um «partido responsável». Quer com isto assegurar a quem verdadeiramente manda que, se o eleitorado, votando contra Passos Coelho, votar maioritariamente PS, ele será um primeiro-ministro «responsável», ou seja, manterá a política dita de austeridade sem ceder a tentações «populistas», sem deixar que a Constituição estorve as medidas que «têm de ser tomadas».

Num dos últimos editoriais dizíamos que «seria, por certo, elucidativo saber o que dizem um ao outro, nas reuniões periódicas que mantêm, António José Seguro e Passos Coelho. Dois actores (péssimos) desta farsa em que periodicamente nos dão a escolher entre o sermos torpemente enganados por «socialistas» ou por «social-democratas» – alcunhas por que são designadas as duas faces de uma mesma  medalha – o neo-liberalismo».

Pois Luís Amado, ex-ministro  da Defesa Nacional e, depois, dos Negócios Estrangeiros (e ministro de Estado), de governos socialistas, intervindo na Universidade de Verão do PSD,  depois de várias críticas à oposição que o PS tem feito às medidas do actual governo, afirmou que “o PS não pode provocar uma crise política, sob pena de comprometer os objectivos do país de voltar aos mercados para se continuar a financiar». Este «socialista», actualmente presidente do Conselho de Administração do BANIF,  recentemente fez também críticas à inoportudidade de se levantar a questão da privatização da RTP e referindo-se ao desemprego crescente e à pobreza em que milhares de famílias estão a ser lançadas, teve uma opinião muito útil e que honra a social-democracia – «temos de continuar a fazer sacrifícios». Temos? Quem? Os que ficaram sem emprego? Os pensionistas idosos que têm de optar entre comer ou comprar os medicamentos necessários à sua sobrevuivência? Que sacrifícios faz esta desprezível gente, com percursos profissionais e académicos de duvidosa limpidez, mas que, como prémio por desempenhos políticos mais do que medíocres, recebe cargos de administração em bancos e grandes empresas?

Como podem os socialistas que ainda restam dentro do PS aceitar a coabitação partidária com pessoas como Luís Amado?

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