UMA OUTRA NUVEM NEGRA, A OITAVA, PAIRA ENTRE WASHINGTON E PEQUIM E SOBRE TODO O MUNDO TAMBÉM

Selecção, tradução e nota de leitura por Júlio Marques Mota

Qilai Shen/Bloomberg News
(continuação)

5. Sobre o Renminbi (Yuan) – parte II

New York Times, 18 de Outubro de 2012

Renminbi (Yuan)

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Pressão do Congresso

Em 2010, a pressão para que se actuasse sobre o renminbi começou no início do ano, quando o presidente Obama falou duramente em Fevereiro sobre as políticas económicas da China, pouco ou mesmo nada faltando para afirmar que a China estava a manipular a sua moeda. Faltou apenas dizê-lo explicitamente. No mês seguinte, 130 membros do Congresso enviaram uma carta ao secretário do Tesouro Geithner, exigindo que a administração Obama considerasse a China como um país que manipulava a sua taxa de câmbio num relatório a publicar pelo Congresso em Abril. Um grupo bipartidário de senadores apresentou um projecto destinado a forçar o governo, a tornar mais fácil a aplicação de barreiras comerciais como retaliação contra a entrada de produtos chineses. E o Banco Mundial publicou um relatório que pede uma apreciação do yuan.

Os economistas concordam com essa avaliação. Estes disseram que naquela altura a moeda chinesa estava subavaliada em cerca de 25 a 40 por cento relativamente ao dólar e a outras moedas, e que o desequilíbrio estava a prejudicar não só os Estados Unidos mas também as restantes economias do mundo inteiro, incluindo a União Europeia, Brasil e a Índia. Obama teve repetidas conversações com o presidente Hu Jintao, desde 2009.

O governo chinês negou que a moeda esteja sobreavaliada ou manipulada e o primeiro-ministro Wen Jiabao rejeitou as acusações americanas de a China estar a agir com “uma espécie de proteccionismo comercial”, sem fazer nenhum plano de reforma.

Em Junho de 2010, a China anunciou que iria permitir uma maior flexibilidade quanto ao valor da sua moeda. Mas em Setembro o yuan subiu menos de 2 por cento contra o dólar e, na verdade, caiu até um pouco contra as moedas dos seus parceiros comerciais ponderadas pelos respectivos pesos do seu comércio com a China. Geithner foi chamado ao Congresso para instar a China a que permita uma “apreciação significativa e sustentada” do valor da sua moeda subavaliada; os senadores de ambos os partidos exigiram a aplicação de medidas mais duras.

Durante a reunião anual de chefes de Estado na ONU em Setembro, Obama dedicou a maior parte de uma reunião de duas horas com o primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, para falarem sobre esta questão. Em Outubro, a direcção do Fundo Monetário Internacional faz pressão para que a China permitisse que a sua moeda venha a aumentar de valor. E na Cimeira do G20 na Coreia do Sul em Novembro, uma reunião que se destinava a tratar das questões e dos diferendos sobre o comércio internacional e também dos que envolviam o valor do yuan, Obama usou um tom fortemente crispado, considerando claramente que o yuan “está subvalorizado. E a China gasta enormes quantias de dinheiro para continuar a intervir no mercado cambial para mantê-lo subvalorizada. “

No início de 2011, também apareceu a muitos economistas que o esforço para manter o renminbi a um baixo valor estava a alimentar crescentes problemas da China relativamente à inflação.

O banco central tinha sido levado a injectar moeda a um ritmo cada vez mais acelerado na última década para limitar a apreciação do yuan contra o dólar. Essa estratégia ajudou a preservar uma vantagem competitiva dos exportadores chineses, que assim mantiveram os seus preços relativamente baixos nos mercados globais – além de proteger os empregos de dezenas de milhões de trabalhadores chineses em fábricas para a exportação.

Mas esta política de moeda barata parecia ter atingido os seus limites. Os yuans adicionais estavam a alimentar a inflação. Isso está a começar a minar a competitividade via preços dos exportadores – exactamente tal como um yuan mais forte o faria se Pequim não tivesse andado a intervir para o segurar e impedir de subir.

A divisa sob pressão

As linhas de sustentação do valor do yuan comum valor baixo datam dos primórdios do boom das exportações chinesas durante a última década.

Em 2005, sob a pressão do presidente George W. Bush, Pequim acabou com um sistema em que o valor da moeda estado ancorado no do dólar. Permitiu-se que o yuan flutuasse dentro de uma faixa estreita, um passo que levou a moeda a subir em valor e em cerca de 21 por cento. Até Junho de 2010, o valor permaneceu essencialmente constante desde Julho de 2008, apesar dos distúrbios que atingiram a economia global.

Voltando à batalha com Pequim sobre o valor da sua moeda, esta poderia compensar em termos de dividendos políticos para Obama numa altura em que tínhamos a taxa de desemprego a dois dígitos e em que estávamos perante os temores crescentes de que a China estava a roubar os empregos americanos. Mas os especialistas dizem que o presidente tem menos influência sobre Pequim do que Bush, que, sem sucesso incentivou a China ano após ano para ajustar a sua taxa de câmbio. A China, dizem eles, está determinado a reacender a sua máquina eficaz para a exportação depois de uma recessão global que minou a procura externa para o consumo dos produtos chineses. Uma moeda barata é então vital para esse objectivo.

Para além do problema da moeda da China, o Presidente Obama tem-se apoiado em Pequim para procurar conter os programas nucleares do Irão e da Coreia do Norte e para actuar como um dos principais motores para a economia mundial, e para moderar os esforços da China para ganhar o acesso exclusivo a matérias-primas de todo o mundo de que a China pensa precisar para alimentar o crescimento enorme da China.

Por seu lado, as autoridades chinesas regularmente expressam aos seus colegas americanos as suas preocupações sobre a necessidade de manter o valor do dólar americano. A China, que tem mais de US $ 2,4 milhões de milhões em reservas de moeda estrangeira, sendo o maior detentor em valor de dívida pública norte-americana Em 3 Fevereiro, um dia em Obama criticou duramente as políticas económicas da China, Xinhua, a agência estatal de informações do Estado Chinês disse que economistas chineses terão afirmado estarem preocupados com o facto do governo americano, que sofre de um défice orçamental recorde, poder estar a imprimir mais dólares e a emitir mais títulos de dívida pública, fazendo assim descer o valor do dólar.

Altos Funcionários do Ministério Chinês do Comércio alertaram para a ideia de que a pressão que estava a ser feita para o aumento do valor do yuan era “irracional.” O ministério está a acompanhar os exportadores que ainda estão descontentes com o facto de que os carregamentos saídos da China caíram no início de 2009 pela primeira vez desde que a China começou a abertura comercial no final de 1970. O excedente comercial total da China foi de $ 198,1 mil milhões em 2009, abaixo dos 297,4 mil milhões de dólares no ano anterior quando o comércio mundial diminuiu como resultado da crise financeira.

 

Alguns economistas chineses cautelosamente sugeriram que a China poderia encontrar uma melhor utilização para as centenas de milhares de milhões de dólares que não seja a de estar a comprar títulos do Tesouro americanos e outros títulos estrangeiros para manter o valor do renminbi, ou seja para que o yuan não suba contra o dólar.

(continua)

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