SER PORTUGUÊS… ONDE?

 Joana Domingues é a mais recente argonauta.  Oportunamente, faremos a sua apresentação na rubrica «Um argonauta por semana». Para já, dizemos apenas que é uma jovem portuguesa que está a estagiar em Salamanca numa empresa internacional, ao abrigo do programa Leonardo da Vinci. Por formação académica e por vocação pessoal as áreas de estudo que privilegia são as dos Recursos Humanos, Sociologia, Psicologia…

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 A crescente importância dos movimentos migratórios é uma das tendências que domina a atualidade. Basta analisarmos a sociedade que nos rodeia dentro do nosso próprio país, para nos apercebermos que existe uma percentagem significativa de pessoas provenientes dos mais diversos destinos: alguns estão de visita, outros moveram-se até ao nosso país por um período determinado de tempo com o objetivo de estudar ou trabalhar e, outros escolheram Portugal para ficar.

Nos dias que correm, e devido a atual realidade económica portuguesa, Portugal acaba sendo não só um país recetor como maioritariamente emissor, a escassez de emprego, o empioramento das condições de vida e trabalho são as principais razões que levam os portugueses, a questionar o rumo da sua vida, tal como aconteceu a partir dos anos de 1950, em que os portugueses de dirigiam maioritariamente a França e posteriormente à Suíça em que neste ultimo, se representou no emblemático enfase migratório de 1984-1992.

Os retratos da imigração portuguesa em direção à Suíça, encontram-se todavia presentes no imaginário comum português, onde a idealização desse país em épocas de atual crise económica é ainda mais persistente. Atualmente, não só as necessidades unicamente justificadas pelo asseguramento da subsistência são validas para emigrar, também os quadros técnicos e científicos portugueses apostam na emigração como forma de alcançar melhor desenvolvimento e projeção profissional.

Assim sendo, o perfil migratório português é cada vez mais diverso, que engloba desde o perfil de mobilidade mais qualificado (científicos, académicos, quadros técnicos) ao perfil de mobilidade menos qualificada. Os primeiros com necessidades e ambições claramente distintas dos segundos, uma vez que não têm somente em consideração fatores de sobrevivência e necessidades puramente económicas, pelo que juntam à mesma fórmula, uma demanda de bem-estar económico, novas oportunidades de carreira e projeção profissional. A migração qualificada pode chegar a manifestar  um carater trasnacional,  em que os seus principais atores vivem em simultâneo em mais que um país em função das exigências profissionais.

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 É necessária uma tomada de consciência a nível político e social das condições que justificam o facto de Portugal ter menos portugueses, analisar os distintos perfis atualmente implícitos nos processos migratórios, principais destinos escolhidos, homogeneização de atuais interesses e ambições, principais dificuldades, a existência ou não de discursos focados no retorno, e na categorização da migração como temporária ou com perspetivas de futura permanência no país escolhido para emigrar.

Pelas mais diversas razões que tenham encabeçado o processo migratório é importante não esquecer que este mesmo implica um processo de adaptação à sociedade de destino, o maior ou menor sucesso de adaptação, traduzir-se à em integração ou exclusão nessa mesma sociedade. Em todos os casos de julgamento da realidade migratória vivida é importante ter em conta os fatores motivacionais que determinaram fortemente a estadia no país de destino e levaram a abandonar o país de origem. Contudo as distâncias culturais, politicas, económicas entre a sociedade de origem e a sociedade de destino serão fatores de forte influência na adaptação do imigrante à sociedade recetora.

Ser imigrante, traduz-se em ultrapassar adversidades, enriquecer culturalmente, sentir saudade dos seus, ser forte e persistente, ambicioso, lutador, corajoso, enfrentar-se a problemas diários desde uma perspetiva de dentro e de fora, uma perspetiva mais rica de dupla pertença (ao país de origem e ao país de destino) é deixar-se pertencer, é deixar que aquele país seja o seu também, é deixar que aquela língua pudesse chegar a fluir ao ritmo da sua. Por todas estas razões, visto desde uma óptica de enriquecimento a diversos níveis, porque não encarar a experiencia como positiva? Com este discurso não pretendo motivar a saída dos portugueses do seu país, mas sim em caso de que se verifique essa necessidade, encara-la como algo potencialmente benéfico para si e para os seus, no tempo que seja necessário… ainda que seja necessária uma vida.

                                                                           

2 Comments

  1. Em primeiro lugar, dar os parabéns à Joana pela excelente reflexão sobre o teme “imigração”. Penso que referiu os pontos principais e soube defini-los de forma realista, objectiva e perceptível. A imigração/emigração são actos contínuos e que se têm perpetuado ao longo dos tempos. No entanto, com o aparecimento de crises económico-financeiras, que fazem disparar o desemprego, a instabilidade no trabalho e as incertezas sobre o futuro, esses movimentos de pessoas tornam-se mais constantes e em maior número, pesando mais nas informações estatísticas. De referir também que, apesar de ser inevitável o aumento dos parâmetros indicados atrás, alguns países não têm sido capazes de dar uma resposta competente a este flagelo. Dando o exemplo de Portugal, muito temos ouvido falar em austeridade, em cortes na despesa pública, em aumento de taxas, etc., mas nada ouvimos sobre criação de emprego, desenvolvimento da economia, reformas estruturais e atracção de investimento. É necessária uma reformulação do sistema fiscal das empresas (os impostos não podem mudar de 6 em 6 meses), é necessária uma flexibilização da burocracia, que tem limitado a criação de novas empresas (cerca de 2/3 anos para se ter uma licença de construção (!!!!) ) e é fundamental uma reforma dos tribunais fiscais (onde os processos se arrastam anos a fio). Os Governantes terão que, de uma vez por todas, olhar para este problema com olhos de ver e tomar decisões que contribuam para por fim a este flagelo. Só assim se poderá evitar um novo “ênfase migratório de 1984-1992″… Só assim se poderá dar um futuro menos comprometido às novas gerações. .

    Obrigado pelo texto, Joana. Muitas Felicidades!

  2. Estimado Luis Pedro,

    Quero agradecer-lhe a sua reflexão em torno do artigo e em torno da problemática que se vive atualmente em Portugal, bem como em outros países da Europa. Quero tambem agradecer o interesse que adicionou ao texto ao apontar para problemas de fundo que encobrem causas da atual migração portuguesa. Os aspetos que aponta convidam à sua reavaliação e posta em marcha de soluções. Pois disso depende o futuro das novas gerações.

    Obrigada pelo seu comentario.
    Melhores Cumprimentos
    Joana Domingues

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