REFLEXÕES SOBRE A MORTE DA ZONA EURO, SOBRE OS CAMINHOS SEGUIDOS NA EUROPA A CAMINHO DOS ANOS 1930

Selecção, tradução e introdução por Júlio Marques Mota

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O euro, stop ou então? Entrevista com Philippe Murer

Sexta-feira, 21 de Setembro de 2012,

(CONTINUAÇÃO)

Parte III

Parte 2. Rigor e reformas estruturais, as únicas soluções para resolver a crise ?

– Desvalorizações internas

murerentrevista - VIII

Philippe Murer retoma, em seguida, o fato de que como os países europeus não podem desvalorizar uns relativamente aos outros, procuram recuperar a competitividade, reduzindo os custos do trabalho, assim levando os salários e as despesas sociais a descerem. É a isto que os economistas chamam a desvalorização interna. Era já a situação na zona euro antes da crise, mas essas desvalorizações internas foram reforçadas desde 2010, sob a impulsão da Comissão, do BCE e do FMI que impuseram planos de austeridades cada vez mais drásticos, desfazendo pouco a pouco o modelo social europeu.

Eu relembro este artigo recente em Marianne, que nos explica que na Grécia se defende agora defende o retorno para a semana de trabalho com 6 dias! Devemo-nos perguntar em que momento é que a Troika vai reconsiderar o trabalho das crianças na tentativa de reduzir o custo do trabalho na Grécia. Lembro-me também um outro  artigo do blog sobre Mario Draghi de Março passado anunciando o fim do modelo social europeu.

– A posição da Alemanha desde 2010 –

murerentrevista - XI

Para Murer, a opção defendida desde 2010 com os planos de resgate é devida principalmente à Alemanha que é o país que mais tem a perder com uma explosão do euro. Esta explosão seria, na verdade, acompanhada por uma forte reavaliação do marco, por uma redução dos seus excedentes e, provavelmente, com uma taxa nula ou mesmo negativa de crescimento por muitos anos, uma evolução semelhante à que se tem verificado no Japão. Se se pode compreender sobre o princípio, sendo a Alemanha é o país que mais contribui nos planos de ajuda financeira, que pretenda assegurar a boa gestão orçamental nos países apoiados, por outro lado, recorda Murer, também é verdade que estas ajudas acompanhadas de austeridade são um absurdo económico absoluto e que gravando esta política absurda em mármore com o novo pacto orçamental, o TSCG, a zona euro vai ser atirada para uma recessão e por um longo período de tempo.

Segundo ele, essa lógica aparentemente louca também revela uma vontade da Alemanha em manter a sua hegemonia sobre a zona, hegemonia que ela perderia se houvesse a explosão do euro e a Alemanha pensa que os outros governos são incapazes de chegar a obter uma outra coisa que não sejam pequenas concessões, porque estes teriam medo da Alemanha, inclusive o governo francês, seja sob Sarkozy seja sob Hollande .

Completo esta conversa com um tema de que não houve tempo para o discutir na entrevista, mas uma das principais razões para a continuação desta lógica louca é o empenho para preservar custe o que custar os credores privados dos prejuízos da situação, ou seja, proteger os aforradores e, particularmente, os grandes aforradores, que acumularam durante décadas títulos da dívida pública  e pesam com muita força para se assegurarem que os países em causa continuam a pagar. É isto que levou a afastar desde 2010 a opção de incumprimentos parciais sobre as dívidas, nem que fosse uma só vez e de forma limitada na  Grécia no início do ano e em vez disso andarem a procurar formas de transferir para os Estados (e, portanto, para os contribuintes) ou para o BCE o risco de não-reembolso, quer isso seja com o MEE ou através da monetarização parcial. Uma das vias de saída da crise passa, contudo, pelo reconhecimento de facto de que uma grande parte das dívidas públicas não será reembolsada, e, portanto, que alguns titulares de poupança, que assumiram o risco de comprar títulos e foram remunerados por esse risco através de taxas de juros, às vezes escandalosamente altas, terão de perder uma parte de seu dinheiro. Normalmente, ou não é isso o princípio do capitalismo? É certo, os pequenos investidores podem ser afectados também, mas há estudos que nos mostram que cerca de 80% das poupanças é detida por cerca de 10% da população, e que seria perfeitamente possível negociar um modalidades de incumprimento parciais que poupariam cerca de 90% da população.

murerentrevista - XII% da da dívida pública em relação ao PIB
 (continua)

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