Selecção, tradução e adaptação por Júlio Marques Mota
Homenagem às vítimas de que abaixo se fala e a um grande poeta também com as desculpas pela traição que as minhas linhas revelam sobre Vinicius
Hoje é sábado , amanhã é Domingo em Lisboa e nas suas igrejas onde se reza e pelas almas destas mulheres também
Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E dizem que Cristo morreu na Cruz para nos salvar.
Hoje é sábado , amanhã é Domingo em Madrid e nas suas igrejas onde se reza e pelas almas destas mulheres também
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para lembrar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal
Livrai-nos também de Quem o fez, de quem o faz
Hoje é sábado , amanhã é Domingo em Roma e nas suas igrejas onde se reza e pelas almas destas mulheres também
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado, é o dia da obra acabar.
Hoje é sábado , amanhã é Domingo em Berlim, sobretudo em Berlim, e nas suas igrejas onde se reza e pelas almas destas mulheres também
E tudo isto porque Deus sem nada para fazer
Deus para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Má ideia, muito possivelmente, muito má ideia
Hoje é sábado , amanhã é Domingo em Londres e nas suas igrejas onde se reza e pelas almas destas mulheres também
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado e deseja o amanhã, Domingo.
E para não ficar com as vastas mãos tremendo ,
porque era sábado isto é, muito provavelmente
Hoje é sábado , amanhã é Domingo em Dublin, sobretudo em Dublin e nas suas igrejas onde se reza e pelas almas destas mulheres também
E o homem saiu assim, saiu assim e faz
Fez e faz o que abaixo nos revolta
Porque era sábado, possivelmente
E Deus, de todo, já estava dormente.
Impossível fugir a essa dura realidade
Adaptado de Dia da Criação, de Vinicius de Moraes
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Lavadeiras escravas: Dublin admite a sua implicação
Anne-Laure Frémont, Le Figaro
: © O primeiro-ministro irlandês, Enda Kenny, não apresentou nenhum pedido de desculpas formal pelas lavandarias das irmãs Madalena Sebastien Pirlet / Reuters/REUTERS
Um relatório oficial na terça-feira estima que o estado irlandês é responsável pelo envio de milhares de meninas para as “lavandarias’ Madalena”, pensionatos católicos onde trabalharam sem ganhar um cêntimo..
É um dos maiores escândalos envolvendo o Estado e a Igreja na República da Irlanda… mas também um dos segredos mais bem guardados. No entanto, nesta terça-feira um relatório sobre as lavandarias dos conventos da Madeleine, estas instituições católicas, onde milhares de mulheres foram encerradas durante décadas, revela pela primeira vez a participação do Estado. “Para aqueles que passaram por diversos títulos pelas lavandarias Magdalen, em 26% dos casos após uma intervenção feita pelos serviços do Estado, eu digo quanto lamento que elas tinham sido forçadas a viver em tais condições”, assim se expressou o chefe do Governo irlandês, Enda Kenny.
As associações das vítimas desiludidas
Mas para cerca de 1.000 sobreviventes dessas instituições, as palavras do Taoiseach (‘primeiro-ministro’ em gaélico) estão longe de ser o suficiente. Este último, consciente de que se trata de um assunto extremamente sensível no país, não apresentou nenhum pedido de desculpas oficial nem anunciou compensações no futuro para as vítimas. Deixando duas semanas para os deputados estudarem o relatório antes de um debate na Assembleia, ele lembrou que neste caso se reporta a uma Irlanda ‘autoritária’ e ‘dura’.
Para as associações das antigas pensionistas que se batem desde há mais de dez anos por fazer valer os seus direitos, a decepção é enorme. Steven O’Riordan, porta-voz do grupo Magdalene Survivors Together citado pelo jornal The Irish Independent, qualificou a declaração de Kenny de ‘sem qualquer interesse ‘: “a verdade é que se obrigaram mulheres no seio da sociedade irlandesa a participarem desta escravidão.”
As mulheres privadas do seu próprio nome
Durante mais de 70 anos, milhares de mulheres (mais de 10.000), foram colocadas em detenção, forçadas a trabalhar nas oficinas, geridas por freiras de quatro congregações.
Les blanchisseries. Capture d’écran du site irishcentral.com.
Estas eram em sua maioria mulheres jovens, consideradas como “perdidas” ‘: aquelas que tiveram uma criança e ou tiveram relações sexuais fora do casamento – incluindo mesmo mulheres violadas, aquelas que se consideravam desonrar a sua família , as filhas da nação… mas, também aquelas que sofriam de problemas físicos ou mentais, ou as sem abrigo. Eram para aí enviadas pelos seus pais, juízes, sacerdotes, membros da polícia… O relatório refere que um quarto delas foram para lá enviadas por causa da implicação do Estado .
De acordo com testemunhos recolhidos ao longo dos anos, cada mulher ficava mesmo sem nome, era-lhes roubado o próprio nome, dando-lhes um outro, ou no pior das hipóteses, um número) e tinham que trabalhar seis dias por semana, sem nunca receber um centavo, passando além do mais por uma pressão psicológica importante. O relatório põe em causa a existência de abusos físicos, embora haja algumas testemunhas que relataram castigos corporais.
Por outro lado, as portas das lavandarias estavam trancadas para evitar qualquer fuga, e cerca de 2000 bebés teriam sido retirados a algumas dessas mães para serem vendidas às ricas famílias americanas, ainda segundo alguns testemunhos.
A última lavandaria foi fechada em 1996
O relatório de 1000 páginas publicado na terça-feira foi elaborado por uma Comissão governamental chefiada pelo antigo senador Martin McAleese, foi posto em prática após de a ONU ter emitido um comunicado em 2011 criticando o Governo irlandês pela sua recusa em reconhecer as penas e abusos sofridos pelas mulheres internadas nessas lavandarias. Antes da publicação do relatório, a filha de uma das vítimas lançou uma campanha no Twitter, com estas palavras: minha mãe era a Madeleine número 322. O seu verdadeiro nome “Margaret”. E nesta terça-feira, as reacções de indignação seguidas pelo link #justiceformagdalenesNOW, multiplicaram-se nas redes sociais depois da declaração do primeiro ministro como da de um deputado irlandês:
PadraigMacLochlainn @PadraigMacL
Sorry seems to be the hardest word for our Taoiseach when it comes to the great shame of the Magdalene Laundries #JusticeforMagdalenesNOW
Havia dez lavandarias espalhadas por toda a Irlanda. A última, a da rua Sean McDermott, a norte de Dublin, só foi fechada em 1996. E realmente só se começou a falar destas instituições por volta de 1993, quando um promotor imobiliário que tinha acabado de comprar um dos conventos encontrou os restos mortais de mais de 100 pensionistas, que aí teriam sido enterradas, em valas comuns no interior da propriedade.
O interior, hoje decrépito de um antigo convento implicado no drama. Crédits photo: Julien Behal/AP
Este drama deu origem a um filme, «The Magdalene Sisters», que recebeu o Leão de Ouro na 59ª Mostra de Venise en 2002. Até agora, todos os pedidos de indemnização das vítimas permaneceram letra morta.
II PARTE
Relatório a ilustrar a crueldade nas Irish Magdalene Laundries
Magdalene laundries report: os números
Women with the group Magdalene Sobreviventes juntos a caminho de Leinster House. Photograph: Eric Luke / The Irish Times
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External
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Estatísticas
Algumas estatísticas publicadas pelo ‘Relatório da Comissão interdepartamental para estabelecer os factos do envolvimento do Estado com as lavandarias de Magdalen estão abaixo apresentadas
Admissões
O número de mulheres que trabalharam nas lavandarias desde 1922: 10,012.
Admissões conhecidas, incluindo admissões repetidas desde 1922: 14,607.
Admissões para as quais são conhecidas as suas rotas : 8025
Número de referências feitas ou facilitadas pelo Estado, 26.5% (2.124)
Idade média ou mediana à entrada 23.8 anos/ 20 anos
Idade da rapariga mais jovem que entrou nas lavandarias: 9
Idade da pessoa mais velha que terá entrado nas lavandarias: 89
*Exclusão de duas lavandarias dirigidas pelas Sisters of Mercy
Duração da permanência :
Menos que três meses, 35.6%
Menos que seis meses : 47.4%
Menos que um ano : 61%
Menos que três anos : 79%
Menos que 5 anos: 85.6%
Menos que 10 anos 92.3%
Percentagem previamente institucionalizada 23.4%
Contexto familiar ( desconhecido: 53.9%)
Ambos os pais vivos : 12.5%
Pai morto: 11.6%
Mãe morta: 8.5%
Ambos os pais mortos: 13.5%
Veja ainda:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=aqBPNc9UHPc