RETRATOS, IMAGENS, SÍNTESE DOS EFEITOS DA CRISE DA ZONA EURO SOBRE CADA PAÍS

Selecção, tradução e introdução por Júlio Marques Mota

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O assalto geral sobre as contas bancárias em Chipre: um precedente que poderá ser aplicado noutros países da zona euro – IV

François Asselineau

UM TEXTO ENVIADO POR PHILIPPE MURER, MEMBRO DU BUREAU DU FORUM DÉMOCRATIQUE E
PRÉSIDENT DE L’ASSOCIATION MANIFESTE POUR UN DÉBAT SUR LE LIBRE ÉCHANGE

PUBLICADO A 17 MARÇO DE 2013

(continuação)

……

A situação política social será que vai degenerar?

A “segunda-feira pura” é um dia em que nos devemos livrar dos nossos comportamentos pecaminosos e em que devemos estar disponíveis para perdoar.

Toda a questão agora é a de saber se os cipriotas vão “perdoar” às suas autoridades políticas e financeiras a extorsão que estas lhes vão aplicar, nesse dia, sobre as suas contas bancárias?

As primeiras reacções registadas no sábado mostraram que a população ficou chocada, horrorizada, escandalizada. Mas em breve, todo o aparato da desinformação política e mediática europeísta será desencadeada para espalhar a sua intoxicação mental .

Desde o seu regresso de Bruxelas, o presidente cipriota Nicos Anastasiades, responsável europeísta de “direita” eleito no mês passado, referiu  num seu comunicado o pretenso “risco de colapso” do sistema bancário, na ausência de um acordo sobre um empréstimo para a ilha que está à beira da falência.

Dando-se ares de Tartufo para sublinhar melancolicamente que se trata de um plano “doloroso”, ele de seguida retoma o tema eterno de todas as ditaduras, ou seja, que não haveria nenhuma outra via alternativa possível. “A solução que escolhemos é dolorosa, mas é  a única que permite continuar as nossas vidas sem estarmos sujeitos a grandes vagas de choques . ‘

Como mostrámos com o exemplo da Islândia – uma ilha de tamanho aproximadamente comparável ao de Chipre – e como nos ensina o Presidente Ólafur Grimsson, há sempre uma alternativa, a que consiste em tomar a defesa do povo como a referência em política   e deixar, por consequência dessa mesma opção, que os bancos vão à falência.

De qualquer forma, as autoridades cipriotas cruzam os dedos. Eles esperam que, com a ajuda habitual da “esquerda” europeísta e do matraquear dos media não menos habitual, os cipriotas irão aceitar este golpe contra os seus depósitos e as suas poupanças, com a finalidade, alto e bom som proclamada, supostamente grande e indiscutível, de poderem assim “salvar o euro. “

Antes de entrar em vigor, o “imposto extraordinário” deve ser ratificado pelo Parlamento, e isso antes de os bancos reabrirem na terça-feira porque segunda-feira é um dia feriado em Chipre. Então, é necessário ser-se rápido: Anastasiades anunciou que iria encontrar-se com os líderes de partidos políticos da ilha e que iria domingo de manhã no Parlamento, onde haveria uma assembleia plenária, prevista para o meio da manhã, espera-se para aprovar este saque aos cidadãos.

Apelos a que a população se manifeste contra  foram lançados, particularmente pelo candidato batido nas eleições presidenciais de Fevereiro, George LILLIKAS, que tinha feito campanha contra o resgate financeiro. Este apelou pois para uma mobilização geral para terça-feira, o dia imediatamente seguinte à “segunda-feira pura.”

Mas não será já tarde demais para reagir uma vez que as contas bancárias já foram extorquidas em proveito dos bancos?

A criação de um precedente que poderá ser aplicado aos outros povos da zona euro e em particular ao povo francês.

A extorsão que as autoridades públicas esperam realizar sobre os titulares de contas bancárias em Chipre poderá ter repercussões sobre os depositantes italianos e espanhóis. Porque estes não são estúpidos, eles devem entender que este roubo puro e simples também lhes pode vir a ser imposto em breve, sem aviso prévio. Um pouco antes da segunda-feira de Páscoa, por exemplo.

Vai ser pois bastante interessante ver se a questão de Chipre irá ou não provocar uma “corrida bancária” importante em países como a Espanha e ou a  Itália durante as próximas semanas.

Quanto aos franceses, seria bem errado acreditar que os seguros vão deixar de lhes enfiar pela cabeça os seus principais meios de comunicação, ou seja, fazer acreditar que uma tal disposição seria impossível em França, etc. Porque a operação cipriota se reveste também com o aspecto de ser um balão de ensaio. Os seus projectistas, o FMI, o BCE e a Comissão prestam muita atenção às suas consequências, uma vez que isso lhes irá permitir  testar a aceitabilidade social, “em tamanho natural ” de um verdadeiro saque sobre os aforradores a fim de poderem “salvar o euro “.

Se esta aceitabilidade social se mostrar bastante fácil de obter – em suma, se os cipriotas se deixam roubar sem reagir violentamente, ou se preferirem andar a bater uns nos outros, esquerda contra direita e vice-versa, em vez de fazerem frente comum  ao adversário comum, a extorsão pode ser considerada como aplicável às outras pessoas e a outros países. E porque não aos aforradores franceses quando chegar a hora ou, para já a seguir, porque não já aplicável aos portugueses?

É necessário, pois, compreender que os franceses não estão imunes ao mesmo tipo de extorsão . Porque uma vez que uma tal medida tenha sido implementada, um tabu essencial terá assim saltado: a protecção da poupança pública. E as autoridades políticas e bancárias europeístas podem-se então aproveitar do precedente assim criado.

Como se proteger individualmente de uma eventual extorsão à cipriota “?

Para ser honesto, não há nenhuma boa solução. Enquanto a França permanecer na  zona euro, e na  situação de catástrofe económica financeira e monetária que esta pertença implica,  não se podem  considerar senão expedientes.

Que expedientes ?

No momento actual – e sem que isso seja também uma certeza-, as únicas contas bancárias à priori em segurança e que não sejam susceptíveis de uma extorsão similar são aquelas que estão localizadas na Alemanha, Países Baixos, Luxemburgo e Finlândia. Ou seja, nos quatro Estados-membros da zona euro que estão em excedente no sistema TARGET2. [veja-se a minha conferência sobre  ‘a tragédia do euro’].

• 1 °) O primeiro expediente consiste pois em abrir contas bancárias nestes 4 Estados. Mas com todas as dificuldades de ordem prática que isto produz, para não mencionar o carácter odioso que representa a ideia de ir “colocar o seu dinheiro” no exterior.

• 2 °) Para os particulares franceses que não querem abrir contas bancárias nestes 4 Estados, o segundo expediente consiste em esvaziar regularmente a sua conta (por exemplo, após cada transferência mensal do seu salário), alugar cofres-fortes no seu banco habitual e guardar aí o seu dinheiro. Registemos, de passagem, que este tipo de comportamento, se bem que pouco usual, foi já observado secretamente em França há cerca de dois anos atrás, sem que os media, como é também já habitual, tenham  informado a opinião pública para não a inquietar.

Um tal expediente tem muitas desvantagens: além  de que acarreta o custo do aluguer de cofres-fortes, coloca problemas materiais constantes na vida quotidiana. Porque os pagamentos por cheque, cartão de crédito ou débitos automáticos são de longe os mais cómodos e populares. Esvaziar a sua conta e colocar todo o dinheiro num cofre também pode ser muito incapacitante em caso de encerramento  dos bancos.

• 3 °) Finalmente, o terceiro expediente consiste em esvaziar  as suas contas bancárias, como no caso anterior, mas a manter o valor  líquido dessa mesma conta  na nossa casa. Claro, isto acresce às desvantagens enumeradas anteriormente, o perigo de ser assaltado.

Em suma, os expedientes são dificilmente satisfatórios, e esse é o problema. A vida contemporânea e a utilização da banca pelos particulares são tais que, mesmo se isso não é impossível, no entanto, é muito incómodo ter uma conta bancária sem estar em condições de ser utilizada .

É precisamente por isso que os cipriotas acabam por se sentirem encurralados.

(continua)

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