O nosso papel na Lusofonia
Vivemos de utopias. Desde a beleza do amigo que medievais atendemos, cercadas de ondas que grandes são, temos passado à utopia do mar e das índias vencendo os ventos da Trapobana, depois a utopia da saudade nos levou, emigrantes, a dar com os nossos corpos indígenas nas terras de Macunaíma, e a beber das pangeicas fontes africanas. Vimos nascer cantares e folhas novas, aprendemos a tocar a harpa, voltamos ao mar com Simbad e ao medievo com Merlim, e descobrimos a pátria utópica na língua que nos arrastava.
Chegamos ao moderno presente montadas em carros de bois, e aqui continuamos na procura da nossa Ítaca. Dos tempos em que Joám de Cangas ateigava os seus escritos de tis nasais, e chegadas ao presente do Acordo Ortográfico, tendo em conta que a história da língua continua a ser contada, a nossa utopia atual é a criação duma Lusofonia em pé de igualdade. O relacionamento de todos os países lusófonos, incluída a Galiza, sem subserviências históricas, políticas ou económicas.
Pois, dado que nos dispusemos a participar na construção da obra, é sem pudor que queremos cumprir o nosso papel e mostrar-vos os segredos do passado que brilham nos galegos olhos. Convidar-vos às origens, pulsões vindas do confim da memória. E, sem medo, exigir-vos o devido respeito e atenção. Posto que a nudez também será nossa. Abriremos as portas e mostraremos a nobre pele e as cicatrizes, com todas as enrugas da história refletidas na gramática dos nossos rostos.
Com carinho bárdico comporemos os novos caminhos da arte e da cultura galega, falando de nós para vós por vieiros de ida e volta, de porto aberto, sem alfândegas nem Lestrigões.
Eis a árvore partida que pega o seu tronco e se bota a andar. É que quando uma árvore anda, é inevitável, só pode fazê-lo sobre as suas raízes.
mensagem anterior: A língua do poder
Sim, temos uma voz, disso estamos certas e certos, e temos todo esse belo percorrido que descreves; mas também é certo que ainda custa convencer muitos dos nossos interlocutores, ainda incrédulos… ou ainda a ver, por detrás e arredor de nós, o poder do Estado Espanhol, direto ou indireto nos seus servidores, ainda!, na nossa Terra: aí temos o trabalho a fazer;
aperta!
Quanto gostaria de ter 20 anos,pele aprender tantas coissas,tão feliz do que escreves Maravilhoso artigo,Parabens,beijinhos Menina.
Voz galega que se prolonga na portuguesa.
Carlos, pois o único que podemos fazer é insistir e falar claro. E que os cegos se tirem o próprio véu dos olhos.
Asun, a sorte e maravilha é ter-te a ti, tal como és.
Pedro, caro, pois uma vez aberta a voz, é ponte de ida e volta, de dous sentidos, de cá pra lá e de lá pra cá.
Obrigada.
Estou a dar-lhe voltas ao romance “A Nau Catrineta” (de que pouca informação acho na rede) e mais a expressão “anjo de loucura”. Terá algo a ver com estas reflexões “diabólicas” da Isabel? Sei que me surgiram por culpa do Marinhas del Valle, saudoso amigo, mas…
E que nos dizes, Isabel, do acórdão do TC da República portuguesa?
Caro António, duvido muito que as reflexões sejam “diabólicas”. Só vê o diabo quem acredita em deus. A respeito do TC e a sua barragem das medidas de “austeridade” do governo português, dizer que o mesmo deveria fazer o TC espanhol, e o TC grego, e o italiano e… É claro que a oligarquia governante, esses que manejam a língua do poder, têm outros donos, são servos de outros poderosos, e no último que pensam é no benestar cidadão. Que uns juízes digam que não é possível continuar com os cortes, está bem. Algo bom tinham de fazer, não? Aqui outros juízes dedicam-se a sequestrar galegos por considerar-se independentistas…
Sem dúvida: não sei se os estados (mesmo o reino bubónico…) ainda existem; com toda a certeza, não existem os governantes, apenas são desgovernantes governados, escravos da TRIAKA venenosa…
Só a poesia (do verbo grego “poieo”: criar, fazer) nos salvará e mesmo os salvará (aos desgovernantes), porque acabarão renunciando. (Não dissera o Coelhinho que, se havia acórdão negativo para os seus “despropósitos”, se iria embora? Foi-se?)
Continuemos a criar e darmos conseguido o nosso propósito!
Carlos, um apontamento: “isto” do reino é reino porque dizem que há rei, mas estado-estado, duvido de que seja estado o estado…