Da Galiza, mensagem : O nosso papel na Lusofonia – por Isabel Rei

Da Galiza mensagem

O nosso papel na Lusofonia

 

Vivemos de utopias. Desde a beleza do amigo que medievais atendemos, cercadas de ondas que grandes são, temos passado à utopia do mar e das índias vencendo os ventos da Trapobana, depois a utopia da saudade nos levou, emigrantes, a dar com os nossos corpos indígenas nas terras de Macunaíma, e a beber das pangeicas fontes africanas. Vimos nascer cantares e folhas novas, aprendemos a tocar a harpa, voltamos ao mar com Simbad e ao medievo com Merlim, e descobrimos a pátria utópica na língua que nos arrastava.

Chegamos ao moderno presente montadas em carros de bois, e aqui continuamos na procura da nossa Ítaca. Dos tempos em que Joám de Cangas ateigava os seus escritos de tis nasais, e chegadas ao presente do Acordo Ortográfico, tendo em conta que a história da língua continua a ser contada, a nossa utopia atual é a criação duma Lusofonia em pé de igualdade. O relacionamento de todos os países lusófonos, incluída a Galiza, sem subserviências históricas, políticas ou económicas.

Pois, dado que nos dispusemos a participar na construção da obra, é sem pudor que queremos cumprir o nosso papel e mostrar-vos os segredos do passado que brilham nos galegos olhos. Convidar-vos às origens, pulsões vindas do confim da memória. E, sem medo, exigir-vos o devido respeito e atenção. Posto que a nudez também será nossa. Abriremos as portas e mostraremos a nobre pele e as cicatrizes, com todas as enrugas da história refletidas na gramática dos nossos rostos.

Com carinho bárdico comporemos os novos caminhos da arte e da cultura galega, falando de nós para vós por vieiros de ida e volta, de porto aberto, sem alfândegas nem Lestrigões.

Eis a árvore partida que pega o seu tronco e se bota a andar. É que quando uma árvore anda, é inevitável, só pode fazê-lo sobre as suas raízes.

 

Luís Gomes Pácios (1925-1983)
Luís Gomes Pácios (1925-1983)

 

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10 Comments

  1. Sim, temos uma voz, disso estamos certas e certos, e temos todo esse belo percorrido que descreves; mas também é certo que ainda custa convencer muitos dos nossos interlocutores, ainda incrédulos… ou ainda a ver, por detrás e arredor de nós, o poder do Estado Espanhol, direto ou indireto nos seus servidores, ainda!, na nossa Terra: aí temos o trabalho a fazer;

    aperta!

  2. Carlos, pois o único que podemos fazer é insistir e falar claro. E que os cegos se tirem o próprio véu dos olhos.
    Asun, a sorte e maravilha é ter-te a ti, tal como és.
    Pedro, caro, pois uma vez aberta a voz, é ponte de ida e volta, de dous sentidos, de cá pra lá e de lá pra cá.
    Obrigada.

  3. Estou a dar-lhe voltas ao romance “A Nau Catrineta” (de que pouca informação acho na rede) e mais a expressão “anjo de loucura”. Terá algo a ver com estas reflexões “diabólicas” da Isabel? Sei que me surgiram por culpa do Marinhas del Valle, saudoso amigo, mas…

  4. Caro António, duvido muito que as reflexões sejam “diabólicas”. Só vê o diabo quem acredita em deus. A respeito do TC e a sua barragem das medidas de “austeridade” do governo português, dizer que o mesmo deveria fazer o TC espanhol, e o TC grego, e o italiano e… É claro que a oligarquia governante, esses que manejam a língua do poder, têm outros donos, são servos de outros poderosos, e no último que pensam é no benestar cidadão. Que uns juízes digam que não é possível continuar com os cortes, está bem. Algo bom tinham de fazer, não? Aqui outros juízes dedicam-se a sequestrar galegos por considerar-se independentistas…

  5. Sem dúvida: não sei se os estados (mesmo o reino bubónico…) ainda existem; com toda a certeza, não existem os governantes, apenas são desgovernantes governados, escravos da TRIAKA venenosa…

    Só a poesia (do verbo grego “poieo”: criar, fazer) nos salvará e mesmo os salvará (aos desgovernantes), porque acabarão renunciando. (Não dissera o Coelhinho que, se havia acórdão negativo para os seus “despropósitos”, se iria embora? Foi-se?)

    Continuemos a criar e darmos conseguido o nosso propósito!

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