IRAQUE, A GUERRA «FAVORITA» DOS VIRA-CASACAS LUSITANOS – por Alfredo Barroso

Da Associação 25 de Abril recebemos este texto, lembrando que «De vez em quando, há que recordar… para preservar a memória – As nossas felicitações ao Alfredo Barroso!» Recomendação com que concordamos e, por isso, divulgamos estas notas.

1.Halliburton Co., o poderoso grupo empresarial liderado por Dick Cheney, que foi Vice-Presidente dos EUA durante os dois mandatos de George W. Bush, ganhou nos últimos 10 anos, graças à guerra no Iraque, cerca de 40 mil milhões de dólares, beneficiando de contratos que foram atribuídos a empresas do grupo sem quaisquer concursos públicos.

O total dos contratos estabelecidos pelo governo federal com empresas privadas, beneficiando de fundos públicos pagos pelos contribuintes americanos, eleva-se, no mesmo período, a cerca de 138 mil milhões de dólares, abrangendo o fornecimento de serviços de segurança privados, construção de infra-estruturas civis e militares e apoios logísticos de todo o tipo às tropas norte-americanas e às tropas iraquianas treinadas pelos invasores.
Segundo a Comissão bipartidária do Congresso dos EUA constituída para analisar e fiscalizar os contratos estabelecidos durante as guerras no Iraque e no Afeganistão, é muito provável que o nível da corrupção envolvida nos contratos de Defesa ascenda a 60 mil milhões de dólares. Mas, apesar das promessas do actual Presidente, Barak Obama, os contratos atribuídos sem concurso público aumentaram 9 % em 2012. Já nenhum presidente dos EUA se atreve a enfrentar o poderoso «complexo militar-industrial» denunciado pelo presidente Dwight Eisenhower (republicano) no discurso proferido no final do seu segundo mandato, em 1961.

Entretanto, um estudo do Watson Institute for International Studies da Universidade de Brown – «Costs of War Project» – diz que só os custos directos da guerra no Iraque ascendem a 1,7 triliões de dólares e os custos indirectos rondam os 490 mil milhões.

2. Ao ler estas notícias escandalosas, sobre custos e lucros alucinantes de uma guerra que terá provocado certamente muito mais de 100 mil mortos, não posso deixar de me lembrar do bando de jornalistas e comentadores portugueses – muitos deles vira-casacas oriundos da esquerda e da extrema-esquerda – que apoiaram com grande entusiasmo «neoconservador» a invasão e ocupação do Iraque pelas tropas dos EUA e do Reino Unido – às ordens de George W. Bush e Tony Blair -, fazendo coro, nesta santa terrinha, com o então primeiro-ministro (ex-MRPP) Durão Barroso (anfitrião da vergonhosa «cimeira dos Açores») e o então ministro da Defesa, Paulo Portas.
Não me esqueço dos inflamados textos de apoio à invasão dados à estampa – sobretudo no «Público», no «DN» e no «Expresso» – por jornalistas e comentadores como José Manuel Fernandes, Teresa de Sousa, João Carlos Espada, António Barreto, Maria Filomena Mónica, Maria de Fátima Bonifácio, Vasco Pulido Valente, José Cutileiro, José Lamego, Carlos Gaspar, Henrique Monteiro, António Ribeiro Ferreira e alguns mais, «denunciando» a existência no Iraque de armas de destruição em massa (ADM’s) – que nunca foram encontradas porque não existiam -, proclamando que o que estava em causa era a «defesa da civilização ocidental», e acusando os que se opunham à invasão de estarem a reeditar a «traição de Munique» em 1939. Um director-adjunto do «Expresso», jornal onde eu na altura escrevia crónicas semanais, chegou mesmo a censurar-me por eu insistir tanto em escrever crónicas contra a guerra no Iraque…

Mas as mentiras não eram apenas em relação às famosas ADM’s. Eram igualmente em relação à presença da Al Qaeda no Iraque, o que também se provou ser completamente falso. De facto, foram o caos e a destruição provocados pelas tropas invasoras que criaram as condições propícias à infiltração dos grupos terroristas no pais. E havia, ainda, a mentira tão propagandeada, segundo a qual o ditador Saddam Hussein tinha à sua disposição um dos Exércitos mais poderosos e bem equipados do mundo. Como se viu…

A verdade é que Saddam era um ditador laico e a Al Qaeda nunca conseguira pôr os pés no Iraque enquanto ele exerceu o poder! Claro que Saddam não era flor que se cheirasse e mandou matar muita gente, mas a invasão das tropas americanas e inglesas provocou a morte de, pelo menos, cem vezes mais iraquianos (fazendo as contas por baixo)… E a Al Qaeda pegou de estaca no Iraque e ainda hoje mata que se farta…

3. Convém esclarecer que não acho condenável – considero até perfeitamente legítimo – que alguém que militou na esquerda ou na extrema-esquerda, às tantas, mude de ideias e passe para o campo contrário. O que me choca é o oportunismo e o fanatismo que leva esses indivíduos tão ortodoxos, sobretudo nas organizações de extrema-esquerda em que militaram, a darem uma volta de 180 graus, tornando-se igualmente ortodoxos mas na «nova direita» neoconservadora e neoliberal. Mostram-se mesmo mais papistas que o Papa, com o excesso de zelo característico dos recém-convertidos, mas sem se libertarem das «matrizes» e das «palas» com que foram formatados e habituados a raciocinar. Além disso, mostram-se sedentos de poder e, sobretudo, dos privilégios e proventos que recebem dos novos «patrões». São exemplos acabados do político sem dignidade nem espinha dorsal, a que Winston Churchill chamava «boneless wonder», ou seja, «prodígio sem ossos», sem coluna vertebral, sem coerência e sem carácter.

Esta gente é bem o reflexo dos tempos actuais, em que prospera uma classe de políticos medíocres e mediáticos, verdadeiros cataventos que se preocupam bastante mais com as suas carreiras políticas, com os negócios e os proventos pessoais, do que com o serviço público e o bem-estar das populações. Estes mesmos que foram apoiantes entusiásticos da invasão e ocupação do Iraque, também defenderam publicamente a «invasão» de Portugal pela «troika», aplaudindo a subida ao poder da coligação de direita que está há dois anos a arruinar este país.


Leave a Reply