O CUSTO DE NADA FAZER – 3 – por Júlio Marques Mota

(Continuação)

A realidade mostra e indica o contrário do que deveria ter escrito e aqui Bernankee ajuda-nos, a ajuda-nos a mostrar que há aqui uma incompetência total,mas aliada àmaldade igualmente, porque aplicar aqui a política de austeridade é bem mais do que uma indiferença aflitiva no plano dos factos face ao maior flagelo do futuro da Europa, a destruição de gerações de jovens, a comprometer o próprio futuro do continente. E não poderemos também esquecer que a caminharmos nesta espiral recessiva significaigualmente estarmos a perder posição competitivano mercado mundial e no mercadoeuropeu igualmente, a tornar ainda bem mais difícil qualquer retoma, pois como pequeno país esta retoma deverá passar igualmente pelo acréscimo de exportações, quando com estas políticas se está a perder ainda mais competitividade.O que de si deveríamos sentido como texto escrito seria que nãoprecisamos de mais austeridade, precisamos de mais políticas expansionistas, precisamos de crescimento económico, mas no quadro da economia regionalizada, Europa, União Europeia, no quadro da economia mundializada igualmente, o mercado mundial, o crescimento num só país é um absurdo e é uma impossibilidade igualmente, coisa que António José Seguro teimosamente parece querer ignorar, ou seja precisamos de um plano integrado de crescimento a nível da Europa e não de travões para a dívida. De uma outra maneira, precisamos de uma outra União Europeia. Dir-me-á que me apresento então como um perigoso esquerdista,mas seguramentenão. Bastaria então pensar numa outra Europa. Numa entrevista dada por uma personalidade europeia a um jornal francês, podemos extrair o seguinte excerto:

“P. François Hollande disse que gostaria que a União Europeia saísse da sua languidez. Os seus discursos permitem pensar nisso? R. O que era essencial é que ele comece pela Europa. Que ele nos explique que a Europa deve ser vista como a solução, não como o problema. A França, que foi um motor com Schuman e Monnet desde 1950, deveria retomar a iniciativa. Em França, temos a Europa vergonhosa. Esta tornou-se um problema para o PS e para a UMP. Não nos podemos estar sempre a descartar com Bruxelas para explicar que isso não resulta em França. Eu disse há já seis meses ao presidente da República que é hora de abrir um grande debate nacional sobre o projecto europeu da França. Em Bruxelas, ganha-se quando se está à frente no debate de ideias. Estou feliz pelo sinal dado por FrançoisHollande. Mas uma das condições da credibilidade da palavra francesa é reduzir o seu défice e melhorar a sua competitividade.

P. A governação económica tem uma chance de ser aplicada? R. Ela já progrediu muito nestes dois últimos anos. Nós construímos a União Monetária, deixando florescer a desunião económica e orçamental. É essa contradição que a crise revelou. Podemos mesmo ir mais longe um dia com um Presidente da zona do euro permanente que seja ao mesmo tempo vice-presidente da Comissão e o responsável perante o Parlamento Europeu, esta é uma ideia que eu sugeri há dois anos.

P. A União Europeia é vista como um grande mercado único. Será também necessário uma Europa social? R. Uma base fiscal e social comum é também um requisito para se ter um mercado interno justo. Temos de regressar a uma economia social de mercado, que se abandonou há trinta anos a favor de uma linha ultraliberal. Isto significa a preservação de um determinado modelo social e económico de protecção. É necessário em cada país e em cada ramo que exista um salário mínimo. A convergência fiscal e a harmonização social, obviamente que devem ser feitas. A Comissão apresentou propostas nesse sentido. Propusemos, por exemplo, a harmonização das bases de imposto sobre as sociedades. Muitas vezes, defrontamo-nos contra a regra da unanimidade, que deve ser alterada.

Aqui, nada de esquerda, senhor Prof. Doutor Anibal Cavaco Silva, como ponto de partida para responderà crise. Nada, nada mesmo. Trata-se de declarações de Michel Barnier, Comissário Europeu para o mercado interno e serviços. Simplesmente isso e mais uma vez de ignorância se trata ou se tem tratadoporque este homem, que esteve por detrás de uma das principais armasque Durão Barroso quis atirar contra os trabalhadores, a Directiva Bolkestein, habituado aos gabinetes do poder desdehá décadasdescobre agora esta simples verdade, de que é necessário mudar a arquitectura institucional da União Europeia. Barnier, um dos importantes Leopardos, para utilizarmos a terminologia de Palley,que circula pela Europa a ter consciência que se quiser ficar algo terá que mudar. Mas poder-me-á dizer que, desde os tempos em que o senhor Professor era um dos assistentes do comendador e fascista Alves Martins no ISCEF de então, é um defensor acérrimo do equilíbrio orçamental tal como está escrito nosTratados e prefere ter uma fé absoluta nas certezas que o ministro alemão das finanças dita à Europa do que correr o risco de desagradar a um dos Neros modernos deste continente martirizado, dir-me-á que prefere antes a segurança que lhe dá estar a acreditar nas mentiras que o ensino dominante prega por essas universidades fora, entre as quais a de que é possível haver uma politica de austeridadeque seja ao mesmo tempo expansionista,do que estar a procurar perceber que isto é uma pura mentira, porque na verdade não existe objectivamente nenhum exemplo que no contexto como este confirme essa tão apregoada tese a partir de Berlim, de Frankfurt e de Bruxelas. Prefere essa poderosa almofada intelectual chamada ignorância, certo, mas deixe-me dizer-lheque nos anos 30 houve um homem defensordos equilíbrios orçamentais, um Homem com H grande que face às suas crenças soube antes optar pela necessidade de dar resposta aos problemas levantados pelarealidade, pelas necessidades humanas. Mas há Homens e homens, com H grande e com um h pequeno quase mesmo a sumir-se.Essehomem chamava-se Franklin Roosevelt. E veja a dignidade com que Rooseveltenfrentou as forças retrógradas do orçamento equilibrado, os liquidacionistas de então,a versão antiga dos europeístas de agoracom Merkel e Durão Barroso à cabeça. Veja então em Roosevelt o que deveria ter escrito para ser lido ao povo português, com fome e sem empregos, como nos Estados Unidos de então.

(Continua)

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