“PALAVRAS MAL DITAS” OU “PALAVRAS MALDITAS”? – 2 – por Álvaro José Ferreira

O muro das palavras vive dentro do papel. Da voz. Da ideia que levanta o pensamento. Devia saber por onde; e quantas vezes, não sei.
A poesia sempre foi em mim a procura permanente do sonho que me evada e me descubra. A minha e a dos outros.
Há muito que dizer poesia me fascina. Se não é, afinal, o que tenho feito toda esta vida de cantor e músico? Acho que sim.
A música das palavras antecede-lhes o significado. Depois reforça-o. E por fim, sobra-nos dele, também.
Apenas há que descobrir o ponto encoberto da emoção. E a cada língua e dialecto me imagino pensando a nova sonoridade, a nova residência do vocábulo, com o fascínio da procura eterna e da multiculturalidade. E da melhor forma de fazer circular e invadir cada pessoa.

Saber uma língua é saber comunicá-la.

 Ouvia em criança o Villaret, o Lereno, a Cármen Dolores, como ícones; depois o Ruy Matos, o Varela Silva, o Victor de Sousa. Tive, no entanto, as maiores referências, que me perdoem todos, no Ary e no Mário Viegas, de quem fui colega nos palcos e na vida.

Dizer a poesia sempre me transportou. E, no caso, a minha poesia. Por isso ousei a novidade deste projecto. Veículo de mim que assim, de modo tão inesperado, aqui vos deixo.
As canções não morreram. Depressa voltarão. Algumas aqui ancoram; outras talvez daqui tenham despertado…
Mas a eternidade deste espaço secreto, essa só a quero partilhar com os íntimos mais íntimos de mim. Todos os que ainda sentem e sabem ouvir as coisas, do lado de dentro da alma.
Todos os que ainda gostem de afundar-se neste susto apaixonante de viver. Esses estarão comigo e vão perdoar-me a ousadia.
Disse. Está dito. Se são ou não “palavras mal ditas”, está nas vossas mãos julgá-lo.

Pedro Barroso

Palavras Mal Ditas, de Pedro Barroso
(Livro/CD, Lua de Marfim/Ovação, 2013)

1. Estados Unidos da Europa
2. Aurora
3. Madrugada
4. Árvore
5. Limites
6. A Morte e a Morte
7. Estrela d’Alva
8. Quero Viver Numa Cidade
9. O Mundo pela TV
10. Balada do Desespero
11. Perda
12. Caso Sério
13. Fornicação dos Tristes
14. Menina dos Olhos d’Água
15. Rugas
16. Aniversário
17. Noite de Afago
18. Memória
19. Outro Edifício
20. Excesso
21. À Porta Fechada do Castelo
22. Transgressão Tardia
23. Eterno
24. Outro Dia
25. D. Sebastião
26. Partido
27. Governação
28. Esperança
29. Epitáfio
30. Legado Vigilante / …Atlantes / …Carta Transmontana

Gravado e misturado por Rui Dias, nos Estúdios Mister Master, Vila Nova da Caparica
Foto da capa – Veríssimo Dias
Grafismo – Pedro Matias

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