RETRATOS, IMAGENS, SÍNTESE DOS EFEITOS DA CRISE DA ZONA EURO SOBRE CADA PAÍS

Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

 

Perdidos na Alemanha

 

Perdidos na Alemanha: jovens espanhóis candidatos a empregos na Alemanha foram enganados e atraídos sobre falsos pretextos

Se é desempregado e migrante vindo para a Alemanha não procure por aqui o paraíso

 Claus Hecking

 Spanier in Thüringen gestrandet - Land hilft bei Vermittlung

DPA

Diego Lopez, de 21 anos, a quem foi prometido um contrato de trabalho e um apartamento partilhado, mas nada disto se materializou.

Eles prometeram novos postos de trabalho na Alemanha –mas as suas esperanças têm-se desvanecido e estão agora já extintas. Quase 130 potenciais trabalhadores espanhóis estão presos em Erfurt depois de  agências de emprego privadas aparentemente não os terem conseguido  acompanhar na sua procura de postos de trabalho.

Quando a noite cai , em Erfurt, Diego Lopez tem que ir para o “buraco “. Isso é o que o espanhol de  21  anos chama à  adega de uma antiga escola onde ele e 20 de seus compatriotas têm estado a dormir nas últimas semanas. Beliches estão amontoados uns ao lado dos outros em duas pequenas salas, que cheiram a meias suadas e sujas, diz-nos Lopez. O sistema de ventilação não funciona correctamente, e todos eles têm de partilhar um único chuveiro, acrescenta.

.Mas ao contrário das suas  últimas acomodações , pelo menos o aquecimento funciona e não tem que dormir no chão. Além disso, Lopez ainda pode dar-se ao luxo de permanecer aqui. A noite no “buraco”  custa € 3,50 .

Uma enfermeira com sólida formação profissional em geriatria, é um dos 128 espanhóis, que foram presos em Erfurt depois de lhes terem sido prometidos empregos que não vieram a encontrar. Cheios de esperança, saíram do seu país para bater à porta da Alemanha há duas semanas com a garantia de que iriam participar num programa a que a Agência Federal de Emprego chama ” O trabalho da minha vida. ” A nova iniciativa promete aos jovens dos países do sul extremamente fragilizados uma   formação profissional dual ou o emprego como um trabalhador qualificado , juntamente com cursos de línguas e hospedagem – tudo isto subsidiado pelo Estado alemão. E foi este programa que duas agências de emprego privadas usaram para atrair os espanhóis para o leste do estado alemão da Turíngia

Os seus empregos de sonho nunca se materializaram, no entanto. “Eles enganaram-nos descaradamente,”, diz Lopez. Ele está a referir-se a  Kerstin S. e Sven K., os chefes das agências X-trabalho e Sphinx Consulting. “Sven disse-me  que eu iria ganhar €818 por mês e morar num  apartamento de quatro quartos partilhado”, acrescentou.

“A Alemanha não é o Paraíso”

Em vez de um contrato de trabalho numa unidade de cuidados Altenburg  de boa qualidade e num bom sítio, no entanto, ele foi colocado num  prédio sombrio, sem água corrente. As empresas colocam outros colegas seus, candidatos à procura de empregos, em barracas sem aquecimento numa parte industrial da cidade. Alguns participantes do programa relatam terem tido  que passar noites dentro de  carros. Enquanto isso, eles não viram nem um centavo sequer dos ditos  fundos que lhes estariam prometidos.

Mas muito pior para os candidatos espanhóis foi terem descoberto  que não havia postos de trabalho à espera que eles chegassem, afinal, para os ocupar. Quase nenhum deles recebeu os contratos de trabalho que lhes foram prometidos, e muitas vezes às empresas tinha sido dada muito pouca informação sobre os recém-chegados. As firmas de intermediação, as  empresas propriamente interessadas  e os políticos concordam: Ambas as agências de colocação falharam quanto à colocação das pessoas.

“Fundamentalmente não foram devidamente acautelados os interesses dos jovens imigrantes,” diz Matthias Machning, Ministro da economia de Thuringia. Machning, fazendo parte do centro-esquerda do Partido Social Democrata, está altamente preocupado: os jornalistas espanhóis estão a virem  para Erfurt às dúzias  para relatarem e acompanharem os seus  compatriotas. “A Alemanha não é o paraíso,” diz a estação de rádio Cardeña Ser chamado considerando assim a situação para um dos  seus segmentos. Na quarta-feira, Machning convocou uma primeira reunião sobre esta crise  com representantes da comunidade de negócios da região e com a embaixada de Espanha. “Isto é acerca da   imagem da Turíngia e da Alemanha,”, disse o político.

Estes agentes exageraram e de uma tal forma que é irremediável, diz Dirk Ellinger, chefe do German Hotel and Restaurant Association (Dehoga) em  Thuringia (DEHOGA).” Eles nem sequer conseguem apresentar  listas de nomes exactos acerca dos participantes do programa. ” Kerstin S. começou a colocar  formandos espanhóis em  restaurantes, hotéis e empresas de culinária em grande escala. Para um prémio nominal de 250 € o agente comprometeu-se a disponibilizar um pacote livre de grandes preocupações: a partir da pré-seleção dos candidatos qualificados  para a organização de aulas de alemão, para o alojamento em Turíngia.

Mas Kerstin S. fracassou  repetidamente os compromissos com as empresas,  não cumprindo os prazos e fez alegações falsas, diz Ellinger. “E então, quando a primeira pessoa espanhola  chegou, ele enviou-me  um e-mail a perguntar qual o tempo mínimo que eu levava para elaborar  um contrato de estágio” – claramente para o poder vir a  aplicar  para os subsídios governamentais de várias centenas de euros por mês e dando-lhe a perspectiva de ser para os participantes do “trabalho da minha vida”.

Agências comerciais responsabilizam

Kerstin S. nega tudo. “Dehoga mente “, reage. Todas as empresas “tinham o conhecimento que estes jovens estavam a  chegar,” acrescentando que muitos contratos de formação e treino caíram por terra  por causa das capacidades linguísticas dos jovens, linguisticamente muito pobres. “Muitas dessas pessoas não têm nenhum interesse em aprender alemão,” diz Kerstin S. Os jovens espanhóis tinham aparentemente sido erradamente  informados sobre o programa pelo firma Sven K.  acrescenta  Kirstin S. ela. Por sua vez, esta segunda empresa responsabiliza-a   por este verdadeiro  desastre  .

Os políticos e as empresas estão agora tentando encontrar uma solução comum. O ministro Machning apelou  na sexta-feira para uma segunda Cimeira de emergência para a qual convidou todos os jovens envolvidos. As empresas Dehoga também começaram a contratar por conta própria e já assinaram  cerca de 50 contratos de formação ou de estágio. “No final, iremos empregar talvez uns  80 espanhóis,” diz o director Ellinger. E os subsídios do governo poderiam finalmente chegarem eventualmente até mesmo no fim. “Esta é uma questão de extrema dificuldade que estamos a acompanhar  com muita atenção,” disse um porta-voz para a Agência Federal de emprego.

Diego Lopez espera fervorosamente poder acabar por encontrar  um trabalho na terra prometida, apesar de tudo. O seu dinheiro está quase a acabar.  E os € 150 para o curso de alemão que ele pagou em  Espanha, as passagens aéreas, as viagens de comboio e o custo do alojamento que os agentes lhes prometeram que seriam reembolsados ​​depois pelo próprio governo alemão? Ele provavelmente nunca verá nada disto. Para receber os subsídios, os agentes teriam que apresentar os pedidos com antecedência  para a Agência Federal de Emprego. Até à data, nenhum tal documento foi recebido.

Claus Hecking, Lost in Germany: Spanish Jobseekers Lured on False Pretenses, texto publicado no Der Spiegel e disponível em:

http://www.spiegel.de/international/europe/spanish-jobseekers-stranded-in-germany-a-927361.html

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