E tudo, o tornado levou em Paredes e noutros locais – por Mário de Oliveira

De que valem os lucros, se perdemos o chão?

O nosso País e uma grande parte do mundo está a ser avassalado por sucessivos e inesperados tornados que, quais ladrões, levam tudo pelos ares e deixam as populações sem abrigo e sem chão, quase à beira de morrerem de terror. O concelho de Paredes, distrito do Porto, é, porventura, o mais paradigmático, neste início de 2014. Um tornado de curta duração, mas de forte intensidade, atacou, alta madrugada, quando as populações dormiam. Nem os serviços meteorológicos previram semelhante acção. Não se trata de um ataque da natureza contra as populações. Somos natureza consciência, não somos estranhos, muito menos, inimigos. Mas a verdade é que estas acções são provocadas pelo Poder financeiro global. Não é a natureza que nos ataca. Somos nós que a atacamos. Acontecemos, no decurso da evolução, para cuidarmos dela e uns dos outros, numa grande reciprocidade maiêutica, mas, em vez disso, metemo-nos a cuidar dos deuses e das deusas, com destaque para o deus Lucro – o Dinheiro – e agora sofremos as consequências. Saibam, entretanto, que este é apenas o princípio das dores. O próximo futuro traz no bojo acções muito mais violentas que estas. Porém, é em momentos como os deste início de 2014, que ganha ainda mais sentido a grande pergunta, De que valem os lucros, se perdemos o chão?

 Em Paredes, nem o cemitério local escapou. Nem mesmo algumas igrejas. As reportagens tv mostraram-nos seres humanos como nós a transportar em braços grandes imagens de cristos crucificados e de nossas senhoras. Os supostos protectores e salvadores, afinal, são nada, em horas como estas. Em lugar de protegerem e salvarem as populações, precisam de ser protegidos e salvos por elas. Mas parece que nem assim aprendemos a lição. E insistimos no fabrico de novas imagens que, depois vendemos/compramos, e corremos a prostrar-nos diante delas. Uma humilhação sem nome. Deveríamos perceber, à luz deste tipo de tornados, de ventos ciclónicos, de chuvas torrenciais, de frios glaciares, e de invasão dos mares terra dentro, que as religiões de nada valem. Todas são tentação para os seres humanos. Desviam-nos dos prementes e permanentes actos políticos de cuidarmos uns dos outros e do planeta. Todas têm na sua génese, a busca do Lucro, do Dinheiro. Este, veste de protector e de salvador das populações, mas é a mentira e o assassínio. Servi-lo, é um suicídio, um genocídio e, por fim, um ecocídio. Temos deusas e deuses que se alimentam dos que os servem, mas perdemo-nos e perdemos o chão. É o que nos revelam estes primeiros dias de 2014. Em Paredes, noutras partes do País e em muitas outras partes do mundo.

 Seremos insensatos, se, depois desta revelação, continuamos a correr para Fátima e para os santuários da nossa humilhação; se continuarmos a escolher os grandes interesses financeiros para nos governarem; se continuarmos a fazer promessas a todas as nossas senhoras e a todos os santos e a cumpri-las, em vez de cuidarmos uns dos outros e do planeta. Mas então não nos queixemos. A natureza não é nossa inimiga. Somos nós que somos inimigos uns dos outros e inimigos dela. Exploramo-nos uns aos outros e exploramos a natureza, quando deveríamos cuidar uns dos outros e da natureza. Dois mil anos depois de Jesus, ainda não percebemos que, tal como ele, também nós nascemos e viemos ao mundo para cuidarmos uns dos outros e do planeta, e não para cuidarmos das deusas e dos deuses, nem para sermos servos atentos e reverentes dos grandes interesses financeiros, a demência organizada e estrutural. Mudemos de ser, mudemos de Deus!

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