EDITORIAL – QUEM TEM MEDO DE VAN ROMPUY?

Imagem2No dia 11 de Setembro, passam 300 anos sobre a batalha de Montjuic, acontecimento decisivo para a perda da independência formal de que a Catalunha usufruía. Na guerra da Sucessão, os catalães apoiavam a Casa de Áustria, os Habsburgos, a que se opunham os apoiantes de Filipe V de Bourbon. Após heroica resistência catalã, em 14 de Setembro de 1714, as forças bourbónicas venceram. As represálias não se fizeram esperar – o uso do idioma catalão foi proibido, as universidades catalãs encerradas…

Mariano Rajoy,  presidente do Governo espanhol, recusa liminarmente a possibilidade de se realizar na Catalunha uma consulta popular sobre a recuperação da independência da Catalunha– “Essa consulta é inconstitucional  e não se irá fazer”. Hermann Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, apoia esta posição centralista: “Se uma parte se torna independente, sai da União Europeia”. A posição de Rajoy é normal, ainda que irracional – como pode a lei fundamental de um estado admitir a secessão de uma parte do seu território. Todas as independências são inconstitucionais. A posição de Hermann Van Rompuy  é abusiva – quem o mandatou para proibir ou autorizar independências? Como pode um belga obscuro, de cuja existência a maioria dos mais de 500 milhões de cidadãos da União Europeia nem sequer suspeita, arrogar-se o papel de juiz supremo? Talvez o fantasma da secessão lhe lembre os problemas do seu país, também ele construído como o monstro de Mary Shelley…

A realização do referendo foi anunciada em 12 de Dezembro de 2013 por  Artur Mas, presidente do Parlamento catalão, com o apoio das maioria parlamentar – 88 deputados dos 135 que constituem a Generalitat. O referendo marcado  para 9 de Novembro de 2014 tem uma forma binomial: “Quer que a Catalunha seja um Estado?”; “Se sim, quer que este Estado seja independente?”.

 Demonstrando o carácter invulgar da alma catalã, os patriotas elegeram a data dessa derrota como Dia Nacional da Catalunha. O dia em que a nação foi riscada do mapa e transformada numa região do estado espanhol – o dia em que a história da Catalunha foi suspensa  e a partir da qual urge que o povo catalão a retome. É isto que o galego Rajoy não entende ou não que entender e que o tal belga ´van qualquer coisa’ não sabe. Em que documento ou em que base jurídica se apoiaram os Bourbons para anular a independência catalã? Como pode Mariano Rajoy invocar um argumento tão estúpido?

Talvez seja melhor os Estados Unidos voltarem à posse do Reino Unido. A Magna Carta não diz em parte alguma que autoriza a independência das colónias da América…

3 Comments

  1. É assim que deve falar-se. Todas as independências políticas terão de ser contra as Constituições em curso por essa Europa fora já que elas mesmas, acima de tudo, só pretendem fazer esconder todos os roubos cometidos por vários potentados da Europa. Quantas Nacionalidades europeias prosseguem oprimidas e a Democracia – a Democracia burlada – impede, sequer, que possam manifestar-se.
    Com a excepção portuguesa onde a Nação, por fim, está confundida com o Estado, os demais estados da chamada Europa ocidental – mas não só – nada mais são que formas de expansionismo cometido por alguns estados com poder militar sobre várias Nacionalidades das suas periferias.. O General De Gaulle foi muito correcto e justo quando disse que a França tinha sido feita à ponta da espada. O jurista bretão Ian Fouerè defende que a Europa, por uma questão de justiça elementar, tem de saldar as suas contas com o regresso ao que chama – e bem- de Primeira Europa. O capital português que resulta de ser um Estado que não oprimir nenhuma Nacionalidade nunca foi utilizado nos areópagos internacionais, antes pelo contrário, só há louvaminhas aos usurpadores..CLV

  2. Que a Monarquia Castelhana, possa lidar mal com independência de regiões, que foram integradas a ferro e fogo, nos territórios dos Habsburgos e agrilhoadas à coroa por Filipe II, todos entendem, agora que a visão da Hespanha una seja brandida por um político da Galiza, já é mais difícil.Sobretudo em democracia, em que uma antiga visão de caudilho, tem pouca expressão e ainda menos justificação.

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