EDITORIAL – A EUROPA, AS CLASSES TRABALHADORAS E OS NACIONALISMOS

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Georges Orwell, em 1941, em plena segunda guerra mundial, escreveu um ensaio intitulado  England, your England, talvez procurando ir ao encontro de D. H. Lawrence, que, cerca de vinte anos antes tinha publicado England, My England, uma colectânea de contos, já anteriormente publicados, em que o autor procurava descrever as condições de vida dos seus concidadãos ao tempo da primeira guerra mundial.

Orwell, logo no início, chama a atenção para a necessidade de reconhecer a grande importância que têm o patriotismo, a lealdade nacional, para se poder perceber o mundo moderno. Refere que em certas circunstâncias a sua força pode diminuir, até mesmo desaparecer, mas que como uma força actuante (positive force) não há outra que se lhe possa comparar. Refere que o cristianismo e o socialismo internacional são muito frágeis, em comparação com o patriotismo. E que Hitler e Mussolini tinham chegado ao poder nos seus países, por terem compreendido este facto, ao contrário dos seus oponentes. Orwell, a seguir, chama a atenção para outros aspectos importantes, como haver em Inglaterra claramente uma nação para os ricos e outra para os pobres. Refere ainda as diferenças entre a cultura, os costumes e a civilização em cada nação, a insatisfação dos intelectuais em geral com a ordem existente, e a degradação da classe dirigente inglesa. É muito interessante a caracterização que faz do povo inglês, das suas idiossincrasias, e da sua maneira de encarar o mundo. Claro que pode não se concordar com ela, e ainda menos com a ideia de que a guerra, se os ingleses não a perdessem, iria acabar com a maioria dos privilégios de classe. Esta esperança do autor de 1984 não se verificou, como sabemos, e parece que se tende a agravar cada vez mais. Seria interessante, a outro nível, saber se a teve durante muito tempo.

E inegável contudo que hoje em dia na Europa se vive um ambiente com muitas semelhanças ao que perdurava em 1941, e que Orwell tenta resumir. Até se fala em economia de guerra. Entretanto, o nacionalismo irrompe de várias maneiras, por todo o lado, e confronta-se com a pesada máquina da União Europeia. As classes trabalhadoras são quem novamente paga o preço das crises, em conjunto com uma população cada vez maior de pessoas em situação vulnerável, entre as quais os idosos têm um peso considerável. O terreno é fértil para as aventuras políticas de pessoas pouco escrupulosas, e não é certo que as nações sobrevivam intactas a todo este cataclismo. Contudo, é importante começar por compreender as características de um povo, as melhores maneiras para que se sinta integrado, para além das respostas às necessidades básicas. As enormes diferenças entre as pessoas, entre classes sociais, em Portugal ou na Inglaterra, terão de ser enfrentadas. Ideias feitas, pré-concebidas com o fito de favorecer a resignação e o comodismo, como a de que “haverá sempre ricos e pobres”, os intelectuais são todos de esquerda”, e outras com que nos enterram constantemente. A questão do nacionalismo também não pode ser olhada como parecem estar a fazer as entidades que chefiam a União Europeia, tipo tábua rasa, mantém-se o que está, e vão-se unindo os bancos, e cada vez mais concentrando o capital. Simultaneamente, para além das nações, tem de se defender a posição das classes trabalhadoras e de todos os menos privilegiados.

 

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