ALBERTO DA COSTA E SILVA
( 1931 )
SONETO
Voltada sobre o pano, a moça borda
a infância e seus jardins, os dias claros,
as despedidas na ponte dos poentes,
a magia da noite, os seus cavalos.
Como evitar a morte, a mão que borda,
ao sereno lençol que, nu, aguarda
a forma de seu sonho, humilde, indaga,
senão amando e se tornando amada?
O fio compõe a lenda, sobre o linho,
do capim trescalante e o rio da tarde
que banhava a colina e os dois amantes.
Mas, por saber no amor eternizado
o que a morte vencer não pode mais,
a mão desfaz os pontos já bordados.
(de “O Tecelão”)
Poeta, ensaísta, estudioso da História de África e diplomata. Foi embaixador do Brasil em Portugal (1989-1992). Considerado autor da geração de 50, a qual, para muitos, recupera acentos populares e o jogo formalista da vanguarda. Da sua obra poética recordamos “O parque e outros poemas” (1953), “O Tecelão” (1962), “Livro de linhagem” (1966) , “As linhas da mão” (1979) e “Ao lado de Vera” (1997).