Foi no dia 23, como anunciámos. O conteúdo da comunicação proferida será mais tarde publicado.
Por agora fiquemos com a reflexão que Elisa Costa Pinto fez, sobre a ligação entre os três textos analisados por Rachel e a sua própria obra, que tivera, anteriormente, oportunidade de ler e que tanto apreciara:
“A simbólica do espelho, tema abordado na conferência e que une os 3 contos apresentados, é uma constante na obra diversa de Rachel, enquanto metáfora da procura do eu profundo e completo.
Ligado ao mito de Narciso (Narcisismo e Poesia é o mais importante título da sua ensaística), o espelho devolve ao sujeito o seu outro lado, na demanda da completude. Pode a sua materialização ser o vidro, a superfície das águas, mas pode ser também o rosto amado ou o outro lado da vida: a morte, encarada com desassombro. Pode ainda ser a arte, porque “além de encarar o espírito do tempo, a arte nos diz quem somos”.
Intelectual de formação multidisciplinar – da música à filosofia, da literatura à psicanálise, da sociologia à história – Rachel Gutiérrez tem cultivado géneros literários e ensaísticos diversos, sendo a sua participação cívica muito orientada pela defesa dos direitos das mulheres. Enquanto tradutora e crítica literária, a sua preferência vai para os grandes nomes da literatura brasileira e estrangeira, sobretudo aqueles que, de alguma forma estiveram (e ainda estão) na vanguarda temática e estilística, autores de ruptura e intemporais: Machado de Assis, Clarice Lispector, Graciliano Ramos, Rilke, Jorge Luís Borges, Dylan Thomas, James Joyce, Jane Austen, Lou Salomé, e também Freud ou Nietzsche.
Independentemente do meio escolhido, o que transparece na obra e na actividade de Rachel Gutiérrez é a enorme paixão pela vida e pelo ser, expressa e reconhecida na arte, uma espécie de missão que realiza como um Sísifo feliz, que não transporta um rochedo, mas sobe a montanha, no cume da qual encontrará um espelho. “Seria essa a missão do poeta – a de estabelecer e manter o contacto com as profundezas do Ser, com a vida e a morte, para mostrar-nos a nossa cara, o que somos, isto é essa a missão do poeta – a de estabelecer e manter o contacto com as profundezas do Ser, com a vida e a morte, para mostrar-nos a nossa cara, o que somos, isto é, seres de imaginação, os únicos capazes de poiésis em toda a criação”.
Leu um poema da própria palestrante, como que a ilustrar a sua opinião:
HEIDEGGERIANA
Na treva espessa perdemos
até o rastro do sagrado
há dor, morte e horror
nas telas da trivialidade
o amor não tem sentido
se morreram Deus e a alma
e a arte mostra com asco
a cara grotesca do mundo
só os poetas ainda cantam
a saudade da saudade
de um rastro que já não se vê.
Comigos de Mim
Parabéns Raquel –