Selecção e tradução de Júlio Marques Mota
Ucrânia: será necessário bombardear Kiev ?
Certas populações não interessam à comunidade internacional
Jean Bonnevey, revista Metamag, 28 de Maio de 2014
Decididamente democracia está a rimar cada vez mais frequentemente com hipocrisia. Os civis ucranianos do leste do país não têm o mesmo valor que os civis líbios do leste do seu país? É necessário recordar, mesmo assim, o pretexto que permitiu o bombardeamento de Trípoli, a intervenção militar, depois a eliminação física de Kadhafi. Tratava-se de proteger populações civis que deixaram de reconhecer o poder de Trípoli face à intervenção de um exército muito superior às milícias armadas do leste.
As semelhanças com o que se passa desde há cerca de alguns dias na Ucrânia são mesmo muito impressionantes. É evidente que se deixa que assim seja feito pela oligarquia posta no lugar e com a cumplicidade dos EUA e da Europa, porque os civis ameaçados pela repressão do exército são uns maldosos uma vez que preferem Moscovo à Bruxelas. O nosso direito de ingerência em nome dos grandes valores e dos grandes princípios do Ocidente é na verdade de geometria muito variável.
O novo presidente eleito pela zona ocidental do país não tem o perfil “de um grande democrata”. Proprietário de um grande grupo chocolateiro, já duas vezes ministro em governos anteriores, Petro Porochenko, homem de 48 anos, é um presidente oligarca, um homem dos mercados. Deve absolutamente reatar relações com Moscovo para acalmar o leste da Ucrânia, é o seu dever e a sua responsabilidade. De momento, escolheu lançar o exército ao assalto do aeroporto internacional de Donetsk, a grande cidade do Leste industrial nas mãos dos separatistas. Não foi para isso que o elegeram.
Porochenko também não se deve enganar sobre o mandato que lhe é confiado. Certamente, os eleitores aprovam as suas orientações europeias mas o movimento de Maïdan, antes de ser pró-europeu, era primeiramente um imenso protesto contra um sistema de governo. Ora Petro Porochenko vem desse mundo político, mesmo se, por oportunidade e por cálculo, o combateu estes últimos meses. É um bem estranho presidente, este que o Ocidente apoia contra as populações pró-russas.
A atitude da Rússia aparece hoje como bem mais responsável.
A Rússia apela ao cessar imediato das violências na Ucrânia, enquanto que os combates, opondo o exército aos insurrectos pró-russos para conseguir o controlo do aeroporto de Donetsk, no Leste do país, fizeram pelo menos uma quarentena de mortes adicionais do lado das forças Kiev e cerca de trinta mortes do lado dos russos. Aquando de uma conversação telefónica com o chefe do governo italiano, Matteo Renzi, “Vladimir Putin sublinhou a necessidade de pararem de imediato com a operação punitiva do exército nas regiões do Sudeste e de se pôr rapidamente em marcha um diálogo pacífico entre Kiev e os representantes das regiões ucranianas”, indicara o Kremlin num comunicado.
“A tarefa número um e o teste da solidez das autoridades de Kiev, tendo em conta o resultado da eleição presidencial, é o cessar imediato da utilização do exército contra a população e o cessar de hostilidades, por todas as partes, de toda e qualquer violência”, declarou anteriormente o chefe da diplomacia russa Sergueï Lavrov aquando de uma conferência de imprensa.
O que pensam as democracias que apoiam o oligarca do chocolate que vinha do frio?
Jean Bonnevey, revista Metamag, UKRAINE: FAUDRA-T-IL BOMBARDER KIEV? Certaines populations n’intéressent pas la communauté internationale !
28 de Maio de 2014,
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Illustration en tête d’article : La bataille pour le contrôle de l’aéroport de Donetsk avait commencé lundi par l’entrée en action d’avions de combat Mig-29 et Soukhoï-25
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