Deparei-me com artigo muito interessante de autoria de Simoe Caputo Gomes com o título “O arquipélago “literopintado”: escritura literária de autoria feminina em Cabo Verde”, publicado em SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 14, n. 27. p. 93-103, 2º sem. 2010.
Exposição “Arte no Feminino” em alusão ao Dia da Mulher Cabo-verdiana- 2013
Pesquisando mais encontrei o site http://www.simonecaputogomes.com/cultura.htm. Nele pude constactar que a autora “ é Doutora em Letras, Literaturas de Língua Portuguesa, pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1988). Atualmente Professora Doutora da Universidade de São Paulo, de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Pesquisador Visitante Especial A da FAPERJ (1999-2001) no Setor de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora aposentada pela Universidade Federal Fluminense, de Literatura Portuguesa e Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, em 1995. Pós-Doutoramentos nas Universidades de Lisboa (Literaturas de Língua Portuguesa, 1994 e 1995-6) e Coimbra.
Dedica mais de 30 anos de pesquisa à Literatura e Cultura de Cabo Verde, tendo defendido sua dissertação de Mestrado (Uma recuperação de raiz: Cabo Verde na obra de Daniel Filipe) em 1979, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. A dissertação foi publicada como marco inaugural da Colecção TESE do Instituto Caboverdiano do Livro e do Disco, em 1993. A Professora e Pesquisadora foi agraciada, por decreto do Presidente da República de Cabo Verde datado de 4 de julho de 2007, com a mais alta condecoração cabo-verdiana: a Medalha da Ordem do Vulcão de Primeira Classe.”
Mas voltemos ao artigo.
Depois de analisar o papel das mulheres e cotidiano em Cabo Verde e de afirmar que muitas famílias têm como chefe de família uma mulher, informa-nos:
“Os dados do último censo indicam que a maioria das famílias cabo-verdianas habita as zonas rurais, particularmente tocadas pela pobreza, apresentando ainda baixo nível de instrução, escolarização e formação profissional. Cerca de 80% dos filhos nascem fora do casamento e, em 14% das famílias, a mãe solteira sustenta a casa e a família numerosa. Nas zonas rurais, mais de 60% dos chefes de família são mulheres e metade delas conduz explorações agrícolas; as demais são assalariadas nas cooperativas, no comércio e nas Frentes de Alta Intensidade de Mão de Obra – FAIMO, nas quais representam 60% em domínios como florestação, conservação de solos e águas. No que concerne à Educação, do total de analfabetos, a mulher representa cerca de 60% e, das mulheres chefes de família, 62,5% não têm qualquer instrução. O nível de escolarização impacta fortemente a variável natalidade, havendo uma diferença de quatro entre o número de filhos das mulheres menos instruídas e mais instruídas.” E continua dando-nos um panorama da evolução da emancipação feminina em Cabo Verde”.
Analisando várias obras, encontra os seguintes temas:
– A ilha-mãe, a fome e a mulher, guardiã e preservadora do patrimônio cultural do Arquipélago- Fátima Bettencourt, 1994 e 2001;
– A violência contra a mulher e a apresentação de a “Vênus do pó” – Maria Margarida Mascarenhas, 1988;
– A culinária identitária – milho, pratos típicos, fogão tradicional – Orlanda Amarílis, 1989;
– As velhas e a Esmola de Merca – Ivone Ramos, 1990
– Mulher anónima – Dina Salústio, 1994
E conclui:
As mulheres “Movendo-se entre o cantar e o contar, confundindo-se com a Terra, vão tecendo e semeando o passado e o futuro […] Só que, em “moto crescente” a partir dos anos oitenta, as mulheres cabo-verdianas passam a recortar a realidade segundo as suas vivências cotidianas, assumindo o seu protagonismo, a diagonal do seu olhar e a sua própria voz: “agora estão mais alegres, mais espontâneas, mais soltas e seguras” (BETTENCOURT, 2001, p. 237), o que lhes permite que “levem ao próximo milénio a mensagem do milénio mil, rica e sinuosa, vermelha como um grito, injusta e sombria, mas, acima de tudo, MULHER.” (DUARTE, 1993, p. 37).