A GALIZA COMO TAREFA -Relógios- Ernesto V. Sousa

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Quanto mais pressa mais devagar… não penso que ninguém na Galiza e menos os nossos avós se impressionassem quando Albert Einstein, esse filósofo da física moderna, anunciou entre outras muitas cousas que o tempo era relativo e que “depende” era a palavra mais lógica ao iniciar uma resposta.

Como não há de ser ser relativo o tempo, que uns perdemos uma e outra vez e outros aproveitam, para vir descobrir à volta de 20 anos que na realidade era a contrário. Relativo é tudo. Por mais mestres e escolas a que recorremos, não somos quem de conseguir- salvo engano ou complacência, como bem disse há muito o genial Sanches – certidões.

A gente lá vai vivendo e vai andando, enxergando o mundo sempre de jeito limitado, e contando segundo lhe vá, ou o posto que tiver, na féria e mercado do mundo. Foram muitos os anos, os séculos – escreveu o delicado Pimentel no seu Cunetas – necessários para fazer-nos a cada um de nós e aos nossos coletivos.

Muito tempo para ter feito cada gente de qualquer um presente, muitos os esforços, muitas as experiências, os pensamentos, os magistérios, os passos antes andados, os erros dos que se aprende; e tão delicado é tudo que um momento chega para destruir o labor de anos de construção.

¡Os milleiros de horas, de séculos,
que fixeron falla
para faguer un home!

Claramente convivem no tempo galego, na filosofia da gente, na nossa literatura, na ideia de língua e mesmo de projeto político e social dous ritmos de tempos, associados a diferentes sistemas gravitatórios. Uma hora galega, atlântica e comum a Portugal. Uma hora que não é, desajeitada, por se ajustar os relógios ao tempo da Espanha; e que vai marcando no calendário, ano a ano, mês a mês, dia a dia, hora a hora, minuto a minuto, segundo a segundo, até fixar um Sol-por de quase dous séculos com um tic-tac tristeiro, de lamento e destruição. Daí não poucos dos grandes poemas da nossa literatura e aquela sensação de desconcerto.

Terra querida, que sempre chegas tarde
ou chegas antes ou despois da História
e andamos foscos no correr do tempo.
Hai que romper, romper agora!

Antom Avilés de Taramancos (Última fuxida a Harar)

A outra medida do tempo é a dos trabalhos, a da experiência e os conselhos que revivemos e nos emergem na hora certa ao enfrontarmos o mundo, ao emigrarmos, ao tratarmos de entender situações ou procurar futuros. O relógio imenso da galeguidade, que se vai aos poucos entendendo, na sua complexidade de sombras, ciclos e eras, que só marca no porvir, desde os tempos de Antolin Faraldo, e Francisco Anhon uma hora de esperança: a alvorada, que é tempo de despertar.

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